sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cine Íris - 100 anos de resistência!


Hoje comemeora-se 100 anos da fundação do Cine Íris na rua da Carioca, Rio de Janeiro. Situado no tradicional centro velho da cidade, em um prédio tombado pelo patrimônio histórico, o cinema é famoso por apresentar todos os dias sessões de filmes eróticos entremeadas de shows de streap-tease. Nos fins de semana, o cinema recebe os moderninhos em famosas festas higth tech. As festas do cine Íris são famosíssimas na cidade!
O cine Íris é um exemplo de resistência cultural no Rio de Janeiro. Lembra nossa velha infância, quando íamos às matinès proibidas de filmes de sacanagem. Muitos desses cinemas "poeirinhas" viraram "Igrejas Universais do Reino do Edir Macedo". Em 1992 tentaram fazer o mesmo com o nosso querido Íris, mas, felizmente, o plano dos crentes logrou.
Desde então, o cinema apresenta as famosas sessões duplas ou até triplas de erotismo e sacanagem. Você entra, paga 9 reais e fica o dia todo. Como eram os cinemas antigamente, antes da ditadura dos shopping centers mercenários, onde você tem que pagar um preço exorbitante e assistir a apenas uma sessão e se chegar atrasado perde um bom pedaço do filme.
No Íris, você entra assiste aos filmes quantas vezes quiser. Quando dá a hora do show, a sessão é interrompida, mas quando o show acaba, o filme retorna de onde parou. Bom, gostoso e barato!
Hoje, na comemoração dos 100 anos, a sacanagem vai dar lugar a nostalgia. Em vez de filmes pornôs vão ser exibidos filmes-mudos e em vez de shows de streap-tease, shows revivendo o teatro de revista. Imperdível!
Muito bem, se você estiver de bobeira pelo centro da cidade, dê uma passada no Cine Íris,diversão e prazer na certa!

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Nova cara, mesmas broncas!


Olá leitores, seguidores e visitantes!
Temos quase um ano no ar. Durante este tempo eu quis fazer um blog que fosse interessante, informativo, original, contundente, inovador, etc. Mas, infelizmente, não consegui... talvez tenha chegado perto, sera? Talvez nem isso...
Quando a gente começa um blog, nossa intenção inicial é de escrever nele todos os dias, fazer como se fosse um diário. Porém, não escrever qualquer coisa. Só coisas interessantes. No nosso caso aqui seria escrever broncas, meter o pau mesmo!
Mas o que pode ser bronca para alguns, pode ser uma grande bobagem para outros...
O grande problema meu em escrever no blog, pasmem!, é que eu não tinha acesso livre a internet! É isso mesmo! Eu era um excluído digital como milhões de brasileiros! Não era um analfabeto digital, domino mais ou menos a ferramenta, porém não tinha acesso à internet em casa (que é o melhor lugar para meter bronca!) e dependia de lan houses, ciber cafés, casa de amigos, computador do trabalho, da faculdade, e onde mais tivesse uma banda larga dando mole. Mas postar textos interessantes e originais demanda tempo e tranquilidade para escrever. Já reclamei aqui e em outros oráculos que o brasileiro, apesar de ser campeão de internet, não utiliza esse instrumento poderoso que tem nas mãos de forma correta. Não aproveita tudo que a ferramenta oferece. A grande maioria fica nos orkut e msn da vida. Eu mesmo sou um! Tenho diversos perfis de orkut, dois perfis de msn, ainda tenho myspace, facebook, twitter, dois blogs. Administrar isso de forma interessante é meio complicado. Então... tome abobrinhas e bobagens!
A internet oferece milhões de opções de informação e entretenimento, mas a galera não sai do feijão com arroz!
Bem, mas o que eu queria dizer mesmo é que a partir de agora, já que não sou mais um excluído digital, tentarei postar textos bastante interessantes e contudentes neste espaço. Mas não exijam muito de mim, não sou jornalista!
Mudei o nome do blog, pois, "boca no trombone" é o título de vários blogs e tem um tão interessante e bem feito (também, pudera!, só tem fera escrevendo nele) que fiquei com vergonha do meu. Pesquisei e vi que não tem nenhum blog com o nome de "oráculo raivoso". E o nome condiz com a proposta deste blog. Vomitar besteira de forma raivosa!!!
Boa leitura! Ou não...

sábado, 10 de outubro de 2009

Obama é o cara?



Publicado no OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA


A imprensa americana reagiu com surpresa ao anúncio da entrega do Prêmio Nobel da Paz ao presidente Barack Obama. Colunistas foram rápidos em publicar artigos online classificando o prêmio de prematuro.

"O trabalho de Obama no Oriente Médio é sensato, mas ainda não produziu resultados. E certamente não se compara aos intensos esforços de Bill Clinton com suas negociações pela paz no Oriente Médio em 2000. Da mesma forma, os esforços de Obama pelo desarmamento nuclear são importantes, mas são basicamente uma aspiração. Todo o trabalho duro ainda está por vir", escreveu Nicholas Kristof, no site do New York Times.

No Washington Post, David Ignatius afirma que o Nobel concedido ao presidente parece meio ridículo. "Mesmo se você for um fã [de Obama], você tem que admitir que ele ainda não fez muito pela paz". O colunista destaca, entretanto, que o prêmio valida a estratégia tomada pela Casa Branca desde o primeiro dia de Obama no poder: a idéia de que os maiores problemas dos EUA com o resto do mundo vêm do "antiamericanismo" e de que a falta de popularidade do país no exterior é um grande problema de segurança nacional. O governo se concentrou, então, em posicionar Obama como o oposto de George W. Bush, ressaltando o fim da tortura, a ordem para o fechamento de Guantánamo, a data para a saída do Iraque, as negociações sobre as mudanças climáticas. A Europa, e os juízes do Nobel, parecem ter gostado do discurso, diz Ignatius. "É por isso que ele foi homenageado: por reconectar os EUA ao mundo e nos tornar populares novamente".

"Ele ganhou! Pelo que?", questiona a correspondente-chefe da Associated Press na Casa Branca, Jennifer Loven. "O comitê do Nobel citou como seu principal feito ‘um novo clima na política internacional’. O presidente se tornou ‘o principal porta-voz do mundo’, afirmou o comitê". Jennifer ressalta que, para um dos mais jovens presidentes americanos, no poder há tão pouco tempo – são menos de nove meses –, o prêmio é uma tremenda honra, mas lembra que ele "parece ser mais pela promessa representada por Obama do que por sua atuação".

Nancy Gibbs, da Time, concorda. "A última coisa de que Barack Obama precisa neste momento de sua administração e da nossa política é um prêmio por uma promessa", escreveu no site da revista. No Twitter, a editora e blogueira Ana Marie Cox afirmou que, "aparentemente, o Nobel agora é dado a qualquer um que não seja George Bush". Com informações de Greg Mitchell [Editor & Publisher, 9/10/09] e Garance Franke-Ruta [Washington Post, 9/10/09].

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Hollywood enganjada!!!



Texto publicado em "Observatório da Imprensa"

Quando o cinema vai à guerra

Por Lilia Diniz em 7/10/2009


Ditadores e democratas exploraram o potencial mobilizador das telas de cinema desde o seu surgimento, mas durante a Segunda Guerra Mundial, a sétima arte uniu-se aos aparelhos de Estado e foi à luta. O Observatório da Imprensa veiculado terça-feira (06/10) pela TV Brasil exibiu o segundo episódio da série de quatro programas especiais sobre os 70 anos do início do conflito, intitulado "Hollywood de Uniforme".

Desde a ascensão dos regimes fascistas ao poder até o último disparo, centenas de filmes foram produzidos tanto pelos países Aliados, quanto pelas potências do Eixo. De todos os centros de produção cinematográfica, Hollywood foi o mais emblemático. Abrigou imigrantes e refugiados e foi o responsável clássicos, como "Casablanca". E mesmo após os tratados de paz, a guerra continuou presente e foi tema de filmes inesquecíveis, como "A lista de Schindler".

No editorial que abriu o programa, Alberto Dines explicou que o cinema de Hollywood enfrentou o nazismo antes mesmo do início da guerra. Desde a chegada de Hitler ao poder, em 1933, artistas e intelectuais deixaram em massa a Alemanha e se refugiaram em diversos países. "A Alemanha enxotou os seus escritores e artistas. Hollywood, a capital da fantasia, a fábrica do sonho americano, os acolheu de braços abertos e com eles construiu um formidável auditório mundial", disse.

Dines explicou que este centro de produção cinematográfica foi construído por imigrantes que logo perceberam o perigo do nazismo. "A 2ª guerra mundial foi uma guerra total e graças ao cinema, principalmente graças a Hollywood, a retaguarda não ficou distante das frentes de combate. Todos eram soldados", avaliou.

O fascínio das massas

O cinema foi intensamente usado como arma de propaganda política pelo regime nazista. Na década de 1930, Leni Riefenstahl foi escolhida para realizar uma série de filmes para exaltar a superioridade ariana. As imponentes cenas dos documentários "Triunfo da Vontade" e "Olympia", que retratam uma Alemanha organizada e próspera dos anos antes da guerra, foram exibidas repetidamente pelo regime totalitário. "Ela queria ser atriz em Hollywood. Não conseguiu, mas tornou-se a cineasta de Hitler, subordinada diretamente ao Führer", explicou. Leni Riefenstahl não era nazista, mas era "fascinada pela estética das massas". Neste mesmo período, o Reich produziu alguns filmes antisemitas como "Judeu Süss" e "O Judeu Errante".

Mesmo antes do início oficial da guerra, com a invasão da Polônia pela Alemanha em setembro de 1939, Hollywood já voltava-se contra o nazismo. Desde 1937, a Warner Bros. produzia filmes abertamente anti-hitleristas. Luiz Carlos Merten destacou que por força da depressão, outros estúdios preferiam fazer comédias escapistas e musicais, mas a Warner sempre teve uma acentuada preocupação social. "Eles produziam filmes de gângster, eles produziam um ciclo de prisões, um ciclo de filmes sociais, de diretores como Marvin Leroy, Michael Curtiz. E foi a Warner o estúdio que primeiro começou a se preocupar com essa coisa". Outro centro de produção que desde cedo alertou o mundo para o perigo do nazismo foi a United Artists, um estúdio de artistas do qual Charles Chaplin era um dos fundadores.

Alerta ainda antes da guerra

Uma produção deste período deixou o Fürer especialmente furioso: "Confissões de um Espião Nazista". Dines destacou que mesmo com os protestos de Hitler, o filme foi exibido porque "nos Estados Unidos o cinema não era censurado pelo governo". Houve grande polêmica durante o processo de aprovação do roteiro. O crítico de cinema Ely Azeredo explicou que o sistema de censura interna dos estúdios de Hollywood dificultou a exibição dão filme.

"Joseph Brin que era o manda-chuva desse código de produção, procurou aconselhar a Warner de que eles poderiam perder o mercado na Europa com um filme dessa natureza e ponderava que Hitler criou um bem estar para o povo alemão. Enfim, colocando a Alemanha a ombrear com outras nações industriais. E que seria um erro comercial para a própria Warner. Ele falou, falou, mas os irmãos Warner bateram na mesa e disseram: ‘o filme vai’". Já em 1939, a Warner produziu "Sargento York", ambientado na Primeira Guerra Mundial. O personagem principal, interpretado por Garry Cooper, era um pacifista. "Ele tinha aquela decisão de não usar armas, de não combater. Sendo pacifista, ele acaba durante a guerra usando a arma, matando alguns semelhantes, e se convencendo de que em certas ocasiões, para salvar, outras vidas, é preciso matar", disse Ely Azeredo.

Na linha de frente da guerra aberta de Hollywood contra a suástica, estavam refugiados alemães e austríacos, como Fritz Lang, Otto Preminger, Robert Siodmak, Douglas Sirk, Michael Curtiz e Fred Zinneman. "Outro grande nome deste período é Billy Wilder", disse Dines. Seu filme "Cinco Covas para o Egito" tinha como tema a guerra no deserto. "Os aliados acabavam de desembarcar no norte da África. Era preciso comemorar as primeiras vitórias contra os nazistas desde a queda da França. O marechal Rommel havia sido abatido pelos ingleses e Billy Wilder escolhe para personificá-lo um dos maiores cineastas alemães, Erich von Stroheim",explicou Dines. De tanto interpretar nazistas, o ator acabou se transformando em um protótipo do militar alemão.

A contribuição dos refugiados

"Houve um momento em que toda aquela gente, todos aqueles refugiados, que tinham ido da Alemanha, da França todos aqueles diretores, roteiristas, fotógrafos etc, todos em Holywood começaram um trabalho de conscientização, que estava ocorrendo realmente, uma coisa incrível, horrível na Europa. E essa consciência foi se acentuando. O papel desses imigrantes europeus, foi determinante, foi muito forte", explicou Luiz Carlos Merten. Grandes diretores de Holywood fizeram documentários sobre o conflito, John Ford, por exemplo, que fez um filme registrando a batalha de Midlleway.

E entre os refugiados franceses, o preferido de Ely Azeredo é Jean Renoir, que fez um filme sobre a resistência da Noruega. "Em relação aos alemães, em filme pequeno de poucas ambições. Mas ele fez nos Estados Unidos em filme maravilhoso chamado ‘Amor à terra’. Um filme passado entre agricultores sobre o sul dos Estados Unidos, extremamente realista", avaliou o crítico de cinema. Para Azeredo, o cinema americano é um cinema de emigração, nunca é um cinema "All American".

O riso contra a barbárie

Impressionado com a Noite dos Cristais, quando em 1938 uma série de ataques destruiu sinagogas e lojas de judeus na Alemanha, Charles Chaplin decidiu produzir um filme ridicularizando Hitler. Em 1940, estreou "O Grande Ditador". O filme foi censurado em diversos países, inclusive no Brasil. Chaplin vive dois personagens no longa-metragem: um barbeiro judeu e o ditador Hynkel. Dines destacou que a semelhanças entre os bigodes de Chaplin e Hitler não foi casual. "No inicio da carreira como agente provocador, Hitler queria no rosto algo que o tornasse imediatamente reconhecido. Escolheu o bigodinho de Charlie Chaplin, o comediante mais famoso no mundo", disse.

O jornalista destacou que Hitler viu o filme duas vezes e ficou furioso, pois os Estados Unidos e a Alemanha ainda mantinham relações diplomáticas. "O ditador considerou o filme como uma agressão, as alusões eram diretas demais: Hitler era Adenoid Hynkel, Göring era Herring, arenque, Goebbels era Garbish (em inglês, lixo). Ao contrário de "Tempos Modernos", Chaplin usou e abusou do som e da palavra falada. Há dois discursos: um deles do ditador Hynkel, uma sátira em alemão caricatural imitando as falas delirantes e histéricas do Führer. O outro (naturalmente em inglês) é pronunciado através do rádio pelo barbeiro judeu, fingindo que é o ditador. Dirigido à sua amada Hannah que, na realidade, era a então mulher de Chaplin, a rebelde Paulette Goddard. Um dos textos mais bonitos do cinema, seis minutos de amor à humanidade, de fé e esperança num mundo sem guerras", avaliou.

You must remember this

Em 1942, estreou aquele que seria considerado como o filme mais emblemático da Segunda Guerra Mundial: "Casablanca". Protagonizado por Ingrid Bergman e Humphrey Bogart, o clássico da Warner Passado na cidade marroquina em poder dos franceses colaboracionistas mostra o dilema da personagem de Bergman dividida entre duas paixões. "A Suécia era neutra, mas a sueca Ingrid Bergman jamais vacilou em apoiar a causa anti-nazista", disse Dines. A produção do filme foi conturbada.

O roteiro era aprovado apenas na noite anterior às filmagens. "A história é toda implausível, escrita diariamente, a produção do filme inteiramente louca", comentou o crítico de cinema Sérgio Augusto. O final foi decidido pelo diretor Michael Curtiz durante a filmagem da última cena. Inesperadamente, o casal de protagonistas não termina junto. "Só o fato de o casal não ficar unido, haver uma renúncia isso já era uma grande novidade em Hollywood na época", disse Luiz Carlos Merten. O crítico de cinema explicou que o filme é carregado de códigos.

A produção de Hollywood não atingia apenas aos adultos. Ainda crianças no período da guerra, os escritores Luis Fernando Veríssimo e Moacyr Scliar contaram suas impressões para Dines. "Eu fiquei tão entusiasmado com aquilo que, nos meus brinquedos solitários, comecei a matar japoneses e alemães. Tanto, que até chegaram a me levar ao médico porque eu estava excitado demais com a guerra". Um filme que marcou Scliar foi "Passagem para Marselha", protagonizado por Humphrey Bogart, sobre a resistência dos franceses contra o nazismo. "Tem uma cena em que um jovem adolescente atingido por balas alemães morre gritando ‘vive la France e que a gente chorava. Aqueles filmes tinham uma grande capacidade de mobilizar o nosso sentimento, que era um sentimento nacionalista", relembrou.

A mobilização dos artistas

Artistas foram convocados para participar do esforço de guerra. Grandes nomes pegaram em armas e lutaram nos campos de batalha, como Clark Gable. Outro, fizeram parte do esforço de guerra holywoodiano, como Marlene Dietrich e Carmem Miranda. John Wayne, por exemplo, virou herói de guerra na memória dos espectadores, sem ter dado um único disparo durante a guerra, como contou o escritor Ruy Castro. Sérgio Augusto comentou a idéia das Cantinas de Holywood, que uniam oficiais, soldados e artistas em uma cavalariça alugada por Bete Davis. A iniciativa virou um filme: "Um sonho de Holywood". Os atores lavavam pratos e serviam os soldados para transmitir a idéia de união. Em uma cena do filme, ao saber que estava dançando com a atriz Joan Crawford, um soldado desmaia.

***

Hollywood de uniforme

Alberto Dines # editorial do programa n. 523, no ar 06/10/2009

Bem-vindos ao Observatório da Imprensa.

Adolf Hitler começou a guerra através do rádio e quem o enfrentou antes de todos foi o cinema de Hollywood. Os nazistas apostaram na delirante doutrinação da nação germânica certos da sua superioridade: sozinha conquistaria o mundo. Os nazistas não contaram com o mundo, não contaram com a humanidade e sua infinita capacidade de produzir aproximações.

Empenhados em expulsar os indesejáveis, os nazistas esqueceram-se da capacidade de resistência dos refugiados. O Nobel de Literatura Thomas Mann, um dos primeiros a deixar a Alemanha depois da ascensão de Hitler, disse que "os nazistas queimaram os livros que não saberiam escrever". A Alemanha enxotou os seus escritores e artistas. Hollywood, a capital da fantasia, a fábrica do sonho americano, os acolheu de braços abertos e com eles construiu um formidável auditório mundial.

Hollywood foi construída por uma comunidade de imigrantes e estes imigrantes perceberam o perigo antes dos estadistas. O representante da Warner na Alemanha, Joe Kaufmann, foi morto por vândalos nazistas no pogrom da Noite dos Cristais, em 1938. No ano seguinte, Jack Warner começava a produzir filmes antinazistas que culminaram com Casablanca, inesquecível combinação de romance e idealismo político.

A mesma Noite de Cristais levou Charlie Chaplin a transformar o adorável vagabundo chamado Carlitos, num militante humanitário. Hitler era um cinéfilo, assistiu-o, ficou furioso, nada podia fazer apesar do seu poderio militar. Seus histéricos discursos no rádio não chegavam ao mundo, ao contrário do discurso final de Chaplin, transformado num hino internacional da paz.

A Segunda Guerra Mundial foi uma guerra total e, graças ao cinema, principalmente graças a Hollywood, a retaguarda não ficou distante das frentes de combate. Todos eram soldados. Hollywood não permitiu que os campos de extermínio, a solução final e o holocausto fossem encobertos pelas comemorações da vitória. Neste momento, o cinema bélico deu lugar ao cinema-atrocidade.

Esta outra guerra talvez nunca saia de cartaz.

O "velho" e "chato" Simonal


Wilson Simonal sempre foi para mim um grande enigma. Nunca tinha ouvido sua música ( pelo menos achava que nunca tinha ouvido)e pensava se tratar da pior espécie de música brega ou de mau gosto. Quando perguntava a minha mãe, ela dizia que a música dele era legal e que ela cantava para mim e eu adorava...
Desconfia do bom gosto da minha mãe e ia na onda da Rita Lee e de toda a intelligentisia, para as quais o cantor era o pior exemplar da espécie humana. Afinal, Rita Lee dizia que ele era velho e chato na sua música "Arrombou a festa". Era, definitivamente, uma música ultaprassada.
Pior, era a antítese de um Chico Buarque, de um Caetano Veloso ou de um Geraldo Vandré (Depois eu descobri que Chico é Chico, Caetano é um vendido e deslumbrado e Geraldo Vandré e um... chato!).
Até que vieram os finais dos anos 90 e os filhinhos do Wilson se tornaram os darlings do meio artístico.
Aí eu pude sentir a força da música desse artista, sua voz e seu swing. Velha e chata é a Rita Lee! (Mentira, a Rita também é ótima! rs,rs).
Na verdade Simonal era um mulato famoso que andava em carrões e comia uma porção de loura. Isso ninguém perduou...

Com o filme Simonal – Ninguém sabe o duro que dei, começou a reabilitação de Wilson Simonal. Não se conclui outra coisa, quando se lêem os artigos publicados em todo o Brasil. Em todos os jornais, os críticos mais parecem uma orquestra afinada para uma só composição, para um só samba de uma nota só. Em toda a mídia se repetem as saudações ao documentário, à sua imparcialidade etc. etc.

Na Folha de S.Paulo, no texto com o título épico "Simonal refaz saga do cantor", entre outras coisas se escreve:

"Aconteceu no final de 1971. Por suspeitar que estivesse sendo roubado, o cantor teria mandado bater no contador de sua empresa. Só que o homem vai parar no Dops (Departamento de Ordem Política e Social, hoje extinto), onde é torturado. Não demora até que os jornais liguem as pontas – não necessariamente cobertos de verdade – e publiquem a manchete: `O cantor Wilson Simonal é informante dos órgãos de segurança do Estado´...

Mais que biografar a ascensão e queda meteóricas de um ídolo – e isso é feito de maneira empolgante –, o documentário reescreve a saga de Simonal para que, conhecendo finalmente sua história, o Brasil possa absolvê-lo de coisas que talvez ele nem sequer tenha feito."

Preconceitos raciais e sociais

Observem que:

1. O cantor "teria mandado bater no contador". Teria mandado, em lugar de mandou.

2. "...o homem vai parar no Dops (Departamento de Ordem Política e Social, hoje extinto), onde é torturado". Por acidente, ele foi parar no Dops.

3. "...o documentário reescreve a saga de Simonal para que, conhecendo finalmente sua história, o Brasil possa absolvê-lo de coisas que talvez ele nem sequer tenha feito". Absolvê-lo... Não demora, a família entrará com processo na Anistia.

Por falar em anistia, artigo no Jornal do Commercio, do Recife, é mais explícito:

"A chance de anistia de Simonal – Filme conta história de cantor que morreu com fama de dedo-duro, mas foi mesmo uma vítima da intransigência."

No UAI, de Minas, a reabilitação continua:

"Nos dias de hoje, a maioria das pessoas que conhecem o assunto acredita na tese de que Wilson Simonal foi derrubado por uma rede de boatos, somada a preconceitos raciais e sociais que levavam, em muitos grupos, a um estado de desconforto frente ao sucesso do cantor. Simonal pende nitidamente para este lado."

Condenado ao ostracismo

No Jornal do Brasil, do Rio, o mesmo samba:

"Com um design e produção impecáveis, o trio de diretores Cláudio Manuel, Micael Langer e Calvito Leal tenta também trazer à tona a perseguição que o cantor sofreu, após a suspeita de que ele estava a serviço do Dops, na época da ditadura. Recheado de entrevistas, o filme tem o mérito de ser, em grande parte, imparcial. Mas faltam depoimentos e nomes de artistas que efetivamente promoveram o boicote... Numa montagem esperta, o papel de bicho-papão ficou só com os jornalistas do Pasquim que participam do filme: Sérgio Cabral, Ziraldo e Jaguar. Este último, em destaque, é colocado pela edição nos momentos antagônicos, em contraponto a considerações positivas sobre o cantor. Seria alguma forma de revanche? O público é quem decide."

Em O Globo, entre outras louvações, transcrevem-se as palavras de Nelson Motta, "Simonal virou um tabu, um leproso, um pária..." Mas o modo mais parcial vem do Guia da Semana, de São Paulo, em editorial (!):

"No início da década de 70, Simonal percebeu que estava sendo roubado por seu contador. De pavio curto, o cantor contratou um grupo para dar uma surra no traidor. Porém, o episódio envolveu agentes do Dops, e o obscuro fato fez com que se espalhasse a notícia de que o músico era informante do regime militar. Sem provas contra ou a favor do artista, Simonal foi condenado ao ostracismo, morrendo como um desconhecido em 2000."

Só falta absolver o cabo Anselmo

Parece ter desaparecido no espaço o texto de Mário Magalhães, quando era ombudsman na Folha de S.Paulo, em 30 de março de 2008:

"A verdade: em 1974, Simonal foi condenado por surra dada em um contador. No processo, levou como testemunha sua um detetive do Departamento de Ordem Política e Social do Estado da Guanabara. Ele assegurou que o cantor era informante do Dops. Outra testemunha de defesa, um oficial do 1º Exército, jurou que o réu colaborava com a unidade. O juiz sentenciou: Simonal era `colaborador das Forças Armadas e informante do Dops´. Em 1976, acórdão do Tribunal de Justiça do RJ reafirmou a condição de `colaborador do Dops´. Não foram inimigos que inventaram a parceria com o regime, exposta sem reservas pelos amigos de Simonal, que se dizia ameaçado por gente ligada `a ações subversivas´."

Pelo andar da carruagem, não demora vão fazer um documentário que absolva o cabo Anselmo. Com a repercussão em uma só nota de toda a imprensa. Como agora, no filme desta semana: Simonal, a reabilitação.