terça-feira, 31 de março de 2009

45 anos que não podem ser esquecidos jamais

Hoje, terça-feira,31 de março, o Brasil recorda 45 anos desde que os militares tomaram o poder no país e implantaram um regime ditatorial que durou duas décadas inteiras. Período em que a nação beijou a lona, pessoas de bem tiveram que optar entre ir para o exílio ou ficar à mercê da baioneta.

Imprescindível, entretanto, é analisar um movimento tão rasteiro quanto o governdo dos generais que, nos bastidores, ganha fôlego. Na contramão da história, forças retrógradas ainda tentam impedir que a nação encare o passado de frente e puna os reponsáveis pelas atrocidades cometidas de 1964 a 1984. Grandes e influentes veículos de comunicação - Veja e Folha de S. Paulo, por exemplo - são usados para desmerecer o que, na América do Sul mesmo, já encontra espaço no campo real dos fatos. A Argentina tornou sem efeito a Justiça Penal Militar, que amparava os assassinos de farda atuantes de 1976 a 1983. Agora, eles serão julgados pela justiça civil comum. Enquanto que, no Uruguai, os parlamentares acabaram com a Lei da Caducidade, que anistiava militares e policiais acusados de violação aos direitos humanos.

A revista Veja ridicularizou a tentativa dos ministros da Justiça, Tarso Genro, e dos Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vanuci, de abrir arquivos secretos da ditadura que oficialmente teriam sido queimados. E a Folha de S. Paulo veiculou polêmico editorial em que classifica o regime da baioneta brasileiro de "ditabranda", se comparado com outros semelhantes. Na esteira da discussão certamente está a Lei da Anistia que, diga-se de passagem, até hoje, apesar de algumas tentativas tímidas de dar continuidade a ela, ainda carrega sobre si um criminoso sentido dúbio: assim como os acusados de crimes políticos, também os representantes do Estado, autores de qualquer violência política, estavam automaticamente perdoados. O desejo é evitar uma suposta "caça às bruxas".

Enquanto o Brasil resistir à urgência de passar a limpo esse terrível episódio de sua história, seus mortos não descansarão em paz e tampouco as gerações futuras poderão orgulhar-se de uma pátria que sequer teve a dignidade, e coragem, de enfrentar os fantasmas de farda. Tudo porque institucionalizou a impunidade.

Que esse 31 de março sirva para todos colocarem a mão na consciência. Que as escolas e as universidades jamais se esqueçam de ensinar aos jovens que a democracia usurpada transforma o povo em pura massa de manobra. Daí a necessidade de lembrar, lembrar e lembrar de tudo que aconteceu. Das torturas covardes ocorridas nos porões. Só assim será possível criar neles um sentimento crítico e de alerta, antído eficaz para que nunca mais os generais saiam dos quartéis e sintam que podem gerir com competência a coisa pública.

Não que a democracia surgida após a ditadura tenha honrado a luta dos que resistiram bravamente à linha-dura do quepe. Os escândalos de todos os tipos - econômicos, financeiros e políticos - estão aí para envergonhar os cidadãos dígnos. Mas ainda assim, a liberdade democrática é melhor do que a opressão. Cuidado com o revisionismo histórico travestido da intenção de sepultar o passado criminoso. Foto aldoadv

No dia em que a liberdade foi-se embora

Por Celso Lungaretti

Eu tinha 13 anos em 31 de março de 1964.

Puxando pela memória, só consigo me lembrar de que, naqueles dias, a TV vendia o golpe de estado em grande estilo, insuflando tal euforia patrioteira que os cordeirinhos faziam fila para atender ao apelo: "Dê ouro para o bem do Brasil!".

Matronas iam orgulhosamente tirar suas alianças e oferecê-las para os novos redentores da Nação, torcendo para que as câmeras as estivessem focalizando naquele momento solene.

Desde muito cedo eu peguei bronca dessas situações em que a multidão se move segundo uma coreografia traçada por alguém acima dela, com cada pessoa esforçando-se para parecer mais sincera no papel representado... de forma tão exagerada que acaba se mostrando, isto sim, artificial e canastrônica.

De paradas de 7 de setembro a procissões, eu não suportava a falsa uniformidade. Gostava de ver cada indivíduo sendo ele mesmo, igual a todos e diferente de todos ao mesmo tempo.

E, na preparação do clima para a quartelada, houvera a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade, com aquelas senhoras embonecadas e aqueles senhores engravatados me parecendo sumamente ridículos.

Aqui cabe uma explicação: duas fortes influências me indispunham contra a marcha da classe média baratinada.

Minha família era kardecista e, quando eu tinha oito, nove anos, me levava num centro espírita cujo orador falava muito bem... e era exacerbadamente anticatólico.

A cada semana recriminava a riqueza e a falta de caridade da Igreja, contrastando-a com a miséria do seu rebanho. Cansava de repetir que Cristo expulsara os vendilhões do tempo, mas estes estavam todos encastelados no Vaticano.

Vai daí que, cabeça feita por esse devoto tardio do cristianismo das catacumbas, eu jamais poderia aplaudir um movimento de católicos opulentos.

E eu devorara a obra infantil de Monteiro Lobato inteira. Com ele aprendera a prezar a simplicidade, desprezando a ostentação e o luxo; a respeitar os sábios e artistas, de preferência aos ganhadores de dinheiro.

Mas, afora essa rejeição, digamos, estética, eu não tinha opinião sobre o golpe.

Escutava meu avô dizendo que, se viesse o comunismo, ele teria de dividir sua casa com uma família de baianos (o termo pejorativo com que os paulistas designavam os excluídos da época, predominantemente nordestinos).

Registrava a informação, que me parecia um tanto fantasiosa, mas não tinha certeza de que o meu avô estivesse errado.

O certo é que os grandes acontecimentos nacionais me interessavam muito pouco, pois pertenciam à realidade ainda distante do mundo adulto.

Na canção em que Caetano descreve sua partida de Santo Amaro da Purificação para tentar a sorte na cidade grande, ele lembrou que "no dia em que eu vim-me embora/ não teve nada de mais", afora um detalhe prosaico: "senti apenas que a mala de couro que eu carregava/ embora estando forrada/ fedia, cheirava mal".

Da mesma forma, o dia que mudou todo meu futuro -- seja o 31 de março festejado pelos tiranos, seja o 1º de abril em que a mentira realmente tomou conta da Nação -- não teve nada de mais.

Gostaria de poder afirmar que percebi, logo naquele momento, estarmos começando a carregar uma fedorenta mala sem alça, da qual não nos livraríamos por 21 longos anos.

Mas, seria abusar da licença poética e eu não minto, nem para tornar mais vistosas as minhas crônicas.

Os mentirosos eram os outros. Os fardados, as embonecadas e os engravatados.

Uma página mal virada...


Há 45 anos atrás a nossa sociedade viveu um dos momentos mais funestos de sua história.
Uma elite truculenta e sem escrúpulos perpetrou um golpe de Estado covarde e bisonho, impedindo a consolidação da democracia no Brasil.
Uns chamaram este golpe de "ditadura envergonhada", outros, pasmem, de "ditabranda". Eu, a chamo de DITADURA DESAVERGONHADA e HIPÓCRITA!
Como setores que deveriam resguardar os interesses nacionais (do povo, em primeiro lugar) e a defesa da pátria, como os militares, puderam engendrar tamanho descalabro contra a riqueza e a soberania nacional em favorecimento a interesses estrangeiros, principalmente norte-americanos?
Passados 45 anos, não devemos deixar de relembrar este insólito episódio, por mais que as "viuvas" da ditadura e os apaziguadores de plantão queiram. Pois, não se trata de uma "pagina virada" de nossa História. Trata-se, sim, de um prato mal digerido, um caso mal resolvido...
Hoje, percebemos no dia-a-dia a herança desse período infeliz: Velhos coronéis oligarcas ainda dominando a política, dilapidação do patrimônio público, práticas truculentas de setores que deveriam resguardar a segurança da população e a velha idéia de que a sociedade deve ser ordenada de cima, com mão de ferro.
Para que essa história não se repita, nem como farsa, devemos todos, os que viveram aqueles anos e os que não, relembrar os episódios que marcaram aquele 31 de março de 1964. E condená-los veementemente!

segunda-feira, 30 de março de 2009

Um pouco de humor...


NOTA DE REPÚDIO
Professor Hariovaldo Almeida Prado


Indignados e perplexos, repudiamos a colossal agressão perpetrada por este governo usurpador e ilegítimo contra os homens e mulheres boas da nação. Não contentes com as ações policialescas contra uma das maiores construtoras do país, os petistas ignaros lançaram sua gestapo implacavelmente contra uma gentil e meiga dama da sociedade e sua pequena empresa, talvez corroidos pela inveja de nunca terem podido desfrutar dos mimos vendidos em sua loja, visto que são fracassados e incompetentes, forjam ilegalidades e falsas acusações para arrasarem com o que a sociedade Paulistana tem de melhor.

Celso Lungaretti ataca novamente!

A CRIMINALIDADE É INTRÍNSECA AO CAPITALISMO


O problema da escalada da criminalidade no Brasil vai muito além da ótica simplista e repressiva da nossa mídia. Tem a ver com o estilhaçamento da família e da sociedade sob o capitalismo globalizado.

Ambas ainda se mantinham razoavelmente estruturadas no chamado capitalismo industrial, apesar de todos os defeitos que tão bem conhecemos: desigualdades econômicas e sociais, elitismo, autoritarismo, etc.

No final da década de 1960, entretanto, esse modelo chegou ao esgotamento. O próprio capitalismo demandava uma desestruturação da antiga sociedade, para erguer uma nova sobre seus escombros. Os jovens, entretanto, tentaram ir mais longe: em vez da substituição de uma forma de dominação por outra, sonharam com o fim de todas as dominações.

Com o fracasso das tentativas revolucionárias do período (da Primavera de Paris à de Praga, passando pela contestação nos EUA e pelos movimentos revolucionários no 3º mundo) implantou-se a sociedade de massas, em que tudo e todos devem estar permanentemente disponíveis para o consumo.

No Brasil, isto se deu em meio à paz dos cemitérios, na terrível década de 1970.

Os órgãos de comunicação, assumindo plenamente as características de uma indústria cultural, deixaram de lado a missão de formar (expoentes da elite) para o exercício do pensamento crítico, restringindo-se a apenas informar (a elite e a classe média) fragmentariamente e a repisar os valores capitalistas. A formação de cidadãos cedeu lugar à capacitação de profissionais.

O trabalho perdeu qualquer atrativo que ainda tivesse como concretização do potencial criativo do ser humano. Tornou-se uma corrida de ratos atrás do dinheiro, sem ética nem o mínimo respeito pelo interesse coletivo.

O ingresso em massa da mulher no mercado de trabalho aviltou remunerações e subjugou toda a família à engrenagem de produção e consumo, transformando o lar em mero dormitório.

A família foi desvalorizada pela influência atordoante da comunicação de massas. Pais e mães cansados não conseguem competir com o brilho da telinha que hipnotiza as crianças, impingindo-lhes os valores consumistas.

Então, nada existe de estranho no fato de que as pessoas sem aptidões para competir dentro do sistema busquem atalhos para conseguir aqueles bens dia e noite propagandeados como objetos de desejo.

Perplexos, muitos cidadãos gostariam de ver aplicadas aqui as punições drásticas dos países muçulmanos: que se cortassem as mãos dos ladrões, o pênis dos estupradores e a vida dos assassinos. Olho por olho, dente por dente.

Outros pedem mais policiais nas ruas, de preferência atirando primeiro e perguntando depois... nos bairros pobres ou quando os suspeitos são negros, pardos ou malvestidos, é claro.

E há os que defendem a maioridade penal a partir dos 14 ou 16 anos, o que somente fará os bandidos diminuírem proporcionalmente a idade do recrutamento de seus serviçais, até que tenhamos crianças empunhando fuzis e metralhadoras. O velho chavão moralista mudará de “hoje mocinho, amanhã bandido” para “hoje bandido, amanhã defunto”.

No fundo, tudo isso são paliativos. Inexiste forma ideal de se lidar com aqueles que já se tornaram bestas-feras, nocivos para si próprios e para a sociedade. Pode-se, quanto muito, controlá-los – e a um custo dos mais elevados para um país de tantas e tão dramáticas carências.

Exterminá-los, jamais! Isso levaria a violência a patamares apocalípticos, pois os bandidos não teriam mais nada a perder. Nós, sim, perderíamos, ao abrirmos mão da civilização arduamente edificada nos milênios que nos separam da horda primitiva, voltando à estaca zero.

O xis do problema, no entanto, nunca é discutido: o fato de que a criminalidade é intrínseca ao capitalismo e subsistirá enquanto não substituirmos o primado da ganância e da competição pelo da solidariedade e da cooperação.

Vivemos numa sociedade que desperdiça o potencial já existente para se proporcionar uma existência digna a cada habitante do planeta; que faz as pessoas trabalharem muito mais do que o suficiente para a produção do necessário e útil; que condena parcela substancial da população economicamente ativa ao desemprego, à informalidade e à mendicância; que estimula ao máximo a compulsão consumista sem dar à maioria a condição de adquirir seus objetos de desejo; que retirou do trabalho qualquer atrativo como realização individual, tornando-o apenas um meio para obtenção do vil metal (ou seja, uma nova forma de escravidão).

Então, os que ainda têm emprego e os empreendedores continuarão irrealizados, esforçando-se demais para nunca obterem as gratificações almejadas, pois a lógica do capitalismo é perpetuar a insatisfação e mitigá-la com o consumo (a cenoura colocada à frente do asno para que ele continue puxando a carroça). Um círculo vicioso perverso que faz a fortuna dos analistas, dos farsantes religiosos e dos picaretas da auto-ajuda.

Alguns excluídos continuarão vivendo das esmolas dos programas oficiais e vão ajudar a eleger aqueles a quem convém mantê-los em eterna dependência.

Outros tentarão obter pela força aquilo que jamais alcançarão pela competência. E servirão de espantalho para intimidar as classes superiores, fazendo-as crer que uma sociedade policial seria a solução.

É paradoxal que, em nossa época, formidáveis avanços científicos e tecnológicos coexistam com uma regressão ao ambiente medieval, com os nobres entrincheirados em condomínios de alto padrão, circulando em veículos brindados e só podendo levar vida social em shopping centers, sem ousarem expor-se fora de suas fortalezas. No exterior desses espaços fortificados e vigiados, os bárbaros estão sempre à espreita, prontos para desferir seus golpes.

Uma constatação terrível de Friedrich Engels, um dos pais do marxismo: quando uma sociedade consegue aniquilar as forças progressistas que poderiam levá-la a um estágio superior de civilização, acaba sendo destruída pela barbárie. O paralelo é com Roma, que venceu os gladiadores de Spartacus mas sucumbiu aos povos atrasados, condenando o mundo a séculos de trevas.

E o papel de carrasco da sociedade putrefata não será necessariamente cumprido pelos excluídos do progresso desequilibrado e insano: após a recessão capitalista em curso, com enorme risco de evoluir para depressão, vêm aí as décadas de devastações com que o meio ambiente pagará, na mesma moeda, àqueles poucos que gananciosamente o devastaram e àqueles muitos que bovinamente consentiram na devastação.

O que resta saber é se os homens conseguirão unir-se na adversidade, assumindo uma responsabilidade coletiva pela perpetuação da espécie humana.

Pois, prevalecendo a mentalidade do salve-se quem puder, a humanidade dificilmente sobreviverá ao capitalismo.

segunda-feira, 23 de março de 2009

GRANDES PENSADORES - S. FREUD


Segundo Sigmund Freud, o sofrimento do homem provém de três direções: do próprio corpo, pela decadência e pela ansiedade; do mundo externo, através de uma força de destruição esmagadora; e pelo seu relacionamento com os outros homens. A pressão externa fez com que o homem moderasse as suas reivindicações de prazer. Para que o homem pudesse viver em sociedade teve que abandonar seu extinto de agressividade e abrandar sua compulsão sexual.
A vida comunitária dos seres humanos constituiu-se a partir de um conceito duplo: primeiramente a compulsão para o trabalho, criada pela necessidade externa; em seguida vem o amor, que fez o homem relutar em privar-se de seu objeto sexual, a mulher; esta, por sua vez, precisou privar-se daquela parte de si própria que lhe fora separada, o filho. O amor, então, impõe restrições à civilização, querendo conservar seus membros juntos a si; ao mesmo tempo, a civilização impõe regras e proibições restritivas ao amor (uma dessas restrições seria a excitação visual em detrimento à excitação olfativa do desejo sexual). O argumento de Freud, portanto, seria de que, para sermos felizes, teríamos que abandonar a civilização.