quarta-feira, 25 de fevereiro de 2009

APOCALYPTO

(APOCALYPTO) EUA, 2007 – Direção: Mel Gibson

A história da escravidão foi marcada por assassinatos e violência extremados. Diversos documentos, textuais ou não, contemporâneos à escravidão ou posteriores, explicitam o grau de violência desta funesta instituição. Como quaisquer textos, os relatos são carregados de subjetividades e intenções e, portanto, suscetíveis a julgamentos de valores, pressupostos ideológicos etc. Verificamos em textos, como, por exemplo, o filme de Mel Gibson Apocalíptico aspectos interessantes no que diz respeitos às intenções do autor ao produzir tais relatos. No filme observamos a predominância de uma visão protestante (apesar do diretor ser católico, porém produzindo numa sociedade predominantemente protestante) acerca do processo de captura e escravização do homem. Em Apocalypto, o processo de escravização é de tal barbarismo que já denotaria uma “sociedade podre por dentro”, ou seja, uma sociedade cujos deuses e costumes não estariam de acordo com os preceitos cristãos.
No processo de produção imediata do escravo, o processo de aprisionamento e captura é de uma violência chocante, os cativos são acorrentados uns aos outros e amarrados com cordas pelo pescoço e arrastados pelo caminho. O aprisionamento, desse modo, é produto da guerra, forma legitimada de trocas não-equivalentes, e, portanto, direcionada contra o elemento estrangeiro. O filme recebeu crítica negativa por este aspecto violento de retratar indígenas aprisionando indígenas, mas, convenhamos, quando e em qual lugar a escravização do homem pelo homem foi um processo brando? È interessante notar a violência explicitada nos documentos, principalmente os textos abolicionistas, ao relatar a trajetória dos africanos nos negreiros. Durante o percurso nos tumbeiros, os textos nos contam sobre os percalços da viagem, o sofrimento e as mortes. A trajetória dos indígenas no filme também é marcada por angústia e aflição. No entanto, as perdas de vidas devem ser ponderadas na medida em que os escravos eram mercadorias valiosas e, portanto, os mercadores deviam ter alguma preocupação com a preservação de vidas. No filme, por exemplo, a morte de um prisioneiro (homem) causou constrangimento entre os captores.
O tráfico negreiro trouxe às Américas uma proporção maior de homens do que de mulheres. Este fato se deve ao objetivo principal do tráfico, o qual seria o emprego de elementos masculinos principalmente na lavoura exportadora. As mulheres e crianças, mesmo empregadas em menor proporção, eram bastante aproveitadas. Neste aspecto, o filme nos mostra que, na escravização entre os indígenas (pelo menos naquele contexto), o objetivo principal era o aprisionamento de homens para sacrificar aos deuses (motivações político-religiosas) ou empregá-los nas minas (motivações econômicas). As mulheres eram capturadas para o uso econômico e para o casamento, enquanto as crianças eram descartadas.
Apocalypto têm aspectos bastante interessantes como a preocupação com a linguagem, os personagens falam os dialetos locais (para isso houve uma preocupação na produção em pesquisar tais dialetos) e a concepção do tempo circular (o mundo para nossos antepassados ameríndios era concebido como uma seqüencia infinita de ciclos contínuos – o que acontecia era uma repetição do que já havia acontecido antes, já estava previsto pelos deuses e não havia como escapar ao destino traçado por eles, ao contrário de nossa concepção de tempo, linear e descontínuo). A presença do oráculo, a menina encontrada no caminho, é o primeiro indício de uma mudança brusca. No final, insinua-se que o pior estava por vir.

UM DIA DE CÃO

(Dog Day Aftermoon) EUA, 1973 Direção: Sidney Lumet


Tarde quente no Broocklyn. Três homens resolvem assaltar um banco. Um deles, antes mesmo de começar o assalto, cai fora. São todos “perdedores”, segundo o estilo de vida americano. Sal (John Cazale) é psicologicamente perturbado. Sonny (Al Pacino) quer apenas satisfazer o capricho de seu verdadeiro amor. Ambos não se enquadram naquilo que a sociedade espera deles. O assalto, atrapalhado e mal planejado, acaba se transformando em espetáculo midiático A efervescência política está quente naquele EUA da época do Vietnã. Sonny parece ser o herói que desafia o sistema. “Porque está assaltando um banco?, pergunta o repórter de TV. “Para arrumar dinheiro”, responde Sonny. “Não poderia arrumar um emprego?”, insiste o repórter. “Trabalhar em quê? Caixa de banco? Viver na miséria?”. O público assistente vai ao delírio e apóia a causa de Sonny. porém, eles estão cercados – não há saída. A vida privada se torna um circo e fica claro que ninguém que desafia a moral e a propriedade privada sai ileso. O elemento desajustado é eliminado.
Oscar de roteiro original, o filme, baseado numa história real, oferece um ótimo desempenho de Al Pacino e John Cazale e uma direção impecável de Sidney Lumet.

A GUERRA DOS ROSES

(the war of the roses) EUA, 1989 - Direção Danny DeVito

Quem gosta de cão case com quem gosta de cão, quem gosta de gato, idem. Desde os tempos dos gregos antigos a comédia e a tragédia significavam um espaço onde era possível fazer associações através de reconhecimento/estranhamento, por meio de metáforas e simbolismos, das questões inerentes à sociedade e da dinâmica constitutiva da existência do cidadão e do seu papel na pólis. Assim, o teatro grego tinha a função de criar percepções de identidade e de alteridade, estabelecendo limites e balizamentos para a vida cotidiana. Os excessos e as faltas eram devidamente punidos no desenlace (na tragédia) e os personagens e as situações descomedidas eram criticados e ridicularizados (na comédia).
A Guerra dos Roses é, talvez, uma das comédias mais amargas de Danny DeVito. Um casamento em que tudo parecia perfeito... Um marido com uma carreira em ascendência, esperando da esposa nada além de um papel secundário na sua trajetória. Ele, confiante no seu brilhantismo. Ela, conformada com sua mediocridade. Junte uma esposa entediada e buscando uma afirmação profissional com um marido desinteressado que só pensa no seu trabalho e temos um casamento aparentemente feliz transformando-se em uma tragédia. Michael Douglas, Kathleen Turner e o próprio Danny DeVito estão ótimos nos papeis do marido (Oliver), da esposa (Bárbara) e do advogado que tenta os aconselhar no divórcio.

quarta-feira, 18 de fevereiro de 2009

TOMATES VERDES E FRITOS

fried green tomatoes

Um trem imaginário abre caminho para a dimensão mágica do passado, espaço reservado à memória, pela qual os sonhos são resgatados.
Uma dona de casa emocionalmente reprimida aos poucos vai se envolvendo com os encantos dos relatos de uma simpática velhinha contadora de histórias. Suas atitudes diante de uma existência medíocre vão aos poucos se transformando ao tomar contato com a história de duas jovens mulheres que desafiaram o machismo e o preconceito racial da sociedade sulista nas primeiras décadas do século XX. Towanda!
Uma fábula que exalta a memória (elixir que não deixa a História e os sonhos morrerem) e o inconformismo frente às dificuldades impostas e aos preconceitos vigentes; uma ode à amizade. Um hino de amor ao companheirismo, à compreensão do outro, à sociabilidade proporcionada por pequenas coisas como o prazer de saborear uma boa iguaria e à comensalidade. Uma advertência poética perante um mundo cada vez mais preocupado com insignificâncias como a competição desenfreada, o individualismo, a sedução do progresso técnico, o brilho da fama efêmera. Um mundo no qual as pessoas já não arrumam mais tempo para o sonho, a fantasia, a imaginação, a fábula, as lições apreendidas com o passado. Um mundo no qual o que importa são o presente cotidiano e a realidade banalizante.
Destaque para as interpretações impecáveis dos dois pares de atrizes Kathy Bates/Jessica Tandy e Mary Stuart Masterson/Mary-Loise Parker e a brilhante direção de Jon Avnet.

terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

Minha vida de cachoro

Os leitores devem estar curiosos a respeito do suposto “trabalho escravo” ao qual fui submetido a pouco tempo atrás. Antes de mais nada, devo esclarecer que o termo “trabalho escravo” foi um tanto exagerado de minha parte. Trabalho escravo hoje em dia é sinônimo de trabalho forçado não renumerado, mas, historicamente, uma coisa não é necessariamente sinônima da outra. Vejamos: o trabalho compulsório instituído no Brasil por mais de trezentos anos era forçado, sem dúvida, mas nem sempre não renumerado. Havia uma categoria de escravos que ganhavam pelos seus serviços. É claro que nem sempre, aliás, raramente, eles desfrutavam plenamente da remuneração pelo seu trabalho; uma boa parte, ou tudo, ia para o bolso de seus senhores, porém havia possibilidade dos escravos juntarem pecúlio, o qual era empregado para a compra de sua alforria.
Estes tipos de escravos eram conhecidos como “escravos de ganho”. Tratava-se de uma prestação de serviço por parte do cativo no qual ele tinha licença de seu senhor para prestar serviço para outrem em troca de pagamento pelo mesmo. Muitas vezes o dono do escravo alugava seus serviços para um concessionário por um tempo determinado ou permanente. Havia ainda os escravos de “ganho” que vendiam mercadorias diversas (frutas, legumes, quitutes, bugigangas) em bancas estáticas ou de porta em porta, ou saíam oferecendo seus serviços para quem quisesse ou precisasse (pedreiros, carpinteiros, ourives, funileiros). É importante esclarecer que muitas vezes o senhor ou senhora dona do escravo dependia totalmente do “ganho” do seu escravo para sua subsistência (ao contrário da imagem que muitos têm a respeito da escravidão no Brasil, a maioria dos senhores de escravos não eram milionários detentores de centenas de cativos, mas pessoas pobres donos de um ou dois escravos).
Dito isto, vou contar a história de minha experiência como “escravo de ganho” na semana passada. Precisando descolar um “qualquer” para passar o Carnaval, aceitei um serviço num pequeno restaurante. A princípio achei que ia servir as mesas e atender os fregueses no balcão, moleza, pensei. Já na entrevista o senhor, digo, dono me avisou que o serviço era pesado: ao chegar, às 10 horas da manhã, tinha que “soltar” o arroz das panelas; imediatamente após fazer isto, passava para a pia do balcão para começar a lavar a louça durante o almoço (os pratos, talheres e copos tinham que ser repostos enquanto o almoço era servido). Após a correria do almoço, o qual durava de 11 horas da manhã a 14 horas da tarde, deveria deixar o balcão impecavelmente limpo e passar para a cozinha para lavar o que restava da louça e as panelas. Ele me levou até a cozinha e constatei que a mesma era incrivelmente limpa (coisa incomum para um restaurante cujo menu invariavelmente era composto por frituras). Bem, continuou o dono, após lavar as louças e panelas, tinha que limpar o fogão, as paredes, as prateleiras, a dispensa, o chão. Depois, limpar o banheiro e o resto do restaurante.
Bem, até aí morreu Neves. Não há nada demais nesse tipo de serviço. Os trabalhadores das minas, dos garimpos, os cortadores de cana-de-açúcar, os trabalhadores da construção civil e outros tantos sofrem muito mais em suas labutas. O que eu não contava era com o tipo de patrões que ia lidar. Era um casal. Ele ficava na frente do restaurante servindo as mesas e recebendo as contas. Ela, na cozinha atendendo aos pedidos. Eu ficaria na louça na hora do almoço. Só que o movimento era intenso nesta hora e ele não dava conta de atender aos clientes. Assim, ao mesmo tempo em que eu tinha que dar conta da louça, tinha que auxiliá-lo no atendimento. Então, era um tal de parar para servir um refrigerante aqui, fazer um suco ali, pegar um gelo acolá... E tudo isso levando bronca de que eu era muito lerdo!
Um detalhe importante: ela, a senhora, digo, a patroa, sofria de TOC (Transtorno Obsessivo Compulsivo) em alto grau! Ele a acompanhava (talvez por medo da mulher). Tudo para eles tinha que ser impecável em matéria de ordem e limpeza. O arroz que eu soltava pela manha (ô arroz papa!) não podia ficar um bolinho sequer. Tinha que ir até o fundo da panela e soltar tudo que tivesse agarrado. E tudo a toque de caixa! “Rápido, rápido, ta demorando muito!”, vociferava a bruaca. Na hora do almoço meu sufoco aumentava. Havia três panos (todos impecavelmente limpos): um para a pia, que devia ficar impreterivelmente seca mesmo durante a lavagem, um para eu enxugar as mãos e um terceiro para eu secar os pratos e talheres. Tinha que recolher os pratos que o patrão trazia das mesas e punha em cima do balcão (no segundo dia já tinha que eu mesmo ir recolher os pratos das mesas), retirar o resto da comida raspando o prato na lata de lixo, lavar os pratos, copos e talheres, por para escorrer, secar e entregar de volta para a bruxa que ficava o tempo todo cobrando: “me dê mais pratos, mais pratos!” (ah, tinha pratos grandes e pequenos). Bem, a todo tempo tinha que interromper este ciclo para servir uma ou outra solicitação de suco, refresco, refrigerante ou algo para a cozinha. A cada interrupção tinha que secar as mãos. A esponja que eu lavava os pratos tinha que ser lavada para retirar a gordura e lavar os copos. Não preciso dizer que eu me atrapalhava todo e tudo se acumulava. Os patrões não poupavam reprimendas na frente de todos.
Quando a hora do almoço estava para terminar, os pratos e talheres que sobravam não podiam mais ser lavados na pia da frente. Tinha que ser recolhidos para a cozinha. A pia da frente tinha que ser muito bem limpa para lavar os copos que sobravam (bobagem, pois, na hora do sufoco do almoço os copos eram lavados juntos com os pratos e talheres). Após lavar os copos, passava-se para o balcão (o pano da pia tinha que ser constantemente lavado e torcido). Havia um ritual que tinha que ser seguido à risca. O pano tinha que ser ESFREGADO no balcão, nas laterais, nas paredes, por todos os lugares onde tivesse passado algum resquício de comida. Tudo isso muito rápido e muito bem feito (como nada ficava “bem feito” eu tinha que repetir as tarefas sempre, e, como tinha que repetir, nunca fazia com a rapidez apropriada).
Após esse martírio, começava meu verdadeiro suplício: iniciava a limpeza na cozinha. Primeiramente a louça que sobrava do almoço. Depois os vasilhames de plásticos onde ficavam as carnes guardadas (as que comportavam frango e empanados tinham que ter atenção especial, além de lavados com detergente tinha que ser usado um produto para tirar o cheiro de ovo e de frango) e as panelas. Estas tinham que ser ARIADAS com palha de aço (e tinham que brilhar como novas!). O fogão, as paredes, a fritadeira, as prateleiras tudo muito bem limpo, ora com esponja e detergente, ora com pano e detergente ou pano com outro produto mais forte. Não preciso dizer que o tempo todo ela dizia que eu estava muito lento e que não ia dar tempo de dar conta de tudo! A cada término de tarefa a patroa me lembrava de como deveria guardar e tudo tinha uma ordem e um lugar certo para cada coisa. Ai de mim se eu esquecia uma seqüência ou pusesse alguma coisa fora do lugar. Bem, resumindo, a cozinha era estreitíssima, quente e ela ainda fumava o tempo todo! Tudo que eu fazia tinha que ser perfeitamente executado. Os panos de chão, de prato e toalhas tinham que ficar alvíssimos para o outro dia. Quando eu conseguia terminar tudo do jeito que eles queriam, já era noite.
Ora, eu fui (muito mal) pago por essas tarefas e você pode perguntar: quando essa situação pode ser comparada à escravidão? Na humilhação, na pressão psicológica, na opressão do trabalho. Muitos escravos (acredito que a maioria) deviam ouvir o tempo todo que não passavam de trastes imprestáveis, preguiçosos, incompetentes (eles não me diziam isso explicitamente, mas era como se exprimissem tais adjetivos). Meu vexame era para mim insuportável. Minhas mãos doíam, meus dedos ficaram todos esfolados Pensava como os pobres cativos suportavam uma vida inteira de humilhação e sofrimento e compreendia, mais do que nunca, a reação de alguns ao resistirem a esta existência madrasta simplesmente se vingando de seus algozes. No terceiro dia não suportei e dei um chute nos patrões. Joguei a toalha.

Merda no Ventilador

O senador Jarbas Vasconcelos resolveu botar a boca no trombone dizendo que seu próprio partido, o PMDB, faz política em troca de favores e corrupção para manter-se no poder. Ora, o nobre parlamentar não citou nomes e limitou-se a vociferar, cuspindo para todos os lados. Não causou o impacto que supostamente pretendia, pois os presidentes das casas (Senado e Câmara, José Sarney e Michel Temer, respectivamente) declararam não passar de um “desabafo” do colega, aumentando o descrédito da política brasileira.
De fato, o PMDB tem cerca de 40% de seus parlamentares e praticamente a metade de sua banca no Senado, composta de 10 senadores, sob suspeita. Só que o problema não se resume a este partido, vide os últimos escândalos de Brasília...

Veja o texto de Eugenio Bucci:

As "Páginas Amarelas" com o senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja, dizendo que o PMDB só pensa em cargos e pratica nada menos que a corrupção desenfreada, continuam a render e a render. O Jornal Nacional de segunda-feira (16/2) mostrou o peemedebista, há 42 anos no partido, reafirmando suas caracterizações, enquanto Sarney, atingido pelas declarações do dissidente, afirma preferir o silêncio. Na mesma segunda, na Folha de S.Paulo, Fernando Rodrigues pede, com razão, que Jarbas aponte nomes envolvidos nas irregularidades que denuncia e, no Globo, Ricardo Noblat diz que ele deu "a mais devastadora entrevista" concedida por um político "nos últimos dez anos". Vem mais por aí.

Não adianta dizer que as palavras do senador pernambucano decorrem de uma jogada de marketing político para promovê-lo. Elas são mais do que isso. São uma explosão, mais que um desabafo tão calculado assim. Jogadas de marketing procuram lidar com efeitos controláveis, ao menos controláveis aos olhos de seus artífices, e essa entrevista destampa um poço de demônios que correrão soltos pelos gabinetes. Sem controle de ninguém. Não dá para ter segurança quanto às conseqüências. Só o que dá para saber é que Jarbas disse a verdade, a sua verdade, no mínimo, uma verdade que não suportava mais guardar.

Veja tambem o coment´ario de Luciano Martins Costa:


O jogo do faz de conta

Para produzir algum efeito, se realmente tem intenção de colocar sob controle os desmandos do Congresso Nacional e colaborar para reduzir o nível de corrupção, a imprensa precisa se aliar aos parlamentares com ficha limpa e questionar o constante adiamento de reformas que poderiam eliminar o mal pela raiz.

Como se sabe, tudo começa no registro eleitoral, e o Supremo Tribunal Federal decidiu, no ano passado, que cidadãos com ficha suja só podem ser impedidos de registrar candidatura a cargo eletivo depois de condenados definitivamente.

Se se trata, então, de alertar o eleitor para ter em mente os nomes de parlamentares suspeitos e negar a eles seu voto, a lista ainda está incompleta. Faltam os nomes dos deputados acusados ou processados. E não apenas do PMDB.

Só um factóide

O PMDB apenas se tornou o assunto da vez porque possui as maiores bancadas de parlamentares e o maior número de prefeitos. É uma força política definidora de eleições e não possui uma liderança nacional. Declarações genéricas contra integrantes do partido serão sempre colocadas na conta da disputa pela sucessão presidencial de 2010.

Se o senador Vasconcelos e a imprensa estivessem mesmo dispostos a colocar a nu a corrupção do Congresso, deveriam estender seus olhares para os demais partidos, e para a Câmara dos Deputados, onde brilham luminares como Edmar Moreira, o senhor do castelo, e outros suspeitos mais discretos.

Lembre-se o leitor que Edmar Moreira chegou a ser nomeado corregedor da Câmara dos Deputados. Quem o nomeou tinha claramente a intenção de garantir que a Corregedoria não iria funcionar.

Qualquer investigação séria sobre corrupção no Congresso deveria começar por aí. Declarações bombásticas, mas genéricas, apenas aumentam o descrédito da sociedade em relação ao Parlamento. Muito barulho por nada.

segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Deu no Jornal Nacional

Como comentou o Observatório da Imprensa, o Jornal Nacional da Venus Platinada (leia-se TV Globo) deu uma tremenda "barrigada" com o caso da advogada Ana Paula:

CASO PAULA OLIVEIRA
Afobação em lugar da investigação

Por Alberto Dines em 16/2/2009
Comentário para o programa radiofônico do OI, 16/2/2009

A imprensa se afobou e as autoridades brasileiras se precipitaram no caso da jovem advogada que denunciou ter sido atacada por neonazistas na Suíça. A notícia controversa foi dada como verdadeira, em primeira mão, pelo Globo Online, na quarta-feira (11/2). Toda a imprensa embarcou na história. Só na sexta-feira a TV Globo colocou em dúvida a versão da jovem. O caso mistura xenofobia de verdade, emocionalismo e pouca disposição para investigar. Enganada por sua própria afobação, a imprensa pode inverter os sinais. (L.M.C.)

Nada há de definitivo sobre as denúncias de Paula Oliveira contra os neonazistas suíços que a teriam atacado. Médicos garantem que ela não abortou, a polícia acha que os ferimentos teriam sido auto-infligidos. Mesmo assim diversos articulistas dos jornalões de domingo (15/2) tentaram diminuir a importância desta reviravolta.

Um deles afirmou que esta era uma questão secundária porque o caso de Paula Oliveira é "verossímil" numa Europa conturbada pela violência política. Outra colunista admitiu que Paula pode ter errado, mas "o erro maior está lá, na Europa".

Vamos com calma: a União Européia não esconde a sua preocupação com a xenofobia e o racismo. O erro maior é mentir, inventar, criar um caso diplomático e produzir um vexame internacional.

Erro maior é uma imprensa que não investiga antes de denunciar.

Erro maior cometem as autoridades que botam a boca no trombone antes mesmo de averiguar o que se passou.

A verdade é que a xenofobia européia e a antixenofobia brasileira estão ficando muito parecidas. A emoção nunca pode substituir a razão.

"Sim" vence na Venezuela

Os venezuelanos aprovaram no domingo, em referendo, uma emenda constitucional que permite ao presidente Hugo Chávez se candidatar à reeleição quantas vezes quiser, abrindo a possibilidade de governar o país por mais uma década. A presidente da autoridade eleitoral informou que 54,4% dos venezuelanos votaram a favor da proposta que suprime os limites à reeleição de todos os cargos de eleição popular, contra 45,6%. Logo após o resultado, o presidente já se disse candidato a um novo mandato no pleito de 2012 e celebrou o que classificou como a consolidação do socialismo no país.
A despeito dos detratores do Presidente Hugo Chávez, leia-se a mídia comprometida com os interesses neoliberais, deve-se admitir que o governo venezuelano realizou seu prebescito dentro do processo democrático. Foi a maioria que escolheu apostar no projeto político do presidente.
Comentário de Chávez:
- Hoje começa o terceiro ciclo histórico, de 2009 a 2019 (...). Abrimos a porta do futuro para continuar transitando a caminho da dignidade (...) e esse caminho não tem outro nome: é socialismo.
É... parece que os porcos capitalistas e as oligarquias históricas da América Latina vão ter que engolir mais essa do intragável (para eles) líder popular...

domingo, 15 de fevereiro de 2009

Como deturpar a cultura alheia

TV GLOBO
Caminho (desrespeitoso) das Índias

Por Washington Araújo em 10/2/2009


Convenço-me cada vez mais que Caminho das Índias é o folhetim mais fantasioso – e também desrespeitoso para com outra cultura – jamais produzido pela televisão brasileira. Se existe algum traço de realidade naquela trama, esse traço ficou submerso no sagrado rio Gânges. Visitei Nova Déli em dezembro de 1987, quando pude participar da dedicação a Deus e à humanidade do Templo Bahá´í, o belo templo de nove lados na forma de flor de lótus, ladeado por igualmente 9 espelhos d´água. E tenho bem viva na memória a noite do dia 27 de dezembro daquele ano quando ninguém menos que Ravi Shankar, o grande músico e poeta indiano, apresentou a sinfonia especialmente criada por ele para aquela ocasião. São as imagens daquela Índia que vi e vivi que não se casam, nem à força, com a Índia que estou me esforçando para ver e quem sabe vivenciar em nossa telinha mágica que é a TV.

Voltando ao folhetim das 8 da noite na TV Globo. Em pouco mais de uma semana que estive em Déli e em Agra, onde fica o Taj Mahal, não encontrei qualquer sinal de opulência, riqueza material, balés artísticos e trajes esvoaçantemente coloridos nas ruas daquelas cidades. Ao contrário, testemunhei muita miséria, pobreza ao cubo, caos no trânsito, multidões se sobrepondo umas às outras. O barulho de buzinas, nas mais variadas tonalidades e em volume sempre muito além do usualmente aceitável, bem caracterizaram qualquer passeio nas ruas de Déli.

Claro que existem famílias abastadas, afinal é uma das mais pujantes economias do planeta nessa primeira década do século 21, além de estar na vanguarda da revolução tecnológica, notadamente no campo da informática. Mas assim posto, fica muito difícil ser condescendente com a trama de Glória Perez.

Padrão farsesco

Nessa história há um padrão de farsesco nos detalhes. Chama atenção o destaque dado às superstições e crendices que da forma como são apresentadas parecem derivar da sagrada religião hindu. E isso não é verdade e mesmo, não se sustenta em fatos. Colocar a questão do dote para o casamento de forma folclorizada é um claro nonsense da trama. Um indiano abastado deixar de sair de casa se a primeira imagem que vir ao colocar os olhos na rua for o de uma viúva ou de algum intocável é de rolar de rir. Desfazer uma maldição nupcial casando o personagem com uma bananeira, uma árvore, um animal, é rematada tolice. Não vi nada disso na Índia e se tais costumes e práticas algum dia existiram devem estar ainda enredados na milenar noite dos tempos...

Minha perplexidade é tal que me faz imediatamente pensar em um paralelo possível. Imaginemos que produtores de Hollywood resolvessem fazer um seriado de costumes tendo como pano de fundo o Brasil dos dias atuais e então...

** colocassem homens vestidos apenas com sungas e mulheres trajando minúsculos biquínis ou apenas aqueles do tipo fio-dental em plena avenida Paulista ou nos arredores da Candelária, na avenida Rio Branco ou entrando no Ministério da Justiça em Brasília?

** colocassem pais ensinando os filhos a se precaverem e a temerem a Sucupira, o Saci-Pererê, o Mula-sem-cabeça, o chupacabras, o lobisomem, os ETs de Varginha?

** colocassem mulheres baianas vestidas com os vestidos das baianas do acarajé em pleno Teatro Castro Alves e homens com fantasias do bloco Filhos de Gandhi deitando discursos em inaugurações do governo?

** colocassem gurus, videntes, pais-de-santo visitando apartamentos de algumas famílias abastadas do Leblon (Rio) ou dos Jardins (SP) para tratar dos dias propícios aos negócios, ajustar casamentos entre famílias e os donos das casas sempre a um passo de se prostarem ante seus pés em sinal de reverência?

** colocassem cobras, onças, tamanduás, chimpanzés e multicores araras nas ruas de Belo Horizonte e na Boca Maldita de Curitiba, par a par com os citadinos?

** colocassem mães reverentemente ensinando os filhos adolescentes a venerarem Nossa Senhora (da Conceição, de Fátima, de Aparecida, de Lourdes, do Perpétuo Socorro, de Guadalupe, da Anunciação, dos Prazeres, dos Navegantes etc.) e também a galerias dos santos, com São Francisco (de Assis, de Canindé, de Xavier), São João (Batista, do Latrão, de Sena), quem sabe os adoradores da Medalha Milagrosa ou o pequenino Menino Jesus de Praga?

** pais, irmãos, filhos, netos, avós de repente e sem mais nem menos, logo após ouvirem uma boa notícia transmitida pelo pai da família, se levantassem para bailar na sala em sinal de vivo contentamento?

Esquizofrenia na telinha

Daria para acreditar nas situações acima mencionadas? A resposta certamente seria a mesma para essa outra pergunta: daria para acreditar na Índia de Glória Perez?

A televisão brasileira vive um particular momento de viva esquizofrenia. Saem de um folhetim pintado com as cores sombrias de páginas policiais, após haver domesticado o ouvido de milhões de brasileiros com o repetitivo tango pós-moderno pontuando aquelas incansáveis animações de abertura para o frenesi multicor da música techno embalado por imagens digitalmente multiplicadas de templos e deuses venerados na Índia e em outros países asiáticos.

Neste ponto vejo um profundo desrespeito pelo Sagrado em se tratando daquela particular nação do planeta. Brhama, Vishnu, Krishna, Shiva, Ganesha, são tão sagrados no inconsciente coletivo da raça quanto às aparições do Anjo Gabriel a Maria, a imagem de Jesus e das Nossas Senhoras, o Santo Sudário e a Igreja do Santo Sepulcro em Jerusalém, a Kaaba dos muçulmanos em Meca, o templo budista de Bohodour na Indonésia, o muro das Lamentações dos judeus na Terra Santa.

Ousaríamos misturar essas imagens sacras do cristianismo, judaísmo, budismo e islamismo com o movimento frenético dos passistas do Marquês de Sapucaí e tendo como trilha sonora a nossa bem reputada música carnavalesca?

Se existe algo que impede a criação de uma cultura genuína de paz entre todos os seres humanos do planeta é, sem dúvida alguma, a forma grosseira como retratamos o que não entendemos ou o que é diferente de nós. Vale ainda, pois dificilmente prescreverá, a regra de ouro de todas as religiões: não devemos fazer aos outros aquilo que não desejamos que seja feito a nós.

sábado, 14 de fevereiro de 2009

Pequenas ausências...

Desculpem, leitores, por deixar de postar algumas broncas neste muro de lamentações. E que estive ultimamente ocupado, passando por uma experiência um tanto o quanto terrível. Experimentei alguns dias de escravidão, executando serviços sub-humanos para patrões inescrupulosos...
Brevemente eu relatarei esta minha experiência como escravo "de ganho"...

Crise? What crise?

Crise? Que crise?

O mundo globalizado parece atravessar uma crise financeira gigantesca, pelo menos é isto que nos informa de maneira dramática e desesperada os meios de comunicação. Na esteira desta crise, empresas anunciam demissões em massa – grandes empresas estão mandando gente embora aos borbotões. No Brasil a mídia escrita e televisiva anuncia com grande alarde o número da crise, justificando as demissões e criticando de maneira velada os investimentos “irresponsáveis” do governo na área social. No entanto, o que me parece (e eu não sou especialista no assunto e estou emitindo uma simples opinião) é que esta suposta crise é mais “psicológica” do que real. Os números da econômica, no Brasil, são bastante positivos: no último trimestre o país obteve um crescimento satisfatório da produção industrial com muitas empresas diversificando os investimentos. Setores como o automobilístico continuam crescendo como antes e outros setores continuam expandindo. Segmentos da classe C e D participam ativamente da economia ampliando o consumo e introduzindo novos itens no seu dia-a-dia. A inadimplência diminuiu e as compras a crédito (talvez reflexo do fator psicológico da “crise”) estão mais restritas.
Apesar disso, os jornais televisivos, principalmente, continuam falando em crise afetando todos os segmentos sociais e econômicos, até o Carnaval da Bahia! Pois bem, peguemos o exemplo das emissoras de TV, as que mais reclamam da “crise”: Nos últimos tempos as três maiores redes de televisão tiveram um faturamento recorde com anúncios (o que de fato as sustentam). O SBT de Sílvio Santos, que tem perdido espaço nos últimos anos, faturou com publicidade a fabulosa quantia de 700 milhões de reais. Isto não impediu que a emissora anunciasse o corte pela metade do salário de uma de suas maiores estrelas, Hebe Camargo (coitada da perua!). A Record, que vem crescendo bastante ultimamente, faturou nada menos que um bilhão e oitocentos milhões de reais. A Globo, com suas cinco emissoras – líder absoluta - faturou, pasmem!, 9,5 bilhões! Não parece que elas choram de barriga cheia? E as grandes corporações mundiais, anunciando cortes gigantescos de funcionários? Não parece desculpa para demitir em massa? A crise anunciada não parece desculpa para tubarões grandes engolirem tubarões médios e pequenos? Há algo de podre no reino da Dinamarca.

terça-feira, 3 de fevereiro de 2009

Quando a cultura torna-se propaganda ideológica

O governo de Getúlio Vargas procurou organizar a nação em moldes totalitários. Neste sentido, não se furtou em lançar mão de um instrumento bastante eficaz - a propaganda -, criando, ainda em 1931, o Departamento Oficial de Publicidade. Em 1934, foi criado no Ministério da Justiça o Departamento de Propaganda e Difusão Cultural. Em 1939, o Estado Novo constituiu um verdadeiro ministério da propaganda (o famoso DIP – Departamento de Imprensa e Propaganda), diretamente subordinado ao presidente da República. O DIP exerceu funções bastante extensas, incluindo cinema, rádio, teatro, imprensa e literatura. O DIP dirigiu também a transmissão diária do programa radiofônico “Hora do Brasil”, o qual iria atravessar os anos como instrumento de propaganda e de divulgação das obras do governo.
A preocupação maior do regime era promover um projeto de nação civilizada e erradicar os últimos resquícios de “barbárie”. Os órgãos governamentais, neste sentido, agiam estabelecendo diretrizes que iriam nortear o sistema educacional brasileiro. À medida que as massas urbanas cresciam e surgia uma cultura de massa, o governo procurava intervir, através principalmente do DIP, no sentido de promover os bons costumes morais e o enquadramento do brasileiro dentro de uma ordem – sobretudo no que diz respeito ao trabalho. Atuava, portanto, tanto na elaboração e preparação do material de propaganda de massa, quanto no monitoramento deste material, controlando com censores todas as matérias da imprensa escrita e falada.
Assim, através de incentivos, promoções, direcionamentos e divulgações o governo de Getúlio Vargas interveio diretamente nos meios de comunicação de massa – rádio e cinema, sobretudo – procurando impor seu projeto de nação intimamente relacionado à idéia de um governo personalista.
Dessa maneira, vemos as manifestações de cultura de massa sendo gradativamente cooptada pela ideologia oficial, legitimando-a. No samba, por exemplo, a cultura da malandragem vai sendo substituída pela cultura do trabalho. É claro que havia resistências culturais, tensões ideológicas e insatisfações quanto às dificuldades econômicas. Assim, podemos encontrar, nas letras dos diversos sambas da época, o embate entre a ideologia do trabalho e a cultura da malandragem, entre outras contradições. Noel Rosa, Wilson Baptista, Assis Valente e muitos outros são exemplos de compositores que se equilibravam entre a tradição da boemia e os novos valores de uma nova sociedade “civilizada”. Destarte, em “Camisa List[r]ada” e “Lenço no Pescoço” vemos a apologia da malandragem, enquanto que em “Recenseamento”, “Rapaz Folgado” e “O Bonde de São Januário” o que é exaltado é o trabalho e o “bom juízo”.
No cinema, o Estado getulista procurou, como na música, incentivar a produção de filmes que divulgassem novos modelos de comportamento para o povo brasileiro, recuperando propostas forjadas em décadas anteriores por educadores e cineastas. Criticava-se e procurava-se superar a “subversão” do cinema por empresários inescrupulosos que inundavam os mercados com produções “deseducativas” e “imorais”. As críticas traduziam os preconceitos de setores das elites brasileiras sobre as formas de diversão e lazer das classes populares.
Apostando na capacidade da técnica cinematográfica como veículo de propaganda e de educação, o governo cria mecanismos importantes que possibilitaram a implementação do cinema educativo. Os cineastas, ávidos por mostrarem suas criações no mercado, viram nos incentivos governamentais a possibilidade de realizarem suas obras. Em abril de 1932 um decreto estabeleceu incentivos para a produção de filmes que fossem capazes de contribuir para o aprimoramento educacional do povo brasileiro, assim como uma reserva de mercado para produções nacionais.
Ao Departamento de Propaganda e Difusão Cultural, criado em 1934, caberia as funções de estimular a produção, favorecer a circulação e intensificar e racionalizar a exibição em todos os meios sociais de filmes educativos. Estes incentivos previstos pelo decreto de criação do DPDC deram um novo impulso à atividade cinematográfica no Brasil, com a fundação de novas produtoras, como, por exemplo, a Brasil Vita Films, de Carmem Santos e Humberto Mauro.
Humberto Mauro dirigiu o filme que sintetizaria todo um ideal de povo e nação que se procurava forjar naquele período: “O Descobrimento do Brasil”.
Cercado de publicidade nos jornais e exibições para autoridades, o filme foi recebido em tom patriótico, exaltado por sua atmosfera mística ao retratar o contato do homem branco com a Terra Nova, seu fascínio diante do elemento indígena (totalmente desvinculado de qualquer conotação de selvagem), a procissão da Cruz, a primeira missa, e a harmonia do encontro das raças. O filme retrata, com marcante idealização, aquilo que seria o retrato fiel do Descobrimento. Criticado, já na época, por reforçar a história oficial e não apresentar nenhuma crítica à colonização portuguesa e a subjugação dos povos autóctones, o filme, afinal, cumpria sua finalidade a qual seria marcar o mito de fundação da nação.
Uma imagem, seja de que natureza for, corresponde a uma narrativa. Possui, portanto, sentido e intencionalidade. Imagens são textos. As imagens e textos da Era Vargas nos remetem a intencionalidade do regime em promover sua ideologia e aglutinar a população interna em um só ideal de nação, orientada pela moral e pelos bons costumes, eliminando, ou tentando eliminar, qualquer possibilidade de desvio dessas diretrizes.
Com a popularização do cinema e do rádio nas décadas de 20 e 30, estes e outros instrumentos de comunicação seriam mobilizados para a educação e para a propaganda, sobretudo a partir da ascensão de Getúlio Vargas ao poder com a Revolução de 30.


FONTES:
ALMEIDA, Cláudio Aguiar. Cultura e sociedade no Brasil: 1940-1968. 5ª ed. São Paulo: Atual Editora, 2001.

ESPAÑA, Rafael de. Guerra, cinema e propaganda. In: Olho da História nº 03.

FAUSTO, Boris. História do Brasil. São Paulo: Edusp.

OLIVEIRA, Lúcia Lippi (org). Estado Novo: Ideologia e Poder. Rio de Janeiro: Zahar, 1982.

ROSA, Cristina Souza da. Câmara na mão, política na cabeça. In: Dossiê nº 42.
SITES

GARCIA, Jorge Edson. Humberto Mauro, 100 anos. In: http://www.cinemabrasil.org.br/hummauro/

domingo, 1 de fevereiro de 2009

Reality Shows - que merda é essa?

Esse tipo de programa virou uma praga na televisão. Como se não bastasse o lixo geral que é a programação da TV, temos que aturar essa porcaria todo os dias invadindo nossa sala de visitas. O pior é que parace que a maioria das pessoas adoram e vira comentário do medíocre cotidiano de cada um. E tem gente que acha que á a pura "realidade".

Embora tenha havido precedentes no rádio e na televisão, o primeiro reality show, como hoje sentido foi a série An American Family, transmitida em doze partes em 1973 nos EUA; a série ficou famosa por lidar com divórcio em uma família nuclear, e ainda, pela revelação de que um dos filhos, Lance Loud, era homossexual. Vários shows na Inglaterra e Austrália usaram o mesmo enredo.

A série que teria criado o interesse moderno em reality shows foi talvez COPS, lançada em março de 1989. Foi seguido por The Real World, da MTV, (lançado no Brasil como Na Real. que se tornou fenômeno de popularidade. Em 2000, com o surgimento do Big Brother e da Expedition Robinson na Europa, assim como Survivor nos EUA, houve multiplicação de shows baseados em reality shows, sendo que a crítica e a população sentiram que com gosto questionável.

No Brasil, pode-se dizer que a "onda" de reality shows começou, basicamente, com o programa No Limite, baseado em Survivor, em 2000. Em 2001, foi criado o programa Casa dos Artistas, fenômeno notável de audiência do SBT. Em 2002, surgiu o maior expoente deste gênero no Brasil, o programa Big Brother Brasil.

O termo Reality show é conhecido por mostrar, de forma simulada, uma realidade. Em tais programas não há roteiros a serem seguidos e os participantes têm que resolver problemas ou apenas conviver com outros participantes, como no caso do programa Big Brother e outros. Os chamados reality shows entretêm as pessoas com a reação de seus participantes em apenas viverem um cotidiano ou realizarem alguma prova.

Alguns outros reality shows como O Aprendiz ou O Desafiante - 2005, levam aos seus participates desafios que eles poderiam encontrar em suas profissões ou em suas próprias vidas. Há Esquadrão da Moda também, cada episódio apresenta uma "vítima" de moda e reforma do seu guarda-roupa.

É certo que os reality shows mostram na íntegra um assunto intrigante a todos, a interação entre as pessoas, apesar de cada um dos mesmos possuir suas peculiaridades.