quarta-feira, 17 de março de 2010

PALPITE INFELIZ!




Quem é você, Caetano, que não sabe o que diz?


Por Walmir Pimentel


Antes de tudo, já peço desculpas sobre a minha fala chula e irritada,
mas, preciso dizer alguma coisa sobre o vídeo tendencioso de Caetano. Me
perdoem desde já a pretensão, aliás, quem sou eu.?
Sem querer ser o outro lado da ferradura no discurso sobre preconceito
racista, social, econômico ou seja lá que preconceito for, Caetano é um
gênio - historicamente - promovido pela polêmica (mas que tem seu valor,
desde a tal Tropicália). A defesa dos "americanizados da bossa nova"
(Carlos Lira, Edu, Tom - o único gênio desse frenesi - Vinícius...), já
diz tudo e, é muito sintomático. José Ramos Tinhorão, um dos maiores
teóricos do samba, junto com o velho Sérgio Cabral, meteram o pau nessa
tendência modista de bossa nova, e não menos João Batista de Mello, (e que
não há como negar uma beleza artificializada e Ianque consumista), porque foi
uma apropriação descabida e maldita do nosso samba duro, de partido, sendo
maquiado para ser digerido pela classe média medíocre carioca dos anos 50 e
60. E foi isso mesmo! Os defensores da "Bossa Nova" - que de nova só tinha o
nome - foram tão covardes com nossos ícones da MPB que, tempos depois, acabaram
indo beber a ´"água de Zé Ketti, de Candeia, de Cartola, de Pandeirinho, de
Ventura, de Zé com Fome e tantos outros que, por carência financeira ou
interesses particulares, venderam primores a esses caras do Alto Leblon e
adjacências abastadas do RJ a preço de banana.
FEITIÇO DA VILA é uma canção em meio a uma "demanda" entre Noel e Wilson
Batista sim, mas, durou 3 anos e nada tem de racismo velado nem declarado -
ao contrário da defesa inconteste que Caetano faz ao Ilê Aiê, como bloco
que só desfila negro no carnaval da Bahia - e vá ao Bairro da Liberdade
confirmar o que digo!
Ninguém diz que Wilson planejou a rixa para se auto promover, visto que
Noel já era consagrado no meio do samba. E mais, ninguém diz também que foi Wilson
quem começou a polêmica, com sua canção "Lenço no Pescoço" que exaltava a
vadiagem meliante, a boemia bandida e caçada pelo estado. E não a vida
humilde e digna do morador do morro, como trabalhador, poeta, pai de
família...

Caetano é de sazonalidade conveniente a ele próprio e, digo isso, embora
seja fã desse dissimulado, em certas canções. No momento em que fez essas
críticas absurdas a música de Noel, devia estar dando "em cima" de
(perdoem-me a grosseria) algum sociólogo xiita, ou algum membro do PSTU ou
querendo sua fatia nos direitos autorais do povo Bossa nova ( ou estava
flertando com algum filho do Wilson). Ridículo e, por isso que João Nogueira
o ESCULACHOU com a cantiga IÔiÔ!!!! Mas, para quem canta no Carnegie Hall
"Áh, um tapinha não dói..". - se dizendo moderno e Kit - o vídeo é pinto!

Não há em lugar nenhum,, receita nem dogma que, afirmem a necessidade de ser
BANDIDO ou DOUTOR para ser sambista. O SAMBA É SEPARADO DAS BOBAGENS HUMANAS.
OS bobos da Bossa nova podiam até ser bons sambistas, se não fossem bons
lacaios modistas ianques....quem sabe?

Vamos as músicas que iniciaram a polêmica em 1933 e, marcaram também uma das
mais ricas parcerias do mundo do samba, que talvez CAETANO (IÔIÔ) NÃO SAIBA:







LENÇO NO PESCOÇO - 1933
(Wilson Batista)

Meu chapéu do lado
Tamanco arrastando
Lenço no pescoço
Navalha no bolso
Eu passo gingando
Provoco e desafio
Eu tenho orgulho
Em ser tão vadio

Meu chapéu do lado...

Sei que eles falam
Deste meu proceder
Eu vejo quem trabalha
Andar no miserê
Eu sou vadio
Porque tive inclinação
Eu me lembro, era criança
Tirava samba-canção
Comigo não
Eu quero ver quem tem razão

Meu chapéu do lado...

E ele toca
E você canta
E eu não dou
Ai, meu chapéu do lado...


FEITIÇO DA VILA - 1934
(Noel Rosa - Oswaldo Gogliano [Vadico])

Quem nasce lá na Vila
Nem sequer vacila
Ao abraçar o samba
Que faz dançar os galhos
Do arvoredo
E faz a lua nascer mais cedo!

Lá em Vila Isabel
Quem é bacharel
Não tem medo de bamba
São Paulo dá café,
Minas dá leite
E a Vila Isabel dá samba!

A Vila tem um feitiço sem farofa
Sem vela e sem vintém
Que nos faz bem...
Tendo nome de Princesa
Transformou o samba
Num feitiço decente
Que prende a gente...

O sol da Vila é triste
Samba não assiste
Porque a gente implora:
Sol, pelo amor de Deus,
Não venha agora
Que as morenas vão logo embora!

Eu sei por onde passo
Sei tudo que faço
Paixão não me aniquila...
Mas tenho que dizer:
Modéstia à parte,
Meus senhores, eu sou da Vila!

Nesta exaltação ao bairro de Vila Isabel, podemos sentir claramente a
boemia, tão presente na vida de Noel Rosa e responsável pelo agravamento de
sua doença (tuberculose). Na canção, Noel implorava para que o sol não
nascesse, pois a roda de samba terminaria e as mulheres iriam para casa.
Vale destacar também a beleza da imagem de galhos balançando ao som do
samba.

Tendo o nome de PRINCESA é só porque toda aquela região foi batizada com nome de
abolicionistas, personagens do período abolicionista e/ou afins. Quem
conhece Vila Isabel e os nomes de suas ruas, sabem o que estou dizendo (O
que não é o caso de IÔIÔ CAÊ)

Outra referência interessante é feita à política do café com leite de São
Paulo e Minas Gerais. Apesar de a política ter se encerrado em 1930, ela
ainda estava bastante presente na memória das pessoas.

No programa Case, da Rádio Sociedade do Rio de Janeiro, Noel criou novos
versos para o já sucesso Feitiço da Vila. Esses versos são fundamentais para
entendermos a provocação seguinte de Wilson Batista:

*Versos adicionais de Feitiço da Vila*

Quem nasce pra sambar
Chora pra mamar
Em ritmo de samba.
Eu já saí de casa olhando a lua
E até hoje estou na rua.
A zona mais tranqüila
É a nossa Vila
O berço dos folgados;
Não há um cadeado no portão
Porque na Vila não há ladrão.

Nos novos versos, Noel fez uma volta à infância, não só na referência ao
choro pra mamar em ritmo de samba, mas, sobretudo, aos tempos em que a Vila
Isabel gozava a má fama de atrair ladrões. Segundo Noel, esse tempo já teria
passado, e o bairro podia se orgulhar de dormir sem cadeado nos portões.
Nesse momento, Wilson Batista viu uma oportunidade de entrar novamente em
ação.

Desde que sua canção Mocinho da Vila fora ignorada por Noel, Wilson Batista
estava fora de cena. Ainda fiel ao sonho de ser famoso e sabedor de que
nenhum compositor popular brasileiro estava tão em evidência quanto Noel,
Wilson não perdeu tempo e escreveu Conversa Fiada:

CONVERSA FIADA - 1935
(Wilson Batista)

É conversa fiada
Dizerem que o samba
Na Vila tem feitiço.
Eu fui ver pra crer
E não vi nada disso.
A Vila é tranqüila,
Porém é preciso cuidado:
Antes de irem dormir,
Dêem duas voltas no cadeado.
Eu fui lá na Vila ver o arvoredo se mexer
E conhecer o berço dos folgados.
A lua nessa noite demorou tanto,
Assassinaram-me um samba.
Veio daí o meu pranto.

Noel não podia ignorar a nova canção. O ajustamento de ritmo e a bela
melodia já continham elementos que permitiam antever o grande sambista que
Wilson Batista seria. A música era indiscutivelmente bem-feita, e o bairro
de Vila Isabel tinha sido debochadamente atacado.

O contra-ataque tinha que ser definitivo, mortal e em grande estilo. Veio na
forma de um samba intitulado Palpite Infeliz - um dos mais populares e bem
elaborados de toda a obra de Noel.

PALPITE INFELIZ - 1935
(Noel Rosa)

Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também.

Fazer poema lá na Vila é um brinquedo,
Ao som do samba dança
até o arvoredo.
Eu já chamei você pra ver,
Você não viu porque não quis
Quem é você que não sabe o que diz?
Quem é você que não sabe o que diz?
Meu Deus do céu, que palpite infeliz!
Salve Estácio, Salgueiro, Mangueira,
Oswaldo Cruz e Matriz
Que sempre souberam muito bem
Que a Vila não quer abafar ninguém,
Só quer mostrar que faz samba também.

A Vila é uma cidade independente
Que tira samba mas não quer tirar patente.
Pra que ligar a quem não sabe
Aonde tem o seu nariz?
Quem é você que não sabe o que diz?

Obra-prima da música brasileira, o samba ficaria para sempre na memória do
povo e de Wilson Batista. Logo no primeiro verso, Noel chama atenção para o
fato de o rival ainda não ser tão conhecido: "Quem é você que não sabe o que
diz?".

Mais do que provocativa, Palpite Infeliz também é uma obra integradora, que
promove a confraternização do mundo do samba. A canção defende a Vila Isabel
com elegância, sem colocá-la acima de Estácio de Sá, Salgueiro ou Mangueira.
Para Noel, a disputa estava encerrada. Já Wilson pensava diferente, e a nova
resposta veio com um golpe baixo intitulado Frankenstein da Vila. O samba
era uma pilhéria com Noel, satirizando a sua feiúra provocada pelo defeito
que tinha no queixo, causado por um acidente na hora do parto.

FRANKENSTEIN DA VILA - 1936
(Wilson Batista)

Boa impressão nunca se tem
Quando se encontra um certo alguém,
Que até parece o "Frankenstein".
Mas, como diz o rifão,
Por uma cara feia,
Perde-se um bom coração.

Entre os feios estás na primeira fila,
Eu te batizo "Fantasma da Vila".
Essa indireta é contigo,
E depois não vás dizer
Que eu não sei o que digo.
(Sou teu amigo)

Algumas testemunhas afirmam que Noel não deu importância ao samba, achando
até graça do deboche. Outros garantem que a história não foi bem assim.
Cícero Nunes, companheiro de muitas cervejadas, jura ter visto Noel chorar
ao tocar no assunto. Ainda no mesmo ano, Wilson escreveu Terra de Cego, e
cantou o samba para Noel no Café Leitão:

TERRA DE CEGO - 1936
(Wilson Batista)

Perde a mania de bamba
Todos sabem qual é
O teu diploma no samba.
És o abafa da Vila, eu bem sei,
Mas na terra de cego
Quem tem um olho é rei.
Pra não terminar a discussão
Não deves apelar
Para um barulho na mão.
Em versos podes bem desabafar
Pois não fica bonito
Um bacharel brigar.

Noel gostou da melodia, mas pediu para trocar a letra no próprio botequim.
Como Wilson também havia andado de namoro com Ceci - uma antiga paixão de
Noel Rosa -, a nova letra foi dedicada a ela. Com a música pronta, Noel
viveu um "amor de parceria": a mulher era Ceci; o parceiro, Wilson Batista.

DEIXA DE SER CONVENCIDA - 1936
(Noel Rosa - Wilson Batista)

Deixa de ser convencida
Todos sabem qual é
Teu velho modo de vida.
És uma perfeita artista, eu bem sei,
Também fui do trapézio,
Até salto mortal
No arame eu já dei.
(Muita medalha eu ganhei!)
E no picadeiro desta vida
Serei o domador,
Serás a fera abatida.
Conheço muito bem acrobacia
Por isso não faço fé
Em amor, em amor de parceria.

Era o fim de uma briga musical da qual pouca gente tomou conhecimento na
época (com exceção do meio artístico). É difícil saber até que ponto Noel
guardou alguma mágoa ou ressentimento, principalmente com relação ao samba
Frankenstein da Vila. Quanto a Wilson, façamos justiça: não foi por causa da
rixa que ele se tornou alguém na vida. Seu tempo chegou pelo próprio
talento. Noel faleceu em maio de 1937. A Wilson ficou saudade, respeito e
grande admiração.

Antes de morrer, em 1968, Wilson Batista viu a briga com Noel virar disco
nas vozes de Roberto Paiva e Francisco Egídio (Polêmica, 1956). O compositor
também fez alguns sambas com menções a Noel Rosa. Entre eles, podemos citar
Quero um Samba e Terra Boa.

QUERO UM SAMBA
(Wilson Batista - Waldemar Gomes)

Diga para o dono do baile
Que nós queremos sambar
A noite inteira sem tocar um samba
Nem parece que estamos no Rio,
A terra de Sinhô e o berço de Noel...

TERRA BOA
(Wilson Batista - Ataulpho Alves)

Terra de Santos Dumont
Carlos Gomes, Ruy Barbosa,
Grande Duque de Caxias,
Castro Alves, Noel Rosa...

LOGO GENTE, HÁ COISAS QUE IÔIÔ FALA QUE NÃO DEVEMOS DAR OUVIDOS, NEM
CRÉDITOS. POIS, VEZ EM QUANDO ELE PENSA COM O CÉREBRO DO TESÃO ANAL - QUE
INFELIZMENTE, ELE PRÓPRIO DISCRIMINA PELO VIÉS INSANO DE SUA
INTELECTUALIDADE AGUDA, RELATIVA E POLÊMICA.

sábado, 6 de março de 2010

Vamos exorcisar esse DEMônio!


Agora o DEM acaba?
do blog Futepoca

Até 2008, o Democratas, ex-Partido da Frente Liberal (PFL), tinha os prefeitos de duas capitais e um governador de estado. Muito menos do que no período em que compunha, como parceiro prioritário, o governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A mudança de nome, em 2006, foi parte de uma estratégia de redefinir funções e superar o ranço anacrônico e desgastado que povoava o imaginário do eleitor sobre a turma que já foi Arena e PDS.

César Maia teve seu mandato encerrado, passando a bola a Eduardo Paes no Rio de Janeiro. Ficaram Gilberto Kassab, reeleito em São Paulo, e José Roberto Arruda, no Distrito Federal.

Este último sequer reside nas fileiras do partido. Em meio à maior crise político do DF, Arruda está preso há 23 dias, desde quando também se licenciou do cargo. Antes, havia se desfiliado para evitar uma expulsão. Era cotado para ser vice do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), por analistas – o que deu origem ao "vote em um careca e leve dois".

No dia 22 de fevereiro Kassab foi cassado. A decisão foi publicada apenas nesta terça-feira, 22, no Diário Oficial. Os advogados de defesa tiveram já dois dias para preparar os recursos e reverter, por liminar, a sentença do juiz Aloísio Sérgio Resende Silveira, da 1ª Zona Eleitoral. Situação semelhante passaram 13 vereadores da capital, todos da base de Kassab – outros três aguardam julgamento.

O problema são doações de R$ 9,6 milhões, um terço do total arrecadado pela campanha, de fontes consideradas irregulares pela Procuradoria Regional Eleitoral de São Paulo. Mesmo antes do anúncio, Kassab manifestava a assessores a certeza de que seria, de fato, cassado, mas poderia reverter tudo na segunda instância.

É no Tribunal Regional Eleitoral que moram as esperanças do DEM.

Seus dois expoentes em cargos do Executivo estão na berlinda. Os dois tiveram vínculos com Serra, até por estarem nessa posição de destaque. A possibilidade de o DEM indicar o vice de uma chapa tucana pode ser atrapalhada. Aliás, o Kassab formou chapa com o tucano na disputa à prefeitura, além de ter conseguido seu apoio informal mesmo com uma candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao cargo.

Elos com Serra à parte, dos 14 senadores do DEM, oito têm seus mandatos em disputa neste ano. Para um partido que viu sua bancada cair de 84 de 2006 para os atuais 56 em exercício (foram 19 eleitos a menos e nove abandonaram o barco desde então). Naquela disputa, o agrupamento miguou de um partido grande para um médio.

Em meio a sua maior crise pelo menos desde que mudou de alcunha e com riscos de não ter um nome de peso para compor uma chapa com um José Serra – que já acumula desgastes demais para um ano eleitoral que nem passou do segundo mês –, será exagero se perguntar se agora o DEM acaba?

Em tempo, ninguém aqui falou em "se ver livre dessa raça" e muito menos que está "encantado" com a seqüência.

Em tempo 2: Kassab conseguiu efeito suspensivo da decisão. Até que o Tribunal Regional Eleitoral (TRE) se pronuncie, ele mantém-se no cargo.

Fonte: Futepoca

quinta-feira, 4 de março de 2010

Dilma vem aí!


O passeio eleitoral da candidata de Lula

Por Hamilton Octavio de Souza




A campanha eleitoral de 2010 já está nas ruas. Pelo menos a presidencial, mais atraente do que as dos governos estaduais e as legislativas – para deputados e senadores. Claro que o processo demanda articulações, combinações partidárias, acordos de correntes e de grupos oligárquicos. Em dois ou três meses o quadro todo estará definido, embora já se tenha um panorama bem próximo do que vai acontecer. Salvo, é claro, que apareça alguma zebra, o que tem sido cada vez mais raro no esquemático jogo de forças da política brasileira.

Tudo indica que a candidata do presidente Lula, a ministra Dilma Rousseff, vai levar de goleada, vai dar um passeio tranqüilo e sem maiores surpresas. Não há nada que indique sobressaltos. Afinal, ela é ministra de um governo aprovado pela grande maioria, que vai de gregos a troianos, e foi indicada por um presidente que é quase unanimidade nacional e internacional. Ele não é “o cara”? Portanto, não há maiores resistências à vista, desde a faixa da miséria até a fina flor da elite empresarial, desde o interior mais escondidinho do nordeste até o mais exuberante edifício da Avenida Paulista.

Os petistas, mesmo que não tenham participado ativamente da escolha da candidata, a aceitaram com naturalidade, entenderam logo que têm nas mãos um trunfo espetacular, uma possibilidade de ouro como nunca antes aconteceu no Brasil. Por isso mesmo, a militância não precisa ficar tensa, nem de longe perder o sono. Pode confiar, com tranqüilidade, que a eleição está garantida, o Brasil continuará no mesmo rumo, e o que foi consolidado até hoje será fielmente preservado, não haverá nenhum retrocesso.

Ninguém precisa ser um Bolivar Lamounier para analisar os fatos que sustentam essa convicção. Não se trata de prepotência ou bravata dos grupos dominantes. O que manda mesmo é a voz do povo e a força de todos aqueles que contribuem para a construção da candidatura e que influenciam decisivamente no resultado das eleições. Basta lembrar que a base parlamentar do atual governo é muito ampla, consistente e diversificada, vai desde o PT e o PCdoB até o PTB do Roberto Jefferson e o PP do Paulo Maluf, vai desde gente muito decente até os mais corruptos e atrasados caciques do coronelismo.

As pesquisas indicam – sem qualquer vacilação – que a força do presidente Lula no norte-nordeste brasileiro é imbatível, em parte porque é lá que está concentrada a massa do Bolsa-Família, que não tem condição de sobrevivência sem o programa governamental; em parte por causa das muitas obras de grande valor econômico, como a transposição do Rio São Francisco, a construção da hidrelétrica de Belo Monte e tantas outras; e em parte porque as alianças com as principais lideranças dessas regiões, como José Sarney, Renan Calheiros, Jader Barbalho (e tantos outros), devidamente fortalecidas, asseguram um bom desempenho no jogo eleitoral.

É preciso considerar, também, a força das classes trabalhadoras, de todos aqueles que produzem a riqueza e que participam do desenvolvimento sem maiores conflitos com o sistema, na medida em que integram a base de apoio do governo. Salvo algum engano, as principais centrais sindicais devem apoiar a candidata do presidente, mesmo que não venha a ser aprovada a redução da jornada de trabalho para 40 horas e nem a mudança no cálculo das aposentadorias. Espera-se, inclusive que as centrais ajudem a campanha oficial sem tumultuar a governabilidade e sem exigências que possam causar algum embaraço eleitoral junto aos setores empresariais. Proposta estatizante, nem pensar.

Por falar no empresariado, é bom que se diga: ninguém deve se preocupar. A turma do capital está feliz da vida, já que, apesar da crise econômica mundial, o governo brasileiro tem sido extremamente generoso, deu para eles o apoio máximo do Estado, dinheiro farto do BNDES (com juro de pai para filho), isenções de impostos, reescalonamento de dívida, enfim, todo aquele gás que tem girado a roda do capitalismo, contribuído para aumentar o lucro, acumular riquezas, concentrar patrimônios e poderes. Assim, a candidata do presidente pode ficar mais do que sossegada. Não haverá nenhuma debandada empresarial, muito menos da Vale, Gerdau, Votorantim, Camargo Correa, Odebrecht, Andrade Gutierrez e tantas outras. Entre os banqueiros, igualmente, todos estarão unidos nessa mesma caminhada rumo a novos recordes de lucros. A campanha pode contar, desde já, com a força do Bradesco, Itaú, Santander etc.

Para encurtar a história, é bom todo mundo saber que a candidata do presidente conta com o apoio sincero das grandes corporações estrangeiras, transnacionais e de todos os investidores do mundo que apostam no desenvolvimento do Brasil. Eles não têm do que reclamar, pois aprenderam a confiar na gestão de Henrique Meirelles no Banco Central e nas relações com os grupos políticos e econômicos que atuam no atual governo. Para eles, não se deve mexer em time que está vencendo, especialmente quando protege tão bem os investidores. Não é surpresa também que até mesmo o governo dos Estados Unidos, normalmente tão hostil com os povos da América Latina, esteja torcendo pela candidata do “cara” – afinal, desde os tempos do “companheiro” Bush que o Brasil tem sido um excelente parceiro do irmão do norte. Essa relação fraternal vai continuar.

Enfim, considerados os diferentes argumentos, não há porque duvidar de que a eleição será mesmo um passeio para a candidatura oficial. Antes que se esqueça, é preciso colocar algumas linhas sobre a oposição: a da direita, constituída basicamente pelo DEM e PSDB, é algo ridículo, sem expressão popular, perdeu o eixo junto com a derrocada do fundamentalismo neoliberal, está mais esclerosada que o seu maior guru – o ex-presidente FHC. Não vai ameaçar eleitoralmente ninguém, mesmo porque tem em suas fileiras alguns lulistas de carteirinha, entre eles o governador mineiro Aécio Neves. As demais filiais da direita nasceram sem bandeiras e tendem a ficar sem eleitores. Nem mais a poderosa FIESP quer saber da tucanalhada.

Dividida, a esquerda vive em esquizofrenia. Uma parte acha que vale a pena apostar na candidata do presidente, insistir nessa composição esdrúxula que tem fortalecido o capital e as oligarquias, assegurar espaço institucional sem maiores transformações. Em curto prazo tal opção representa a sobrevivência política de cada um, mas no longo prazo pode ser apenas a perpetuação do modelo. Outra parte da esquerda ainda tateia na construção de alternativas – não somente eleitoral, partidária e política, mas fundamentalmente de projeto de Nação.

Essa divisão no campo da esquerda deixa claro que não será desta vez que o povo brasileiro emplacará um presidente realmente comprometido com o programa popular, democrático e socializante. Assim, os apoiadores da ministra podem ficar bem mais tranqüilos, porque a esquerda que está fora do bloco governamental não representa a menor ameaça à candidatura dela. De jeito nenhum. A eleição da ministra Dilma Rousseff está mais do que garantida. São favas contadas. O Brasil continuará no mesmo rumo. Todos podem agora dormir serenamente. A não ser que, num passe mágico, as pessoas acordem da letargia.

*Hamilton Octavio de Souza é jornalista, editor da revista Caros Amigos e professor da PUC-SP

Fonte: Caros Amigos

terça-feira, 2 de março de 2010

Israel e seus vizinhos




Por Michael Neumann


Nos últimos anos, o sionismo e a ocupação têm sido criticados. A fala laudatória dos EUA pró-Israel não deve enganar ninguém: a maioria, em todo o mundo, está ouvindo também as críticas a Israel, e mais as críticas que a louvação. Mesmo aliados pressupostos eternos e inabaláveis de Israel sabem que é preciso por fim à ocupação da Palestina; a maioria dos israelenses também pensa assim.

Por mais que a maioria dos críticos mais azedos goste de pensar que não, o governo dos EUA – o braço executivo do governo, com certeza – já aprendeu que sim, é preciso por fim à ocupação da Palestina. Quanto à imensa ajuda que não para de chegar a Israel, é preciso considerar dois pontos. Primeiro, os EUA dão praticamente a mesma quantidade de dinheiro e de ajuda militar também aos Estados árabes e ao Paquistão – e vendem armamento de alta tecnologia aos Estados do Golfo. Segundo, a ajuda é parte de um patético esforço para subornar Israel e tentar que encontrem alguma espécie de acomodação razoável com o mundo árabe.

Para uns, a tentativa é patética, porque falsa. Essa visão é perversamente otimista e pressupõe um componente de fé curiosamente abundante na esquerda: a idéia de que os EUA sejam um colosso que poderia, num estalar de dedos, submeter todos os pigmeus que os cercam. Pense-se o que se pensar sobre o poder dos EUA em geral, essa idéia não se aplica ao relacionamento com Israel. Nem o poder de todo o mundo ocidental bastará para submeter Israel.

Israel não é apenas potência nuclear: é uma das principais potências nucleares do planeta. Ainda mais: é a única potência nuclear que brinca com a possibilidade de usar armas atômicas, mesmo que isso implique suicídio. Os estrategistas de Israel, talvez certos de contar com a aprovação divina, chamam a isso “opção Sansão”. Com um pouco de loucura e sorte, Israel pode, sim, detonar um muito assustador primeiro ataque nuclear contra qualquer potência da Terra. Não o fará, é claro, mas esse “é claro” depende de todos termos certeza de que nenhuma potência nuclear usará força militar para obrigar Israel a fazer seja lá o que for. No caso de Israel, nenhuma pressão implica suficiente pressão.
O que aconteceria, então, se os EUA fechassem a torneira da ajuda a Israel? Os que criticam Israel, inclusive alguns israelenses, mostram-se cada dia mais furiosos em sua exigência de que se feche, de vez, aquela torneira. Outra vez, o mesmo otimismo perverso.

Não há dúvidas de que Israel considera imensamente conveniente a ajuda que recebe dos EUA. Mas os EUA também consideram Israel imensamente conveniente. O establishment de defesa israelense não só produz, mas também desenvolve muitas capacidades que são vitalmente importantes para os EUA, dentre as quais os sistemas anti-mísseis, os robôs teleguiados (drones) e inúmeras soluções de ‘ciber-armas’. Por isso, sanções econômicas não funcionarão contra Israel. O país é dono de tecnologia abundantíssima e de armas e equipamento bélico que o mundo faria fila para comprar, praticamente a qualquer preço. Israel não é capaz apenas de sustentar-se financeiramente e economicamente; pode fazê-lo por vias comerciais catastróficas para o Ocidente e contra as quais o Ocidente nada poderia fazer.

Nada disso significa que o conflito Israel/Palestina seja insolúvel. Significa, isso sim, que a solução, seja qual for, não está em "nossas" mãos – dos que criticam, com certeza; mas tampouco está nas mãos das potências ocidentais.

A solução, seja qual for, terá de ser construída em contexto de real equilíbrio de poder no Oriente Médio. A possibilidade de que se alcance esse equilíbrio não é completamente inexistente ou obscura, mas envolve realidades que poucos desejam encarar.

Na melhor (!) das hipóteses, a possibilidade de paz, de fim do "terror" israelense/palestino, está nas mãos dos supostos terroristas, do Hizbollah e seus patrocinadores, entre os quais o Irã. É possível que o Hizbollah tenha poder suficiente para conseguir que os israelenses, como os brancos da África do Sul, sejam obrigados a ler nos muros e encontrem meio de conviver com o povo conquistado. Até a próxima guerra contra o Líbano, ninguém pode avaliar com certeza em que pé está essa correlação de forças.

Mas há outra possibilidade, mais assustadora. E só se converterá em menos assustadora se o Ocidente curvar-se ante o inevitável.

O mundo "árabe", como o Irã, com certeza sabe o quanto é esmagadora e perigosa a vantagem nuclear com que Israel conta. Mas esses países ainda não têm capacidade militar para enfrentar Israel, nem têm poder político para conseguir que outros países o enfrentem. O que acontecerá se se criarem os meios necessários para gerar esse poder político?

De fato, esses meios já estão disponíveis.

Hoje, o mundo – portanto, também o mundo "árabe" – sabe que o Ocidente jamais, nunca, em tempo algum, agirá contra Israel: todas as oportunidades para fazê-lo já vieram e já foram. Mais cedo ou mais tarde, o contexto empurrará cada um dos vizinhos a tentar, cada um, sua alternativa única ou individual. É alternativa cara, não apenas em dólares, mas também, muito provavelmente, em vidas humanas.

As nações árabes e o Irã acabarão por acionar seus direitos de não obedecer aos tratados de não-proliferação de armas nucleares. (São acordos escandalosos, em todos os casos, porque seu único efeito é proteger Israel contra qualquer competição, ao mesmo tempo em que garantem ao país uma carta branca na arena nuclear.) O mundo árabe, provavelmente com apoio de outras nações, poderá então investir num programa coletivo de pesquisa e desenvolvimento de usos da energia nuclear, com o objetivo declarado e explícito de construir tanto meios de defesa e segurança, como meios de uso civil da energia nuclear.

O simples anúncio desses planos – com os efeitos que terão sobre a moral israelense e a convicção do Ocidente – pode gerar resultados consideráveis, praticamente sem custo algum para ninguém. Se Israel persistir em sua obstinação, tratar-se-á de fazer andar os planos, aumentando sempre a pressão no sentido de que se encontre – ou se imponha – uma solução para o conflito Israel/Palestina.

É possível que essa idéia soe a muitos ouvidos como puro extremismo enlouquecido. De fato, o maior extremismo enlouquecido é deixar que Israel primeiro desenvolva e depois ostente suas bombas atômicas, ao mesmo tempo em que a mesma Israel amarra mãos e pés de suas vítimas potenciais. Para desatar essas amarras, basta voltar à política do equilíbrio de poderes que, por séculos, foi considerada a melhor garantia para a paz.

Hoje, essa idéia ainda soa como mera fantasia. Mas o mundo árabe, com apoio do mundo muçulmano não-árabe, andará na direção de implantar essa estratégia no reino das possibilidades reais. Coletivamente, aquelas nações têm toda a riqueza e as habilidades técnicas necessárias. Cada dia mais, todos se dão conta da imperiosa necessidade de por de lado as animosidades e trabalhar pela paz. Deve-se esperar que o mundo árabe, com apoio do mundo muçulmano não-árabe, canse-se, definitivamente, de ser tratado com violência e desprezo.

E qual o papel do ocidente, em tudo isso? Se for incapaz de qualquer participação mais ativa, basta que não se meta. Se insistir, haverá ranger de dentes, sangue, histeria, epilepsia moral. Talvez, depois, a loucura passe e o Ocidente consiga voltar a fazer o que fez tão bem, por tanto tempo: nada.

Tradução de Caia Fittipaldi. O artigo original, em inglês, pode ser lido em: http://www.counterpunch.org/neumann02222010.html
*Michael Neumann é professor de filosofia na Trent University em Ontario, Canadá. É autor de What's Left: Radical Politics and the Radical Psyche and The Case Against Israel e de “What is Anti-Semitism”, em The Politics of Anti-Semitism editado pela editora Counterpunch, NY. Recebe e-mails em mneumann@live.com
Fonte: Revista Fórum