domingo, 19 de julho de 2009

Nada de novo no planeta Bunda


Juliana Paes, antes e depois dos retoques digitais.















BUNDA PODE

por Marcelo Paiva.
Deu na coluna do ANCELMO GOIS.

O juiz João Paulo Capanema de Souza [24º Juizado Especial Cível - RJ] proibiu que o hilário colunista da ILUSTRADA, Zé Simão, fale de atriz Juliana Paes, que alegou que teve a honra atingida.

A multa por cada notinha veiculada é de R$ 10 mil.

Juliana alega que o colunista "vem publicando reiteradamente nos meios de comunicação em que atua, sobretudo eletrônicos, textos que têm ultrapassado os limites da ficção experimentada pela personagem e repercutido sobre a honra e moral da atriz e mulher e sua família".

O juiz Capanema não vê "ofensa ou aspecto pejorativo" nas considerações do colunista "sobre a 'poupança' da atriz ou sobre o fato de sua bunda ser grande", já que "sua imagem esteve e está à disposição de quem quisesse e ainda queira ver".

Mas considerou que o Simão ofendeu "a moral da mulher Juliana Couto Paes, seu marido, sua família", ao "jogar com a palavra "casta" e dizer que Juliana "não é nada casta"."

Para os advogados da FOLHA, a decisão do juiz "trata o humor como ilícito e, no fim das contas, é a mesma coisa que censura".

Tem muitas implicações o gesto da atriz, que fatura em cima de sua beleza incomparável, quer ser notada, capricha na produção, vende, anuncia [em um comercial de cerveja, ela é "a boa"].

Juliana é uma atriz talentosa. Era figurante de novela. Foi notada e puxada para a frente. É agora protagonista. Falar da bunda pode. No entanto, não se pode ironizar com a sua personagem.

No Brasil, se leva mais a sério a novela do que a exposição do traseiro avantajado.

quinta-feira, 16 de julho de 2009

Alfinetadas do mundo-rock


- Todos os meus discos são uma comédia. (Bob Dylan)

- Bob Dylan me dá nos nervos. Se estivesse comigo numa festa, eu o mandaria calar a boca. (Lou Reed)

- Se as letras dos Rolling Stones quisessem dizer alguma coisa, seriam péssimas. (Truman Capote)

- Rock é música de jeca misturado a jazz. (Paulo Francis)

- O rock é como um orgasmo. Às vezes, um orgasmo é melhor. Em outras, o rock é melhor. (Mick Jagger)

- (Para uma tiete) Seus dentes são lindos, querida. Por que não mandou obturar também o cérebro? (John Lennon)

- Se as pessoas comprassem os discos pela música, o rock já teria acabado há muito tempo. (Malcolm McLaren)

- Não sei uma nota de música. Nem preciso. (Elvis Presley)

- Um repórter de rock é um jornalista que não sabe escrever, entrevistando gente que não sabe falar, para pessoas que não sabem ler. (Frank Zappa)

- Um ouvinte típico de rock é um garoto tão analfabeto que não consegue ler nem o selo do disco que acabou de comprar. (Frank Zappa)

- Nunca gostamos dos Beatles. Eram uns provincianos e não queriam que os outros soubessem disso. (Mick Jagger)

- Tudo o que fazíamos, os Stones tentavam fazer igual - três meses depois. (John Lennon)

- O rock é a Aids da música. (Júlio Medaglia)

- Dizem que Chuck Berry é Deus, mas que merda ele fez? (Elton John)

- Elton John se tornou o viado-padrão. Como Liberace, antigamente. (David Bowie)

Lançamento Literário


O jornalista Altamiro Borges acaba de lançar o livro “A ditadura da mídia”. Faz parte da “Coleção Vermelho”.


“Não é uma obra acadêmica, mas uma peça de denúncia política”, avisa ele. “Não é neutra nem imparcial, mas visa desmascarar o nefasto poder da mídia hegemônica e formular propostas para a democratização dos meios de comunicação.”
O prefácio é do professor e pesquisador Venício A. de Lima, da Universidade de Brasília (UnB) e um dos maiores especialista no tema no país: “O precioso e oportuno ‘A ditadura da mídia’ oferece ao leitor, em linguagem simples e direta, não só um quadro atualizado sobre os grupos que disputam o controle da grande mídia no mundo e em nosso país, como também um roteiro justificado de metas que devem orientar as reivindicaçòes populares na 1* Conferência Nacional de Comunicação".
O jornalista Laurindo Lalo Leal Filho, ouvidor da Empresa Brasil de Comunicação (EBC), faz um comentário: "O livro ‘A ditadura da mídia’ tem a justa pretensão de se tornar um instrumento de apoio para todos os que lutam pela construção de uma comunicação mais justa e equilibrada em nosso país”.

ver texto completo em: PROJETO PIG 2010

Hard times...


Aqui vai a reprodução de um trecho do texto de Celso Longaretti, publicado em seu blog "Náufragos da Utopia".
Segundo ele, nos anos 70 e 80 era dureza adquirir música devido às dificuldades e aos preços exorbitantes.
No entanto eu percebo que hoje, apesar da grande facilidade de acesso, ainda há certas barreiras que dificultam um acesso mais democrático às informações culturais: a qualidade do acesso (lenta, pelos padrões internacionais) e o preço do acesso (os preços no Brasil são caríssimos e a qualidade tecnica duvidosa.
Mas vamos a uma parte da historia do Celso, se quiser ler tudo acesse seu blog.

"Os jovens que, graças ao MP 3, conseguem encontrar e baixar, num abrir e fechar de olhos, todas as músicas do seu agrado, nem imaginam como penávamos para obter os discos que eram nossos objetos de desejo, três ou quatro décadas atrás.


Para os roqueiros, a busca era interminável. Além da grana escassa, mal crônico para a maioria de nós, havia as limitações do mercado brasileiro.

Tirando os carros-chefes como os Beatles e os Stones, contemplados com mais lançamentos, as demais bandas e artistas dependiam do sucesso ou não do primeiro LP que saía aqui.

Vendendo bem, as gravadoras iam lançando, aos poucos, as obras anteriores. Caso contrário, quanto muito, renovavam a aposta no disco seguinte, mas deixavam o passado pra lá. E roqueiro do meu tempo, quando gostava de uma banda, não descansava até conseguir toda sua discografia.

Então, quem cultuasse um Moody Blues ou um King Crimson, p. ex., tinha de esperar anos para que seus primeiros discos fossem finalmente disponibilizados no Brasil. Ou recorrer às raras lojas de importados".

terça-feira, 14 de julho de 2009

Crônica




Festa Brasileira com certeza!

No penúltimo fim de semana, convidado por amigos, subi até Petrópolis. Tínhamos combinado a um bom tempo em participar da baunerfest (ou algo falável assim, rs) - festa da cidade em honra aos descendentes dos imigrantes alemãs que ajudaram na colonização da região. Era essencialmente uma festa folclórica na qual desfiam grupos de rapazes e moças apresentando números de música e dança recheado de canções tradicionais da velha Alemanha.
Até aí morreu Neves, vocês diriam. Eram dois os amigos que eu acompanhava, Hermes e Dionísios. Ambos tinham peculiaridades interessantes. Aquele, careca, sempre de gorrinho, elegante, muito conhecedor da história da cidade e seu monumentos, tecendo comentários sobre a região, seus palacetes e a história dos poderosos que passaram pro eles relacionando-os à história do Brasil, obviamente. Este, professor de história, negro, dono de uma linda cabeleira rasta, irônico e observador.
A primeira decepção de Dionísios foi saber que a festa alemã não teria variedades múltiplas de cervejas. Ele pensou, como eu também pensei, que a festa, sendo típica da cultura alemã, apresentasse um festival de cerveja de todas as marcas e procedências. No entanto, só tinha chopp da Brahma... (No final da festa, nós descobrimos uma barraca escondida dentro da antiga fábrica da Bavária na qual vendiam-se vários tipos de Bohemias - preta, pilsen e a top de linha Bohemia Confraria, ótima!).
Quando chegou na cidade, sua cabeleira rasta chamou várias vezes a atenção, coisa comum em uma cidade com uma população negra relativamente menor que a média nacional. A gente já estava brincando sobre o carater germânico da festa, mas estávamos admirando também a composição meio mestiça de certos componentes dos grupos folclóricos, tinha até negros! Nesse momento, as pessoas que iam desfilar estavam misturadas, ainda formavam grupinhos de fofocas e não estavam formados ainda. Não sabíamos como se daria o desfile.
Tomamos uma latinha de Itaipava, comemos um salgadinho... bela manhã.
Ao começar o desfile, os grupos iam se apresentando da seguinte maneira: jovens formandos quadrilha de casais executando danças e piruetas, seguidos por uma banda de desfile e fanfarra.
Como professores de história não poderíamos deixar de reparar na composição étnica de todos os participantes do desfile. Notamos que havia uma certa "democracia racial" na distribuição dos componentes. Mas aprofundando o olhar, descobrimos que a suposta democracia tinha alguns senões...
A grande proporção de negros nas bandas (que pareciam orquestras!) era muito interessante, pois atendia a dois princípios implícito no fato. O primeiro de atender a demanda de uma parte da população miscigenada e típica de muitas partes do território brasileiro, com um grande proporção de negros e mulatos. Sendo uma festa patrocinada pela prefeitura não faria sentido segregar nenhum segmento da população. A primeira solução, então, é pô-los na banda e deixar os casais de dançarinos e malabaristas compostos só por brancos.
Até aí tudo bem. Não fazia muito sentido ver negros executando danças alemãs do século XVIII ao som de canções folclóricas! Ainda comentei que os brancos precisavam dos negros para executar (e muito bem!) suas músicas tradicionais. Tinha ainda umas meninas negras mais clarinhas (rs,rs) em alguns quartetos só de meninas.
Estávamos, é claro, envolvidos em história naquela cidade. Tudo nos remetiam ao século XIX, à família imperial e à escravidão. Hermes nos contava histórias sobre os diversos palácios e monumentos e seus respectivos moradores e homenageados.
A composição do desfile ia nos mostrando a diversas nuances da composição etnica engendrada na história da cidade (a colonização alemã) e na história do Brasil (a presença do negro pela escravidão e todos os seus desdobramentos referentes a alforrias e abolição).
O desfile esta muito democrático, pensávamos (apesar da segregação dos negros à parte musical), correspondia a uma demanda de parte da população da cidade e uma forma de inclusão da mesma numa festa que tem pretensão de tornar-se identidade municipal, devido ao caráter recente de sua realização (desde 1992, eu acho...).
Até que veio a última parte do desfile, um perfilar de pequenas charretes cobertas de flores, com lindas crianças louras sentadas em bancos de veludo. Os condutores e outros adultos que participavam do desfile em cima das charretes eram todos brancos, louros e ruivos. Excelente, divino, maravilhoso! Parecia a Áustria - que lindo!
Mas um pequeno detalhe punha de novo por terra 121 anos de abolição da escravidão - coisa contumaz!
As charretes eram puxadas por burricos e poneis muito bem tradadinhos. No entanto, estes doces animais eram puxados por meninos e rapazolas. Louríssimos? Não! Pretinhos e mulatos (tinha um até meio indígena com negro)! Com roupinha de servo e tudo!
Estava alí um retrato autêntico de uma tradição histórica. Ficamos indgnados na hora. Como pode uma prática de sujeição se perpetuar de tal maneira que fica ainda resquícios até hoje? Os organizadores não perceberam essa gafe? No entanto, agora, na calmaria das emoções, posso talvez entender a lógica da história: assim se deu a história da colonização na cidade.

Vive la France!


Hoje comemoram-se os 220 anos da Revolução Francesa. Aliás, 220 anos da queda da Bastilha, sacramentada pelo povo em ebulição contra as mazelas do poder aristocrático.
Apesar dos descaminhos que a revolução tomou (típico das revoluções recentes, geralmente traem suas próprias causas), a Revolução de 1789 foi uma demonstração de como o povo, unido, pode representar uma força incomensurável a favor de mudanças e transformações.
Ao contrário da Revolução Americana, que foi uma mudança por cima, a Revolução Francesa uniu interesses da classe dominante (economicamente, mas não politicamente até aquele momento) com as demandas mais esenciais do povo miúdo. Representou realmente uma mudança de paradigma e influenciou todos os governos e governantes daquele momento em diante.
Podemos contestar o distanciamento que se seguiu entre discursos e práticas - alguns tiveram mais igualdade, liberdade e fraternidade que outros - mas sem dúvida foi um avanço para o estado de coisas reinantes no período.

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Fim da Era Fonográfica?




Com bastante atraso, mas ainda de forma relevante, já que a mídia ainda não deixou o defunto esfriar, trato aqui, modestamente e com bastante dose de palpitez, da morte do ídolo pop Michael Jackson.
Tudo, ou quase tudo, já foi dito do célebre falecido (inclusive muita estupidez e asneira). Quero registrar apenas minhas impressões sobre o astro.
Independente de gostar ou não das músicas dele (confesso que, fazendo o balanço final, eu gostava muito de algumas de suas músicas) temos que admitir que poucos significaram na música o que ele significou, em termos de mercado. E ninguém igualou a marca que ele atingiu...
Eu tive o prazer (ou desprazer, depende do ponto de vista) de vender muito de seus albúns (já que eu trabalhava em uma instituição hoje falida, uma loja de disco). Quer dizer, ganhei muita comissão vendendo Lps e Cds do moçoilo... E foi bom! Apesar de, na época, não aguentar a massificação de suas músicas.
Pois bem, e é isto que eu quero falar, a morte de M.J. significa o FIM DE UMA ERA! Exagero? Talvez...
Vejamos. Ninguém nunca vendeu tanto "disco" (seja em qualquer formato, Lp - Cd - Dvd)e nem venderá (já que ninguém compra mais "disco", mas faz downloud), ningúem nunca mais lotará tantos estádios em tantos lugares diferentes (já que a música está cada vez mais segmentada e "tribos" específicas ouvem músicas afins...) e ninguém, talvez, fará tanto videoclips (coisa também meio saturada!).
Como eu disse acima, é puro palpite, mas, para mim, com a morte de Jackson, a música finalmente entrou no século XXI. É o fim do megamercado musical, é o fim da farra das gravadoras, é o fim da massificação escrota em cima de um artista. Só não é o fim do sensacionalismo midiático, infelizmente!
Michael Jackson morreu! Que leve junto a indústria fonográfica! Enterrem esses mortos e deixem eles descansarem em paz.

Uma imagem ou mil fragmentos de imagem?



Um Flerte de Marlyn Monroe ou Uma Global ao Celular?


Quando o leitor comum folheia as páginas o seu jornal preferido -ato relíquia entre os mais jovens, e vê uma foto, não repara nos pequenos nomes , geralmente anotados bem perto da imagem: é ali que está na maioria das vezes o autor daquela que talvez seja uma das formas da artes mais subestimadas que é a foto jornalística. Não analisam a medida do esforço que o repórter fotográfico (prefiro usar o termo antigo. Alem de mais completo define melhor esses mestres numa época em que digital era apenas o nome da marca em que os dedos deixavam na cena de um crime ) Apesar da data de 2 de setembro, do qual é comemorada o dia mundial dessa turma –sim eles também tem um dia– estar longe, poderíamos dizer que as comemorações já começaram: O CCJE inaugurou a exposição Quadro a Quadro com obras de Luiz Carlos Barreto. Um dos maiores expoentes do movimento intitulado Cinema Novo, já foi diretor de fotografia- trabalhando até com Glauber Rocha em Terra e Transe, roteirista, produtor e colecionador sucessos como Dona Flor e seus dois Maridos com Sonia Braga e fracassos comerciais como a Paixao de Jacobina com Letícia Spiller . Mas foi nos anos 50 , como repórter fotográfico na revista O Cruzeiro que deu um grande impulso ao fotojornalismo brasileiro: “Naquela época formamos em O Cruzeiro uma corrente que se opunha ao fotojornalismo exibicionista e pregava um olhar contemplativo, a lá Bresson(famoso fotógrafo): a regra era não interferir, não deixar-se perceber pelo fotografado e buscar o olhar interpretativo que nasce da emoção flagrada no olhar, no gesto, na composição dos elementos”. diz Barreto .

Infelizmente nos tempos atuais quem faz mais sucesso são os paparazzi e suas incríveis e inusitadas fotos, feitas com verdadeiros malabarismos físicos e verbais. Provavelmente eles poderiam fazer muito mais porém são essas as fotos mais requisitadas por quase toda mídia impressa, afinal estamos vivendo uma época em que é o povo que dita o que (não) quer ver .E , o que antes era surpresa e deslumbramento virou banalidades com a duração dos segundos de uma virada de página, de mouse ou de um simples toque de dedo.

Mais uma do Língua...

O Carisma Religioso e os Interesses Pagãos da Igreja Católica

Lambido do Blog do Professor Fernando Massote

O carisma religioso com que se cobre a Igreja Católica serve, também, no plano mais político, para despistar o público das manobras da mesma para assegurar seus interesses nada transcendentais ou muito temporais. Vale, a propósito, lembrar a admoestação de Napoleão Bonaparte, segundo a qual “o Papa é um bruxo”. Quase como se recebesse muito apoio popular para representar interesses do diabo…



É importante chamar a atenção para o fato que a Igreja, à diferença do que crêem os seus fiéis, é menos uma emanação dos céus do que o resultado de interesses e articulações muito terrenas… Ela está sempre, bi-milenarmente, atenta ao trabalho de conquista e defesa de suas regalias profanas. Não há como duvidar que a realidade e a atuação da Igreja Católica preencham, com efeito, todos os requisitos que fazem dela um grande partido político interclassista e internacional. Ela tem, para isso, base popular, quadros intermediários, pessoal dirigente preparado e diversificado de primeiro escalão. Uma parte do prelado, dos mais baixos escalões até os mais elevados, representado pelos bispos e cardeais, perpassado por concepções tradicionalistas, se alinha com os grandes interesses estabelecidos da sociedade civil. São os setores conservadores, centristas e direitistas do clero. A outra parte, integrada pelos setores considerados, jornalisticamente, como “progressistas”, se alinha com a gama mais heterogênea dos interesses mais populares da sociedade civil. Esta última é a chamada “esquerda” ou, num vocábulo mais especializado, a ala “modernista” da Igreja.





A ala diretista, classicamente chamada de “integrista”, tradicionalmente posicionada a favor dos interesses dominantes ou mais ricos da sociedade civil, estabelece, dentro da Igreja, uma renhida disputa com a outra, sua antagonista. As duas compõem, não sem conflitos, seus interesses numa “instância” politicamente sintetizadora que o vocabulário mais analítico chama de “jesuítica”. Disciplinadas e enquadradas “jesuiticamente”, ou seja, sempre pelo alto, no interesse da Instituição, a ação das duas alas concorre para o sucesso da pressão que a Instituição católica exerce sobre o poder político “temporal”, em defesa de suas regalias. Desencadeadas uma contra a outra dividem a Igreja e a ameaçam com os cismas. Esta disputa pode chegar a fases extremamente críticas corporificadas nos cismas que já dividiram muitas vezes a Igreja Católica no decurso da chamada “modernidade”, de l492 até a atualidade.





Se os setores mais direitistas ou “integristas” do clero cedem demasiado aos interesses dominantes, a ala progressista ou “modernista”, lesada nos interesses que representa, se opõe e pode mesmo chegar ao cisma. Se, vice-versa, a ala mais progressista ceder “demasiado” (para o “paladar” da ala antagonista) aos interesses “dominados” ou populares, a ala conservadora se opõe e pode também chegar a adotar posturas “cismáticas” como ocorreu, durante os pontificados de Paulo VI e seus sucessores, no caso do bispo suíço Marcel Lefrebve, que se opunha às reformas do Concílio Vaticano II (l961-66). Aos “jesuitas”, considerados como instância moderadora orgânica da Igreja, compete assimilar os contrastes de forma a evitar a explosão da unidade eclesial ou divisão cismática.




Se estes fatos fossem observados mais seriamente, a atenção do público, no nosso país, estimulada pela imprensa falada, escrita e televisionada, estaria centrada no novo acordo entre o Estado e a Igreja que está sendo preparado há tempos e está programado para ser assinado no Brasil na semana que vem.




Não cabe ao nosso blog a tarefa “jesuitica” desempenhada, no Brasil, pela grande imprensa, que em defesa de políticas conciliatórias, censura os posicionamentos mais enérgicos, como ocorre hoje no Senado em torno do caso do coronel José Sarney.





A simples referência a alguns dos itens do documento a ser assinado pela Igreja e o Estado brasileiro bastaria para indicar a natureza dos interesses envolvendo a instituição “religiosa” Igreja Católica: o efeito civil do casamento só religioso ou a validade civil do ato religioso, a possibilidade de dar, na escola, ao aluno, o direito de escolher o que estudar na disciplina da religião e finalmente um elemento crucial para a sobrevivência civil e financeira mais imediata da Igreja que é o que estabelece ou não um vínculo trabalhista entre os padres e irmãs de caridade com as dioceses. Isto porque em vários países, padres e irmãs de caridade entraram na justiça para obter direitos trabalhistas da Igreja: salários, aposentadoria, indenização, etc.





Muitas demandas da Igreja, expressas nas cláusulas do documento a ser assinado, ferem o ideário e a natureza republicana do Estado no Brasil. Ela busca, com o documento, estabilizar e/ou institucionalizar seus interesses tradicionais e mais novos na sociedade brasileira. Alguns exemplos: seu reconhecimento como instituição da sociedade civil nacional como organização que disputa o “público” religioso. Ela busca as regalias que a privilegiam nesta disputa: a validade civil do casamento religioso, a sua presença na disputa do “eleitorado” estudantil para o seu credo nas escolas e o bloqueio, via acordo com o Estado, das reclamações trabalhistas de padres e irmãs de caridade que querem se aposentar, exigir indenizações… Esta foi, aliás, uma das exigências mais propaladas durante a última e recente visita do Papa aos Estados Unidos.





Ceder a estas exigências da Igreja e chegar mesmo a proteger o patrão contra o empregado é coerente com o ideário e as instituições laicas, republicanas e democráticas, universalizantes, do Estado brasileiro?