Para Karl Marx, filósofo alemão que viveu no século XIX, o homem não faz a história como quer, mas de acordo com as circunstâncias, ou de acordo com as condições que lhe são legadas do passado, que pesam no seu destino. Seu objeto de estudo são as lutas de classe e a dominação capitalista. Segundo esse autor, a história não se repete, é acíclica, só se repete como farsa ou como tragédia e a história de todas as sociedades tem sido a história de lutas de classe.
Marx concede à burguesia o caráter de classe revolucionária, pois esta transformou o modo de produção de troca que havia na sociedade feudal. Porém, a burguesia não aboliu os antagonismos de classes, apenas impôs novas condições de opressão e simplificou esses antagonismos, dividindo a sociedade cada vez mais em duas classes diametralmente opostas: a burguesia e o proletariado. Por isso, as condições subjetivas proporcionam as idéias e a conscientização de classes. Esta conscientização é explicada pelas contradições da vida material, pelo conflito existente entre as forças produtivas sociais e as relações de produção. As relações burguesas de produção são as últimas formas antagônicas do processo social de produção – um antagonismo que provém das condições sociais de vida dos indivíduos. As forças produtivas, porém, que se desenvolvem no seio das sociedades burguesas, criam, ao mesmo tempo, as condições materiais para a solução desse antagonismo. No entanto, Marx não pode ser considerado um autor exclusivamente economicista.
Marx compartilha da visão de constantes mudanças, rupturas. A volta contra si mesmo que caracteriza a sociedade – tudo está impregnado de seu contrário. As mudanças materiais ocorridas nas condições econômicas de produção e que podem ser apreciadas com a exatidão própria das ciências naturais e as formas jurídicas, políticas, religiosas, artísticas ou filosóficas, ou seja, as formas ideológicas em que os homens adquirem consciência desse conflito e lutam para resolvê-lo. Assim, ao mudar a base econômica, revoluciona-se, mais ou menos rapidamente, toda a imensa superestrutura erigida sobre ela.
Como já foi dito, ironicamente Marx exalta a burguesia por ser ela a primeira a mostrar “que a atividade humana é capaz”. Mas esses avanços materiais que a burguesia proporcionou não interessam muito a Marx, “o que interessa realmente são os processos, os poderes, as expressões de vida humana e energia: homens no trabalho, movendo-se, cultivando, comunicando-se, organizando e reorganizando a natureza e a si mesmo – os novos e interminavelmente renovados meios da atividade que a burguesia traz à luz.” (BERMAN, pág 92). Porém tudo o mais que não é atraente para o mercado é reprimido de maneira drástica, ou se deteriora por falta de uso, ou nunca tem uma chance real de se manifestar e todos os avanços e progressos da burguesia parecem dotar de vida intelectual as forças materiais, estupidificando a vida humana frente à vida material. Chega-se a um momento que o homem não é mais senhor de suas forças produtivas - o crescente emprego de máquinas torna o operário um simples apêndice destas, que só requer dele a função mais simples, mais monótona, mais fácil de aprender, reduzindo com isso o custo do operário, tanto no prolongamento das horas de trabalho, tanto pelo aumento de trabalho exigido em um tempo determinado (para seguir a aceleração do ritmo das máquinas).
O “Manifesto Comunista” expressa algumas das mais profundas percepções da cultura modernista e, ao mesmo tempo, dramatiza algumas de suas mais profundas contradições internas. Partindo do método do materialismo histórico dialético, que determinaria a transformação do mundo em função das necessidades humanas de sobrevivência, Marx apresenta uma visão geral do que hoje é chamado o processo de modernização e descreve o cenário daquilo que acredita ser o seu clímax revolucionário. Temos aí, então, a emergência de um mercado mundial. À medida que se expande, absorve e destrói todos os mercados locais e regionais que toca.
A partir dessa exposição é possível identificar Marx como um pensador que, apesar de ter vivido no século XIX, teve uma visão bastante perspicaz de sua época e seu pensamento mostra-se bastante esclarecedor para entendermos a sociedade que nos cerca, imprimindo um caráter bastante atual ao seu discurso.
Para saber mais:
ResponderExcluirMARX, Karl e ENGELS, Friedrich Obras Escolhidas, Vol. I, Manifesto do Partido
Comunista, São Paulo, Editora Alfa-Ômega.
Obras Escolhidas, vol. I , O 18 do Brumário de Luis Bonaparte, São Paulo, Editora Alfa-Ômega.
Obras Escolhidas vol. I, A Ideologia Alemã, Lisboa, Editorial Presença.
MARX, Karl – Prefácio à “Contribuição à Crítica da Economia Política”
KONDER, Leandro (org) – Por que Marx?, Graal
E ainda:
ResponderExcluirBERMAN, Marchall – Tudo que é Sólido Desmancha no Ar – A aventura da Modernidade, Companhia das Letras