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quinta-feira, 5 de novembro de 2009
A Economia Moral das Multidões
As perspectivas de E.P. Thompsom e George Rudé
A partir da concepção da “História vista de baixo”, George Rudé e Edward Thompson sugerem que, para o entendimento da dinâmica das multidões européias dos séculos XVIII e XIX, devem ser levados em conta não só o contexto social da época, mas também todas as expectativas oriundas de tradições e costumes que variavam no tempo e no espaço.
Ao tratar das disputas trabalhistas, o padrão dos distúrbios e o comportamento das multidões, George Rudé analise as tendências à violência dessas manifestações como atitudes que evidenciavam experiências possíveis e realizáveis dentro de expectativas moldadas por expressões comportamentais inerentes às idéias e aos valores tradicionais.
Tais comportamentos turbulentos não seguiam padrões pré-estabelecidos; os elementos fortuitos e a espontaneidade devem ser levados em conta – casualidades estas que eram baseadas em uma longa série anterior de incidentes as quais lhes deram significados – mas a concepção espasmódica e instintiva das ações do povo deve ser descartada; e certo sentido de unidade nas ações dos indivíduos deve ser considerado.
A experiência de um grupo é um caminho interessante para se traçar comportamentos, condutas e costumes dos indivíduos no interior deste mesmo grupo. De acordo com Edward P. Thompson, a experiência de classe “é determinada, em grande medida, pelas relações de produção em que os homens nasceram – ou entraram involuntariamente.” Neste sentido, a experiência é um elemento fundamental na obra de E. P. Thompson para entender a dimensão histórica de determinado grupo. Estudando a classe trabalhadora inglesa do final do século XVIII e início do século XIX, o autor afirma que é somente por meio da experiência que o indivíduo desenvolve e incorpora valores, constituindo-se como classe.
Para Edward P. Thompson, classe não constitui uma categoria estanque, mas um fenômeno histórico composto por uma série de experiências em relação e oposição umas com as outras, sempre se constituindo, em um contínuo fazer-se. Desse modo, a classe não pode ser definida pelo local que o sujeito ocupa nas relações de produção, mas deve ser também compreendida a partir do acesso que o indivíduo tem a determinados valores e experiências. Neste sentido, consciência de classe é
a forma como essas experiências são tratadas em termos culturais: encarnadas em tradições, sistemas de valores, idéias e formas institucionais.
Em seu estudo sobre a multidão inglesa do século XVIII, E. P. Thompson analisa os motins supostamente provocados pela fome. O autor discorda do termo turba para definir a multidão de trabalhadores e do termo motim para definir as lutas e reivindicações destes últimos. Thompson discorda da perspectiva da história econômica tradicional, para a qual os distúrbios ingleses do século XVIII eram provocados eminentemente pela fome. Para ele, é possível detectar uma noção legitimadora em quase toda ação popular do século XVIII. Neste sentido, os homens e mulheres da multidão estavam imbuídos da crença de que estavam defendendo direitos ou costumes tradicionais.
Neste sentido, Rudé afirma que grupos e indivíduos com motivações muito variadas podiam ser recrutados em apoio a uma causa comum e para dirigir seu protesto contra um alvo comum, não implicando necessariamente nenhum direcionamento ou controle por parte das lideranças. Postulando uma perspectiva totalmente contrária a História convencional da multidão, George Rudé entende que, por trás das suas atitudes impulsivas, havia a visão arguta e imaginativa e práticas que procuravam atender as questões mais prementes daquela sociedade.
Para Thompson, os motins e protestos da multidão inglesa não estavam relacionados diretamente à fome, mas à morte da economia moral das provisões e à morte da intervenção paternalista na indústria e no comércio. O homem comum defendia suas antigas noções de direito ao mesmo tempo em que procurava reafirmar o seu status profissional como artesão. Neste sentido, podemos perceber a dinâmica das práticas da multidão como atitudes que procuravam minorar as vicissitudes daquela sociedade.
Referências:
George Rudé - "A Economia Moral das Multidões"
E.P. Thompsom - "A formação da classe operária inglesa"
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