O senador Jarbas Vasconcelos resolveu botar a boca no trombone dizendo que seu próprio partido, o PMDB, faz política em troca de favores e corrupção para manter-se no poder. Ora, o nobre parlamentar não citou nomes e limitou-se a vociferar, cuspindo para todos os lados. Não causou o impacto que supostamente pretendia, pois os presidentes das casas (Senado e Câmara, José Sarney e Michel Temer, respectivamente) declararam não passar de um “desabafo” do colega, aumentando o descrédito da política brasileira.
De fato, o PMDB tem cerca de 40% de seus parlamentares e praticamente a metade de sua banca no Senado, composta de 10 senadores, sob suspeita. Só que o problema não se resume a este partido, vide os últimos escândalos de Brasília...
Veja o texto de Eugenio Bucci:
As "Páginas Amarelas" com o senador Jarbas Vasconcelos à revista Veja, dizendo que o PMDB só pensa em cargos e pratica nada menos que a corrupção desenfreada, continuam a render e a render. O Jornal Nacional de segunda-feira (16/2) mostrou o peemedebista, há 42 anos no partido, reafirmando suas caracterizações, enquanto Sarney, atingido pelas declarações do dissidente, afirma preferir o silêncio. Na mesma segunda, na Folha de S.Paulo, Fernando Rodrigues pede, com razão, que Jarbas aponte nomes envolvidos nas irregularidades que denuncia e, no Globo, Ricardo Noblat diz que ele deu "a mais devastadora entrevista" concedida por um político "nos últimos dez anos". Vem mais por aí.
Não adianta dizer que as palavras do senador pernambucano decorrem de uma jogada de marketing político para promovê-lo. Elas são mais do que isso. São uma explosão, mais que um desabafo tão calculado assim. Jogadas de marketing procuram lidar com efeitos controláveis, ao menos controláveis aos olhos de seus artífices, e essa entrevista destampa um poço de demônios que correrão soltos pelos gabinetes. Sem controle de ninguém. Não dá para ter segurança quanto às conseqüências. Só o que dá para saber é que Jarbas disse a verdade, a sua verdade, no mínimo, uma verdade que não suportava mais guardar.
Veja tambem o coment´ario de Luciano Martins Costa:
O jogo do faz de conta
Para produzir algum efeito, se realmente tem intenção de colocar sob controle os desmandos do Congresso Nacional e colaborar para reduzir o nível de corrupção, a imprensa precisa se aliar aos parlamentares com ficha limpa e questionar o constante adiamento de reformas que poderiam eliminar o mal pela raiz.
Como se sabe, tudo começa no registro eleitoral, e o Supremo Tribunal Federal decidiu, no ano passado, que cidadãos com ficha suja só podem ser impedidos de registrar candidatura a cargo eletivo depois de condenados definitivamente.
Se se trata, então, de alertar o eleitor para ter em mente os nomes de parlamentares suspeitos e negar a eles seu voto, a lista ainda está incompleta. Faltam os nomes dos deputados acusados ou processados. E não apenas do PMDB.
Só um factóide
O PMDB apenas se tornou o assunto da vez porque possui as maiores bancadas de parlamentares e o maior número de prefeitos. É uma força política definidora de eleições e não possui uma liderança nacional. Declarações genéricas contra integrantes do partido serão sempre colocadas na conta da disputa pela sucessão presidencial de 2010.
Se o senador Vasconcelos e a imprensa estivessem mesmo dispostos a colocar a nu a corrupção do Congresso, deveriam estender seus olhares para os demais partidos, e para a Câmara dos Deputados, onde brilham luminares como Edmar Moreira, o senhor do castelo, e outros suspeitos mais discretos.
Lembre-se o leitor que Edmar Moreira chegou a ser nomeado corregedor da Câmara dos Deputados. Quem o nomeou tinha claramente a intenção de garantir que a Corregedoria não iria funcionar.
Qualquer investigação séria sobre corrupção no Congresso deveria começar por aí. Declarações bombásticas, mas genéricas, apenas aumentam o descrédito da sociedade em relação ao Parlamento. Muito barulho por nada.
Nenhum comentário:
Postar um comentário