Estamos inaugurando esta seção dedicada a comentar músicas e autores cujas obras, não obstante algumas hoje esquecidas, deixaram uma marca indelével na nossa história. Nessa edição, trataremos das possibilidades de usos de um artefato cultural. No caso, a reabilitação do samba na década de 1940 pelo governo de Getúlio Vargas. De música proibitiva (típica de marginais e desocupados) a cartão de visitas oficial do regime. Note como a letra de Assis Valente exalta o trabalho a disciplina e a civilidade como corolário do varguismo.
Recenseamento
Em 1940
lá no morro começaram o recenseamento
E o agente recenseador
esmiuçou a minha vida
que foi um horror
E quando viu a minha mão sem aliança
encarou para a criança
que no chão dormia
E perguntou se meu moreno era decente
se era do batente ou se era da folia
Obediente como a tudo que é lei
fiquei logo sossegada e falei então:
O meu moreno é brasileiro, é fuzileiro,
é o que sai com a bandeira do seu batalhão!
A nossa casa não tem nada de grandeza
nós vivemos na fartura sem dever tostão
Tem um pandeiro, um cavaquinho, um tamborim,
um reco-reco, uma cuíca e um violão
Fiquei pensando e comecei a descrever
tudo, tudo de valor
que meu Brasil me deu
Um céu azul, um Pão de Açúcar sem farelo
um pano verde e amarelo
Tudo isso é meu!
Tem feriado que pra mim vale fortuna
a retirada da Laguna vale um cabedal!
Tem Pernambuco, tem São Paulo, tem Bahia
um conjunto de harmonia que não tem rival
Tem Pernambuco, tem São Paulo, tem Bahia
um conjunto de harmonia que não tem rival
O samba “Recenseamento” foi um grande sucesso de Assis Valente na voz de Carmem Miranda, no ano de 1941. Nele percebemos diversas questões presentes na ideologia do Estado Novo.
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