terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Hoje é dia dos Santos Reis

Folia de Reis

As origens da Festa dos Reis ou Folia dos Reis remetem à época medieval. Em Portugal, esta festa é tradicionalmente comemorada em Beiras e arredores apresentando procissões de homens que cantam em louvor do Espírito Santo. A tradição ibérica foi transplantada para o Brasil já como os primeiros colonos e lideranças lusitanas nos primeiros tempos do Brasil Colonial. Em certas regiões, inclusive em vários municipios do interior fluminense e mesmo no Grande Rio (como nos subúrbios do Rio de Janeiro, Duque de Caxias e São Gonçalo), a festa é praticada das maneiras mais diversificadas incluindo procissões, cantorias, disputas esportivas, chacotas, foguedos, folias, etc, etc.
Confesso que não conheço a festa de perto, só através da televisão e mídias afins. Nunca participei ou assisti a uma folia desse tipo e parece-me algo longíquo, perdido na memória do tempo. Mas vejo que é bem atual, praticado ainda com muita significação em diversas regiões. Essa minha ignorância talvez seja fruto de uma falta de interesse em acompanhar os ritos católicos devido a uma, digamos, incompatibilidade histórica-política-ideológica-filosófica a qual me provoca uma certa aversão a tudo que cheire a Roma, ou melhor, ao Vaticano.
No entanto, mesmo so conhecendo a festa pela literatura cristã e pela mídia (idem), reconheço que certas manifestações dos ritos e reproduções dos mitos através das artes e representações miméticas são bastante curiosos, antropologicamente falando.
A tradição dos Reis Magos tem origens remotas na Antiguidade e confunde-se com o mito do Espírito Santo, demonstrando uma interação entre o cristianismo e os mitos pagãos.
No Brasil a folia praticada em diversas regiões recriam as tradições ibéricas apresentando grupos de homens vestidos sobretudo de branco, embora predominem diversas outras cores vibrantes, que saem de casa em casa pedindo esmolas para as festas do Espírito Santo ou dos Reis, cantando e dançando ao som de violões, cavaquinhos, pandeiros, pistons e tantãs. Na Bahia, o dia de Reis é festejado ao som dos tambores, das palmas e dos choques de bastonetes do maculelê, dança que lembra a resistência escrava no interior baiano.

2 comentários:

  1. Pedi ajuda a amigos sobre as origens pagãs do Dia de Reis. Raquel me enviou o seguinte texto:

    Oi Ribas,

    Na pesquisa que fiz, encontrei esse link http://blogdocrato.blogspot.com/2009/01/origem-pag-do-dia-de-reis-as-maiores-e.html que fala sobre a origem pagã do dia de reis. Foi a fonte mais neutra que encontrei, onde o foco do autor é na cultura manifestada aqui no brasil.
    É claro que para um maior esclarecimento, devemos buscar aquelas fontes históricas mais antigas da mitologia, mas a explicação desse autor me pareceu bem interessante.
    Dá uma olhadinha no link, que é o blog do cara, e me fala.
    Bjs,
    Raquel

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  2. Linkei o blog citado e encontrei o seguinte texto:

    A Origem Pagã do Dia de Reis:

    As maiores e mais tradicionais festas do catolicismo popular têm suas origens nas festividades pagãs da antiguidade. Como exemplo, podemos citar os festejos do ciclo junino, em homenagem a Santo Antonio (dia 13), São João Batista (dia 24) e São Pedro (dia 29), que se originaram na tradição pagã dos povos da Europa, Ásia e África, que festejavam as divindades protetoras da fertilidade e da colheita quando se aproximava a chegada do verão no Hemisfério Norte e que foram transportadas para o calendário católico. Não é uma coincidência a data desses festejos. Os antigos rituais agrários, no Velho Mundo, por ocasião do solstício de verão, que ocorre entre os dias 22 e 23 de junho, marcavam o início da colheita.
    Com relação ao Natal, ocorreu o mesmo fenômeno. Comemora-se o nascimento de Cristo, mas ninguém sabe ao certo o dia em que Jesus nasceu. Muitos pesquisadores acreditam, inclusive, que Cristo não nasceu no ano zero, e sim entre os anos 4 a 5 a.C. Como teria sido, então, escolhida a data de 25 de dezembro? Artigo publicado no dia 10 de dezembro de 2001, no Correio do Povo, divulga explicação do professor de Teologia da PUC-RS Luiz Carlos Susin e do Padre Roberto Paz, da Arquidiocese de Porto Alegre, que esclarece que no dia 25 de dezembro era realizada “uma festa conhecida, no Hemisfério Norte, como Festa da Luz, e comemorava o solstício de inverno, ou seja, quando o dia está no seu menor período. Mas, justamente neste dia, se comemorava o dia do Sol Invencível, que renascia no coração do inverno europeu.” Na pré-história, tradições do mundo pagão, como as festas em comemoração à fertilidade e à colheita, e em comemoração ao Sol, vindas do Oriente, foram totalmente incorporadas pelo Império Romano. Com o crescimento e a propagação do cristianismo, preferiu-se usar a Festa da Luz para celebrar aquele que no preceito católico é a Luz, Cristo. “A festa foi inculturada, como é tradição da Igreja de não destruir a cultura dos povos, mas de dar a ela um novo significado”, explica o padre Paz.
    E foi apropriando-se e mudando o significado original das festividades pagãs que a Igreja Católica consolidou um calendário de poderosa influência no imaginário popular, voltado, obviamente, para a manutenção e fortalecimento da fé católica e para sua sobrevivência enquanto instituição. Então, para comemorar o nascimento de Jesus, antigas festas de ritual pagão sofreram paulatinamente transformações. Somente no ano de 138 foram regulamentadas pelo Papa São Telésforo, mas foi o Papa Júlio I, no ano de 378, que fixou a data de 25 de dezembro como sendo a do nascimento do Menino Jesus, posto que até então não havia data fixa para a comemoração da chamada Natividade. As festas da Natividade foram tendo elementos introduzidos ao longo dos séculos, até que, por volta de 1.600 foram acrescentadas as figuras dos Três Reis Magos. Com isso surgiram os grupos de Folia de Reis, que saem cantarolando hinos e exaltando o nascimento de Jesus.
    A Tiração de Reis, pelos Reisados do Cariri cearense, ou a Folia de Reis em diversas outras regiões brasileiras, pelos grupos de foliões, são tradicionalmente realizadas no período de 25 de dezembro a 6 de janeiro e, como fora mencionado, tem sua origem primária na Festa do Sol Invencível, comemorada pelos romanos e depois adotada pelos egípcios. A festa romana era comemorada em 25 de dezembro (calendário gregoriano) e a egípcia em 6 de janeiro. No século III ficou estabelecido que dia 25 de dezembro se festejaria o nascimento de Cristo e 6 de janeiro, dia dos Reis, homenageando os Reis Magos Gaspar, Melchior e Baltazar, que levaram ouro, incenso e mira, que representam, segundo a Igreja, as três dimensões de Cristo (realeza, divindade e humanidade). Durante 12 dias, a partir do Natal até 6 de janeiro, acontece a Tiração de Reis. Reisados, com seus brincantes, Catirinas e Mateus, tiram a jornada pelas ruas e casas das comunidades.
    Importante aqui salientar o que afirmou o pesquisador e professor Oswald Barroso, em seu ensaio intitulado Os Reisados e o Reisado de Caretas: “(...) o Reisado é um folguedo do ciclo natalino, como diversos outros, entre os quais, os Presépios, os Pastoris, as Lapinhas etc. Representa o cortejo dos Reis Magos, em sua caminhada a Belém, como as Folias de Reis brasileiras, ou como os antigos ternos e ranchos de Reis portugueses. Que tem sua origem na aglutinação de diversas brincadeiras e folguedos tradicionais, entre os quais os Ranchos de Reis, os Congos, o Bumba-meu-Boi, as Rodas de São João (acrescentamos nós) etc., como pode aparecer com elementos de muitos outros folguedos, entre os quais os Guerreiros alagoanos, os Bois cearenses e o Cavalo Marinho pernambucano. Mas os Reisados têm a particularidade de, além de representar um cortejo de Reis que vão adorar o Menino Jesus, ter no episódio do Boi, seu entremês principal.” O Dia de Reis tem, portanto, sentido católico-cristão com profunda marca pagã em sua origem, sendo, por isso mesmo, uma celebração popular que atende e ao mesmo tempo subverte a ordem religiosa institucional, posto que funde símbolos sagrados da cristandade com manifestações cômicas, satíricas e grotescas ancestrais, como que ajudando a fertilizar o mundo para o retorno à livre unidade homem-cosmos.


    Cacá Araújo
    Professor, Folclorista e Dramaturgo
    Diretor da Cia. Cearense de Teatro Brincante
    Crato – Ceará – Brasil

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