terça-feira, 23 de junho de 2009

Editorial

Desculpem leitores e seguidores deste blog. Não tem havido muita postagem no mesmo porque o cidadão que vos escreve está desprovido de internet em sua residência. A causa principal desta carência digital é a falta de democracia no acesso a internet rápida e barata que aflige nosso país. E ainda somos um dos países que mais acessam a ferramenta...
O brasileiro é mesmo um povo heróico!

Histórias que nossas vovós não contaram...

Postado em Observatório da Imprensa

Sete anos e 45 viagens para um furo histórico
Postado por Luiz Weis em 22/6/2009 às 5:22:31 PM



Ao contar em poucas palavras como O Estado de S.Paulo conseguiu ter acesso aos documentos sobre a repressão à Guerrilha do Araguaia guardados durante 34 anos pelo major Sebastião Curió Rodrigues de Moura – que renderam na edição do domingo, 21, a revelação histórica de que o Exército executou não 25, como se pensava, mas 41 guerrilheiros presos –, o repórter Leonencio Nossa, o autor da proeza, relata que, nos últimos sete anos, a equipe do jornal “teve 45 encontros” com o militar.

Nestes tempos em que a vertigem da comunicação online é celebrada por incontáveis internautas como o fim de um modelo de jornalismo que já teria dado o que tinha de dar e como o advento de sua reinvenção, é bom parar para pensar na empreitada – e no que está por trás dela – que é o processo de informar.

Existem informações que estão ao alcance da vista de qualquer um e cabem nos proverbiais 140 caracteres de uma mensagem pelo Twitter. Às vezes, a sua importância – como na divulgação para o mundo das manifestações de massa no Irã pelos próprios manifestantes, driblando a censura do regime – pode ser nada menos do que tremenda.

Mas, sempre supondo que os gorjeios digam a verdade que não pode ser conferida por fontes independentes – o investimento na sua apuração e transmissão costuma ser mínimo. (O Twitter surgiu para que os que o usam dizerem simplesmente a quem interessar possa o que estão fazendo em dado momento.)

No caso do Irã, naturalmente, acrescente-se o custo incalculável da coragem dos que enfrentam e denunciam a repressão aos protestos contra a fraude nas eleições presidenciais da semana passada e, depois, contra o regime que a patrocinou.

Dito de outro modo: a profusão de meios de comunicação e interação social na rede mundial abre perspectivas que mal começam a ser vislumbradas e dá conta de conhecer e disseminar uma infinidade de fatos de importância amplamente variada. Mas por enquanto não serviu para propagar uma história cuja apuração tenha exigido o equivalente aos 45 encontros em sete anos que tornaram possível o furo superlativo do Estadão sobre o extermínio da guerrilha do Araguaia, entre 1972 e 1975. (A propósito, a reportagem também revelou que o movimento envolveu 78 insurgentes vindos de grandes cidades, 20 recrutados na região e 158 pessoas do local que lhe deram “apoio e simpatia”.)

Se nada nem remotamente comparável a isso apareceu na blogosfera e cercanias – YouTube, Facebook, Flickr, Picasa, Ning e outros tantos, além do baladíssimo Twitter – não é porque essas plataformas, como se diz, tenham limitações tecnicamente insanáveis. É verdade que a natureza de um meio de difusão de informações influi nas características das informações a serem difundidas. Mas o ponto que interessa aqui não é esse.

É a realidade de que as legiões de novos comunicadores individuais e seus parceiros não tem os recursos, nem a estrutura que lhes permita perseguir um assunto anos a fio.

Impresso ou na tela, o jornalismo de envergadura – esse que investiga, escava, organiza e dá sentido aos grandes acontecimentos na vida das sociedades e na história das nações – depende, como se depende de ar para respirar, de incomparavelmente mais do que a tecnologia lhes proporciona.

Depende de uma organização capaz de bancar operações jornalísticas de longo curso e desfecho incerto, além de adotar procedimentos que guiem a viagem e respaldem os seus resultados. Na história do jornalismo, contam-se nos dedos os grandes repórteres investigativos capazes de dispensar essa retaguarda e ainda assim entregar a sua mercadoria. Essa infra está fora do alcance do mais bem intencionado jornalista-cidadão com uma preocupação na cabeça e um laptop, ou um netbook, ou um celular na mão.

Ao passo que os novos meios podem facilitar enormemente a reportagem de grande calado – para não falar daquelas de linha, rotineiras.

O pessoal que fica em volta da guilhotina que deverá decepar a cabeça do difamado jornalismo convencional – descendentes metafóricos das tricoteiras da Praça da Revolução, em Paris, em pleno Terror – parece que se recusa a atinar com a coisa: a mão de obra infernal, o dinheiro, o tempo e o esquema de apoio sem os quais os sonhos de praticamente todo repórter que valha o seu sal viram espuma e sem os quais o público fica sabendo menos do que tem direito.

Invertendo a proposição e aproveitando ainda o exemplo do jornalista Leonencio Nossa, do Estado: já imaginaram se depois dos tais 45 encontros ao longo de sete anos o major Curió resolvesse definitivamente bater-lhe a porta na cara, ou, conforme o lugar-comum, se morresse “levando consigo para o túmulo os seus segredos”? Quem arcaria com o prejuízo?

Já se fala hoje em dia em iniciativas para substituir os donos da mídia em cacifar empreendimentos jornalísticos arrojados – o mecenato, fundações, ONGs, cooperativas…

Por exemplo, o Instituto Vladimir Herzog, que será inaugurado nesta quinta-feira em São Paulo [leia aqui] planeja financiar já a partir deste ano a realização de matérias pautadas por estudantes no âmbito do tema “Direito à Justiça e Direito à Vida”. Os escolhidos contarão ainda com jornalistas profissionais voluntários que os orientarão durante as reportagens.

Nada contra, muito antes etc. Mas iniciativas do gênero precisariam proliferar – e cobrir toda a gama de assuntos que compõem o cardápio de um jornal ou revista e todas as etapas da sua produção e edição – para que se possa começar a levar a sério a hipótese da desvinculação do jornalista das empresas jornalísticas.

Ainda se está a léguas disso.

Em suma, do ponto de vista do interesse público é um tiro no pé torcer para que a crise financeira que assombra o jornalismo impresso acabe com o negócio da informação. Por mais que o modelo tradicional da imprensa tenha o que se corrigir e se adaptar ao mundo mutante online, por mais que os periódicos mereçam levar no lombo – quando descuidam dos próprios padrões que garantiram a sua longevidade – nada ainda o substitui, e os substitui, como fonte das informações que de alguma forma mexem com o mundo.

Woodstock - o mundo era mais bacana...


Em meados de agosto transcorrerão os 40 anos de um dos acontecimentos mais alentadores do século passado: o Festival de Música e Artes de Woodstock.

Foi uma moeda que caiu de pé: os deuses de todos os povos e de todos os tempos parecem ter-se mobilizado para que tudo desse certo durante três dias mágicos, maravilhosos, que seriam para sempre lembrados como uma amostra da perfeição possível neste sofrido planeta.

Sem favor nenhum, posso afirmar que Woodstock foi o evento musical que mais influenciou as artes e os costumes na história da humanidade. E a conjunção de fatores que o transformou em marco e lenda dificilmente se repetirá. Sorry, moçada de hoje, mas o Gilberto Gil é que estava certo: "quem não dormiu no sleeping bag/ nem sequer sonhou".

Para começar, o Festival de Woodstock foi o ponto de chegada e a culminância de vários fenômenos e acontecimentos marcantes.

A escalada norte-americana no Vietnã, ao longo da década de 60, engendrara um movimento pacifista de crescente influência entre os jovens dos EUA, com direito a manifestações de protesto, queimas de cartas de recrutamento, choques com a polícia e a uma manifestação-monstro de cerco ao Pentágono.

Em 1965, um estudante de química chamado Owsley Stanley aprendeu como fabricar ácido lisérgico no porão de sua casa e logo inundou San Francisco com o LSD, impulsionando o surgimento da geração das flores, imortalizada pela bela canção de Scott McKenzie: “Se você vier para San Francisco,/ não se esqueça de colocar/ algumas flores no seu cabelo...”

Foi aí que o movimento hippie nasceu, aglutinando jovens que recusavam o american way of life e caíam na estrada, em busca de aventuras e novas experiências.

Em termos mais profundos, pode-se lembrar que era a fase em que a crescente mecanização da indústria mais e mais dispensava o uso da força física, demolindo algumas vigas-mestras da sociedade norte-americana, toda ela construída em cima do ascetismo puritano (a negação do prazer a fim de poupar energias para o trabalho). Na década de 60, o prazer reconquistava suas prerrogativas.

Grandes festivais de rock já haviam ocorrido em Monterey (1967) e na Ilha de Wight. Este último vinha se realizando desde 1968, embora o mais marcante e lembrado seja o de 1970, quando se deu uma das últimas apresentações de Jimi Hendrix.

Quanto a públicos expressivos, também não eram novidade: o festival inglês já reunira 250 mil pessoas.

Mas, foi no de Woodstock que a indústria cultural investiu pesado, pela primeira vez. É que, com algum atraso, os mercadores das artes se deram conta de que tinham um diamante bruto ao alcance das mãos. Prepararam-se, então, para explorar em grande estilo o evento seguinte.

Por último, vale notar que ainda se vivia a época dos compactos, em que eram singles e não elepês que corriam o mundo, com a repercussão dependendo, principalmente, da divulgação nas rádios.

Pouco se conhecia da segunda onda do rock (a primeira, nos anos 50, fora a dos pioneiros Elvis Presley, Chuck Berry, Little Richard, Bill Haley, etc.).

Muitos garotos, como eu, amavam os Beatles e os Rolling Stones. De resto, haviam escutado. “The House of Rising Sun” (Animals), “Sunny” (Johnny Rivers), “A Wither Shade of Pale” (Procol Harum) e quase nada mais.

Existia uma produção musical de grande qualidade represada, não atingindo circuitos mais amplos. Seria a irrupção dessa nova geração de importantes artistas ainda relativamente desconhecidos que asseguraria a surpresa e o enorme impacto causados pelo filme Woodstock e pelo álbum triplo com registros desse evento.

BRINCANDO NA CHUVA – Foram três dias de “paz, música e amor”, de 15 a 17 de agosto de 1969, levando 450 mil jovens até a fazenda do leiteiro Max Yasgur, a 80 quilômetros de Woodstock, estado de Nova York.

Logo no primeiro dia o festival foi declarado livre: quem não tinha comprado antecipadamente o ingresso, não precisou mais fazê-lo. Com isto, os promotores tiveram US$ 100 mil de prejuízo inicial, mas acabaram saindo no lucro: o filme lhes proporcionaria um retorno imediato de US$ 17 milhões.

O torrencial aguaceiro do segundo dia foi tirado de letra pela moçada, que aproveitou para relembrar a infância, chapinhando na lama. De início se tentou afastar a chuva com a força do pensamento positivo, todo mundo gritando “No rain! No rain!”. Depois, o jeito foi se amoldar a ela, brincando de tobogã e cantando. No álbum Woodstock há dois registros disto: no disco I, o improvisado “canto da chuva”; e no II, a multidão entoando em coro o refrão “deixa o sol brilhar!”, da peça Hair.

As boas vibrações não impediram a ocorrência de três mortes: uma overdose, um atropelamento por trator e um ataque de apendicite. O guitarrista e líder do The Who, Peter Townshend, não se limitou, como de hábito, a destruir o instrumento de trabalho no final apocalíptico de sua performance; levou a fúria para os bastidores, quebrando o pau com o líder hippie Abbie Hoffman.

O evento foi processado para o cinema por Michael Wadleigh, que fez uma magnífica edição de imagens e introduziu uma novidade: a bi ou tripartição da tela, oferecendo ao espectador tomadas simultâneas do mesmo grupo, de artistas isoladamente, do público, etc.

Há, além disto, nítido empenho em situar o evento sociologicamente, ao contrário do documentário sobre o Festival de Monterey, que se ateve quase exclusivamente à música. Daí a merecida reputação de Woodstock como o filme que inovou a arte de registrar espetáculos musicais.

NEM TUDO FOI MOSTRADO – Muitos artistas deixaram de ter um número exibido no filme e no álbum triplo. Ficaram de fora Melanie, Mountain e Butterfield Blues Band, com o consolo de aparecerem no segundo álbum Woodstock, duplo, que foi lançado algum tempo depois. O Jefferson Airplane não está no filme, mas sua “Volunteers” consta do álbum triplo e teve mais canções aproveitadas no álbum duplo.

A relação dos que lá estiveram mas ficaram de fora tanto do filme quanto dos álbuns é extensa: Janis Joplin, Grateful Dead, The Band, Blood Sweat & Tears, Creedence Clearwater Revival, Incredible String Band, Johnny Winter e Ravi Shankar. Motivo: problemas contratuais.

[Agora, na onda do MP-3, tudo isso foi finalmente disponibilizado para os saudosistas dos velhos e bons tempos, bem como para os jovens que querem saber saber como era o som que os pais, tios e avós curtiram...]

Os cachês mais altos foram os de Jimi Hendrix (US$ 18 mil), Blood Sweat & Tears (US$ 15 mil), Joan Baez e Creedence Clearwater Revival (US$ 10 mil cada). Santana exibiu sua empolgante fusão de rock e sonoridades latinas, “Soul Sacrifice”, pela bagatela de 750 dólares.

O trovador John Sebastian tirou a sorte grande: não foi convidado, mas apareceu para dar uma olhada e acabou subindo ao palco quando a chuva recém-finda impedia a apresentação de bandas eletrificadas. Ganhou direito a constar do filme e do disco, além de receber mil dólares.

O Crosby, Stills, Nash & Young, que acabava de ser constituído, cativou a platéia com seu folk-rock contestador e obteve êxito instantâneo, lançando as bases da longa carreira de seus integrantes (pouco tempo como quarteto e muito mais como artistas-solo).

No extremo oposto, o Ten Years After foi a principal vítima da síndrome de Woodstock: nunca igualou os 11 esfuziantes minutos de “Goin’ Home”, que valeram para Alvin Lee a reputação de grande guitarrista.

Outra curiosidade: foi marcante a aparição de Arlo Guthrie (“Comin’ Into Los Angeles”), cuja trajetória acabaria sendo eclipsada pela de Bob Dylan. Os estilos vocais e temáticos eram semelhantes, tendo Dylan sido mais eficiente em afirmar-se como herdeiro da arte e da lenda de Woody Guthrie, o precursor dos mochileiros. Correndo na mesma faixa, ele sobrepujou o próprio filho de Woody.

A vertente negra do rock se destacou em duas performances memoráveis. Richie Havens, um talento que depois definharia, arrepiou a platéia com seu camisolão africano e a interpretação fulgurante de “Freedom”. E Jimi Hendrix, no auge de sua genialidade, puniu simbolicamente os militaristas com a implosão do hino nacional norte-americano.

Isto para não falar do herdeiro branco e britânico de Ray Charles, o chapadíssimo Joe Cocker, com sua voz poderosa e postura bizarra, sacudindo o corpo para a frente e para trás como um boneco de mola enquanto as mãos dedilhavam sem parar uma guitarra inexistente.

O rock erudito, que marcaria toda uma época, também se fez presente em Woodstock: o The Who interpretou uma compilação de faixas da ópera-rock Tommy, projetando mundialmente essa sua (para a época) extravagância: um álbum-duplo que, faixa a faixa, vai contando a história de um menino que flagra o adultério da mãe e o assassinato do pai, recebendo então a ordem de apagar aquele episódio da mente e nunca relatá-lo a ninguém. O trauma o torna cego, surdo e mudo, mas ele acaba se libertando e atingindo a iluminação.

SÍNTESE DA CONTRACULTURA – Com Woodstock ganhou repercussão ampla o movimento de paz e amor que fermentava na boêmia San Francisco desde meados daquela década, como um desdobramento lisérgico e roqueiro do antigo movimento beatnik.

Suas características externas são ressaltadas no filme:
* o amor livre e a desinibição corporal, com o nudismo sendo amplamente praticado, de forma inocente e até singela;
* a convivência harmoniosa, sem nenhum resquício de preconceito, entre indivíduos de todas as raças, credos e orientações sexuais;
* o consumo explícito e justificado (por alguns entrevistados, como Jerry Garcia) das drogas que, no entender daquela geração, abriam as “portas da percepção”;
* o visual premeditadamente desarrumado do pessoal, com suas roupas coloridas, ponchos e cabeleiras imponentes;
* a substituição dos laços familiares por uma comunidade grupal (ou, como se dizia então, tribal);
* a volta à natureza e a redescoberta do lúdico (em vários momentos, vêem-se marmanjos entregues a brincadeiras pueris, sem nenhum constrangimento);
* a profusão de crianças, pois os hippies mandavam às favas o planejamento familiar, os anticoncepcionais e os abortos, assumindo plenamente o amor e suas conseqüências;
* o solene desprezo pelas regras e valores dominantes na sociedade, que se evidencia até nas falas dos organizadores do festival, não ligando a mínima para os prejuízos que estavam ameaçados de sofrer.

De certa forma, este comportamento era inspirado por teóricos como Reich, Marcuse e Norman O. Brown, que vincularam o autoritarismo político à repressão instintiva, alegando que a liberdade era cerceada não só pelos mecanismos sociais que mantinham a estrutura de classes (visão da esquerda convencional), como também pelos condicionamentos que embotavam a imaginação e inibiam o desfrute pleno da sexualidade.

Essas teses inspiraram uma nova voga anarquista, que pregava o combate ao stablishment também no íntimo de cada pessoa. As drogas serviriam para o resgate de faculdades esquecidas devido ao desuso; e a liberalidade sexual, incluindo as práticas antes estigmatizadas como perversões (homossexualismo, sodomia, sexo oral, masturbação), seria a premissa de uma visão erótica do mundo, em substituição ao princípio da realidade freudiano.

BRASIL: COMUNIDADES E BICHOS-GRILOS – A influência de Woodstock em nosso país pode ser detectada na música (Raul Seixas, Made in Brazil, a última fase dos Mutantes), no teatro (Oficina, Tuca), na cinematografia (o chamado cinema marginal) e, sobretudo, nos costumes, com os bichos-grilos que percorriam as estradas como caronas, indo e vindo à meca de Arembepe (BA), além de criarem comunidades urbanas e rurais onde exercitavam um estilo alternativo de vida.

Essas tentativas, entretanto, esbarraram no ambiente repressivo dos anos de chumbo, o que levou, p. ex., a ser expulso do Brasil o elenco do Living Theatre de Julian Back, que supôs encontrar aqui seu paraíso tropical; e, em termos mais amplos, na própria impossibilidade de contingentes mais amplos, num país pobre como o nosso, garantirem indefinidamente seu sustento com artesanato, aulas de ioga e que tais.

A grande vitória da Geração Woodstock foi ter conseguido arrancar os Estados Unidos do Vietnã. E seu exemplo repercute até hoje no ativismo em defesa do meio ambiente e a favor de algumas causas justas.

Além disto, ela entronizou a imagem do jovem como centro do universo do consumo, em substituição ao modelo rígido do pai de família, daí derivando a descontração no vestir, no falar e no comportamento.

E ainda lançou alguns modismos que hoje estão em menor evidência, como o ioga, a macrobiótica, o ocultismo e a agricultura natural (sem defensivos e fertilizantes).

Não perduraria, entretanto, aquela militância política idealista e generosa: as gerações seguintes se desinteressaram de mudar o mundo, voltando a priorizar a ascensão profissional e social. O rock, depois de uma fase intensamente criativa e experimental, voltou aos caminhos seguros do marketing.

As drogas, ao invés de abrirem as portas da percepção, se tornaram instrumentos para a fuga à realidade e a ilusão de onipotência, cada vez mais pesadas, até que se chegou ao pesadelo do crack. E o amor livre degenerou em sexo casual, promiscuidade e AIDS.

O sonho acabou? Talvez. Mas, quem o partilhou só lamenta que haja durado tão pouco e tenha sido substituído por uma realidade tão insossa.

Eu prefiro mesmo é a postura do inesquecível Raulzito: ele nunca deixou de acreditar que a roda da fortuna giraria de novo, trazendo de volta, desta vez para ficar, o "paraíso-agora" que iluminou nossas vidas por um fugaz instante... e, mesmo assim, marcou-nos para sempre.

Oh, baby, a gente ainda nem começou!

terça-feira, 9 de junho de 2009

Grande imprensa puta com a Petrobrás!!!!



por Luiz Carlos Azenha

1) Porque perdem o "monopólio da informação" e, com isso, autoridade sobre o público;

2) Porque os leitores agora podem saber quais são TODAS AS PERGUNTAS feitas pelos jornais à Petrobras;

3) Porque comparando todas as perguntas feitas pelos jornais e todas as respostas dadas pela Petrobras com o que é efetivamente publicado os leitores podem descobrir as manipulações feitas com as respostas no processo de edição;

4) Porque essa comparação permite ao público descobrir quais as respostas da Petrobras serão simplesmente omitidas do jornal impresso para não "atrapalhar" a pauta;

5) Porque comparando as perguntas feitas pelos diferentes jornais, o público pode entender que há gente alimentando simultaneamente os jornais com informações em busca de levantar a bola para a CPI;

6) Porque as perguntas fornecem pistas sobre quem está alimentando os jornais com o objetivo de criar o "escândalo" necessário ao sucesso do palanque eleitoral da CPI;

7) Porque essas pistas poderão levar o público a descobrir que os jornais são usados em campanhas eleitorais ou com objetivos inconfessáveis, como o de entregar o pré-sal a empresas estrangeiras;

8) Porque o blog da Petrobras desloca público do jornal impresso para a internet, onde o público poderá receber informações, por exemplo, sobre como a grande imprensa brasileira atacou Getúlio Vargas quando ele criou a Petrobras;

9) Porque todo esse processo pode deixar claro que a grande imprensa não é isenta, nem imparcial, nem honesta; que diz não ter lado, mas tem; que está a serviço de "uma causa", assim como esteve quando fez campanha contra a criação da Petrobras ou em favor do golpe militar de 1964;

10) Porque eles ainda não sairam do século 20.

http://petrobrasfatosedados.wordpress.com/

É por isso que o Viomundo apóia o controle social dos gastos de publicidade de governos, órgãos e empresas públicas.

>

Fonte: Viomundo - Luiz Carlos Azenha

segunda-feira, 1 de junho de 2009

Adriano - Imperador do Brasil


Adriano, pela etimologia significa: “O que possui pele morena”. Pela história, associamos tal nome ao imperador que governou Roma entre 117 e 138. No Brasil, hoje, Adriano é um jogador de futebol que gerou espanto.

Chupado do Projeto PIG



Nos últimos dias um assunto extravasou do noticiário esportivo para a primeira página dos jornais e a chamada de abertura dos telejornais. Adriano, centroavante brasileiro de 27 anos, atleta com contrato milionário com a Internazionale de Milão, após três dias sumido, foi localizado na favela carioca de Vila Cruzeiro.



Quatro dias depois do sumiço, convocou uma coletiva à imprensa e afirmou que não encontrava mais motivação no futebol e que iria interromper suas atividades futebolísticas. Na entrevista, falando com calma e lucidez visíveis, declarou que fora negociado com o futebol europeu aos 19 anos de idade, que a fama e o dinheiro vieram muito rápido, causando um choque, que se sentia só no meio do futebol e dos famosos e que se sente mais feliz na favela onde nasceu e foi criado.



Sexta-feira santa! Uma procissão veio a público recriminá-lo, diagnosticá-lo como doente e recomendar seu tratamento: “o prefeito de joelhos, o bispo de olhos vermelhos, e o banqueiro com um milhão”, diria Chico. Zagalo – visivelmente gagá – disse que Adriano precisava de tratamento, opinião endossada, com o bom humor de sempre, por Murici Ramalho. Parreira começou bem, falando da solidão em que pode se encontrar um jogador nessas condições, para emendar de forma catastrófica dizendo que por isso o sujeito caminhava para a bebida, as drogas e os falsos amigos. Pelé, com a sapiência que lhe é peculiar vaticinou: “isso depõe contra o país”, e viva Romário, que já dizia: “Pelé calado é um poeta”! Uma alma lúcida parece ter iluminado o treinador da Inter, José Mourinho, que afirmou: “é perfeito se você perde o jogador e reencontra o homem”.



Por que as declarações de Adriano incomodaram tanto? Sigo algumas pistas.



Vivemos numa época em que às classes dominantes interessa vender a ilusão de que há saída – individual – para a condição proletária em nosso país (miséria, vida na favela, precarização do trabalho e desemprego estrutural). Uma saída materializada no empreendedorismo, no estímulo à (re)qualificação profissional dos “pobres”, através das ONGs e dos poucos braços de políticas públicas focalizadas, que despertam a vocação para a música ou os esportes (carnaval, funk, rap e futebol ou basquetebol, tanto faz), e exemplificada pelo sucesso de alguns poucos cantores de pagode e jogadores de futebol. Quando um “ídolo” desfaz, com lucidez, o mito, é preciso patologizá-lo: está doente, depressivo, alcoólatra, viciado, etc.



Num momento em que a favela é oficialmente associada ao crime e seus moradores divididos, pelo discurso oficial, entre traficantes e coniventes/candidatos com o/ao tráfico, um exemplo de “sucesso” como Adriano afirmar de público que prefere a Vila Cruzeiro à Milão é extremamente perigoso. Trata-se de uma clara defesa da sociabilidade comunitária construída pela classe trabalhadora na favela, em contraposição ao simulacro de vida burguesa ao qual meia dúzia de pobres “afortunados” (pelo talento ou pela sorte) teve acesso quando elevados à categoria de “ídolos”. E desmascarar fantasias é algo extremamente perigoso. Clínica nele!



Os paparazzi já se cansaram de nos mostrar que Adriano é chegado a uma cerveja e já tomou alguns porres. Como eu e como muitos(as) de vocês que estão lendo este texto. O interessante é perceber que, para explicar sua opção pelo abandono do futebol, de Milão, e da fama, busquem justificativa nas drogas (não no álcool, droga legal, mas nas ilegais) e na sua suposta associação com traficantes. Aliás, estranho é que não questionem porque ele, Kaká, Ronaldinho, e tantos outros, tenham saído daqui tão magrinhos e hoje apresentem um físico tão “bombado”. Drogas? O problema são as vendidas na favela.



Sou flamenguista, única declaração de fé que faço sem maior vacilação. Assisti ao despontar de Adriano, como jogador de futebol, das arquibancadas do Maracanã. Xinguei aqueles ladrões travestidos de “dirigentes” que, de seus postos na Gávea, venderam aquela “promessa” entre tantas outras, como mercadoria que são, para o futebol europeu.



E é como torcedor e como homem (no sentido genérico de um ser social que busca se encontrar com sua humanidade) que me sinto feliz ao ouvir a entrevista de Adriano, que não se conformou com a fama, o sucesso, a riqueza, e busca, sabe-se lá onde – talvez em Vila Cruzeiro – a felicidade. Sejamos todos como Adriano, o lúcido!



(*) Marcelo Badaró Mattos é professor de História.

>
Fonte: Fazendo Media

P.S: Felizmente, para a alegria da Nação Rubro-Negra, Adriano está de volta ao Mengão, e fazendo gol! Seja feliz, Imperador, no time mais popular do mundo!!!