Hoje, terça-feira,31 de março, o Brasil recorda 45 anos desde que os militares tomaram o poder no país e implantaram um regime ditatorial que durou duas décadas inteiras. Período em que a nação beijou a lona, pessoas de bem tiveram que optar entre ir para o exílio ou ficar à mercê da baioneta.
Imprescindível, entretanto, é analisar um movimento tão rasteiro quanto o governdo dos generais que, nos bastidores, ganha fôlego. Na contramão da história, forças retrógradas ainda tentam impedir que a nação encare o passado de frente e puna os reponsáveis pelas atrocidades cometidas de 1964 a 1984. Grandes e influentes veículos de comunicação - Veja e Folha de S. Paulo, por exemplo - são usados para desmerecer o que, na América do Sul mesmo, já encontra espaço no campo real dos fatos. A Argentina tornou sem efeito a Justiça Penal Militar, que amparava os assassinos de farda atuantes de 1976 a 1983. Agora, eles serão julgados pela justiça civil comum. Enquanto que, no Uruguai, os parlamentares acabaram com a Lei da Caducidade, que anistiava militares e policiais acusados de violação aos direitos humanos.
A revista Veja ridicularizou a tentativa dos ministros da Justiça, Tarso Genro, e dos Direitos Humanos, Paulo de Tarso Vanuci, de abrir arquivos secretos da ditadura que oficialmente teriam sido queimados. E a Folha de S. Paulo veiculou polêmico editorial em que classifica o regime da baioneta brasileiro de "ditabranda", se comparado com outros semelhantes. Na esteira da discussão certamente está a Lei da Anistia que, diga-se de passagem, até hoje, apesar de algumas tentativas tímidas de dar continuidade a ela, ainda carrega sobre si um criminoso sentido dúbio: assim como os acusados de crimes políticos, também os representantes do Estado, autores de qualquer violência política, estavam automaticamente perdoados. O desejo é evitar uma suposta "caça às bruxas".
Enquanto o Brasil resistir à urgência de passar a limpo esse terrível episódio de sua história, seus mortos não descansarão em paz e tampouco as gerações futuras poderão orgulhar-se de uma pátria que sequer teve a dignidade, e coragem, de enfrentar os fantasmas de farda. Tudo porque institucionalizou a impunidade.
Que esse 31 de março sirva para todos colocarem a mão na consciência. Que as escolas e as universidades jamais se esqueçam de ensinar aos jovens que a democracia usurpada transforma o povo em pura massa de manobra. Daí a necessidade de lembrar, lembrar e lembrar de tudo que aconteceu. Das torturas covardes ocorridas nos porões. Só assim será possível criar neles um sentimento crítico e de alerta, antído eficaz para que nunca mais os generais saiam dos quartéis e sintam que podem gerir com competência a coisa pública.
Não que a democracia surgida após a ditadura tenha honrado a luta dos que resistiram bravamente à linha-dura do quepe. Os escândalos de todos os tipos - econômicos, financeiros e políticos - estão aí para envergonhar os cidadãos dígnos. Mas ainda assim, a liberdade democrática é melhor do que a opressão. Cuidado com o revisionismo histórico travestido da intenção de sepultar o passado criminoso. Foto aldoadv
Informações, curiosidades, comentários, pontos-de vista... Este é o nosso blog, vamos fazer ouvir a voz da minoria que não se resigna; a "minoria" ruidosa!
terça-feira, 31 de março de 2009
No dia em que a liberdade foi-se embora
Por Celso Lungaretti
Eu tinha 13 anos em 31 de março de 1964.
Puxando pela memória, só consigo me lembrar de que, naqueles dias, a TV vendia o golpe de estado em grande estilo, insuflando tal euforia patrioteira que os cordeirinhos faziam fila para atender ao apelo: "Dê ouro para o bem do Brasil!".
Matronas iam orgulhosamente tirar suas alianças e oferecê-las para os novos redentores da Nação, torcendo para que as câmeras as estivessem focalizando naquele momento solene.
Desde muito cedo eu peguei bronca dessas situações em que a multidão se move segundo uma coreografia traçada por alguém acima dela, com cada pessoa esforçando-se para parecer mais sincera no papel representado... de forma tão exagerada que acaba se mostrando, isto sim, artificial e canastrônica.
De paradas de 7 de setembro a procissões, eu não suportava a falsa uniformidade. Gostava de ver cada indivíduo sendo ele mesmo, igual a todos e diferente de todos ao mesmo tempo.
E, na preparação do clima para a quartelada, houvera a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade, com aquelas senhoras embonecadas e aqueles senhores engravatados me parecendo sumamente ridículos.
Aqui cabe uma explicação: duas fortes influências me indispunham contra a marcha da classe média baratinada.
Minha família era kardecista e, quando eu tinha oito, nove anos, me levava num centro espírita cujo orador falava muito bem... e era exacerbadamente anticatólico.
A cada semana recriminava a riqueza e a falta de caridade da Igreja, contrastando-a com a miséria do seu rebanho. Cansava de repetir que Cristo expulsara os vendilhões do tempo, mas estes estavam todos encastelados no Vaticano.
Vai daí que, cabeça feita por esse devoto tardio do cristianismo das catacumbas, eu jamais poderia aplaudir um movimento de católicos opulentos.
E eu devorara a obra infantil de Monteiro Lobato inteira. Com ele aprendera a prezar a simplicidade, desprezando a ostentação e o luxo; a respeitar os sábios e artistas, de preferência aos ganhadores de dinheiro.
Mas, afora essa rejeição, digamos, estética, eu não tinha opinião sobre o golpe.
Escutava meu avô dizendo que, se viesse o comunismo, ele teria de dividir sua casa com uma família de baianos (o termo pejorativo com que os paulistas designavam os excluídos da época, predominantemente nordestinos).
Registrava a informação, que me parecia um tanto fantasiosa, mas não tinha certeza de que o meu avô estivesse errado.
O certo é que os grandes acontecimentos nacionais me interessavam muito pouco, pois pertenciam à realidade ainda distante do mundo adulto.
Na canção em que Caetano descreve sua partida de Santo Amaro da Purificação para tentar a sorte na cidade grande, ele lembrou que "no dia em que eu vim-me embora/ não teve nada de mais", afora um detalhe prosaico: "senti apenas que a mala de couro que eu carregava/ embora estando forrada/ fedia, cheirava mal".
Da mesma forma, o dia que mudou todo meu futuro -- seja o 31 de março festejado pelos tiranos, seja o 1º de abril em que a mentira realmente tomou conta da Nação -- não teve nada de mais.
Gostaria de poder afirmar que percebi, logo naquele momento, estarmos começando a carregar uma fedorenta mala sem alça, da qual não nos livraríamos por 21 longos anos.
Mas, seria abusar da licença poética e eu não minto, nem para tornar mais vistosas as minhas crônicas.
Os mentirosos eram os outros. Os fardados, as embonecadas e os engravatados.
Eu tinha 13 anos em 31 de março de 1964.
Puxando pela memória, só consigo me lembrar de que, naqueles dias, a TV vendia o golpe de estado em grande estilo, insuflando tal euforia patrioteira que os cordeirinhos faziam fila para atender ao apelo: "Dê ouro para o bem do Brasil!".
Matronas iam orgulhosamente tirar suas alianças e oferecê-las para os novos redentores da Nação, torcendo para que as câmeras as estivessem focalizando naquele momento solene.
Desde muito cedo eu peguei bronca dessas situações em que a multidão se move segundo uma coreografia traçada por alguém acima dela, com cada pessoa esforçando-se para parecer mais sincera no papel representado... de forma tão exagerada que acaba se mostrando, isto sim, artificial e canastrônica.
De paradas de 7 de setembro a procissões, eu não suportava a falsa uniformidade. Gostava de ver cada indivíduo sendo ele mesmo, igual a todos e diferente de todos ao mesmo tempo.
E, na preparação do clima para a quartelada, houvera a Marcha da Família, com Deus, pela Liberdade, com aquelas senhoras embonecadas e aqueles senhores engravatados me parecendo sumamente ridículos.
Aqui cabe uma explicação: duas fortes influências me indispunham contra a marcha da classe média baratinada.
Minha família era kardecista e, quando eu tinha oito, nove anos, me levava num centro espírita cujo orador falava muito bem... e era exacerbadamente anticatólico.
A cada semana recriminava a riqueza e a falta de caridade da Igreja, contrastando-a com a miséria do seu rebanho. Cansava de repetir que Cristo expulsara os vendilhões do tempo, mas estes estavam todos encastelados no Vaticano.
Vai daí que, cabeça feita por esse devoto tardio do cristianismo das catacumbas, eu jamais poderia aplaudir um movimento de católicos opulentos.
E eu devorara a obra infantil de Monteiro Lobato inteira. Com ele aprendera a prezar a simplicidade, desprezando a ostentação e o luxo; a respeitar os sábios e artistas, de preferência aos ganhadores de dinheiro.
Mas, afora essa rejeição, digamos, estética, eu não tinha opinião sobre o golpe.
Escutava meu avô dizendo que, se viesse o comunismo, ele teria de dividir sua casa com uma família de baianos (o termo pejorativo com que os paulistas designavam os excluídos da época, predominantemente nordestinos).
Registrava a informação, que me parecia um tanto fantasiosa, mas não tinha certeza de que o meu avô estivesse errado.
O certo é que os grandes acontecimentos nacionais me interessavam muito pouco, pois pertenciam à realidade ainda distante do mundo adulto.
Na canção em que Caetano descreve sua partida de Santo Amaro da Purificação para tentar a sorte na cidade grande, ele lembrou que "no dia em que eu vim-me embora/ não teve nada de mais", afora um detalhe prosaico: "senti apenas que a mala de couro que eu carregava/ embora estando forrada/ fedia, cheirava mal".
Da mesma forma, o dia que mudou todo meu futuro -- seja o 31 de março festejado pelos tiranos, seja o 1º de abril em que a mentira realmente tomou conta da Nação -- não teve nada de mais.
Gostaria de poder afirmar que percebi, logo naquele momento, estarmos começando a carregar uma fedorenta mala sem alça, da qual não nos livraríamos por 21 longos anos.
Mas, seria abusar da licença poética e eu não minto, nem para tornar mais vistosas as minhas crônicas.
Os mentirosos eram os outros. Os fardados, as embonecadas e os engravatados.
Uma página mal virada...
Há 45 anos atrás a nossa sociedade viveu um dos momentos mais funestos de sua história.
Uma elite truculenta e sem escrúpulos perpetrou um golpe de Estado covarde e bisonho, impedindo a consolidação da democracia no Brasil.
Uns chamaram este golpe de "ditadura envergonhada", outros, pasmem, de "ditabranda". Eu, a chamo de DITADURA DESAVERGONHADA e HIPÓCRITA!
Como setores que deveriam resguardar os interesses nacionais (do povo, em primeiro lugar) e a defesa da pátria, como os militares, puderam engendrar tamanho descalabro contra a riqueza e a soberania nacional em favorecimento a interesses estrangeiros, principalmente norte-americanos?
Passados 45 anos, não devemos deixar de relembrar este insólito episódio, por mais que as "viuvas" da ditadura e os apaziguadores de plantão queiram. Pois, não se trata de uma "pagina virada" de nossa História. Trata-se, sim, de um prato mal digerido, um caso mal resolvido...
Hoje, percebemos no dia-a-dia a herança desse período infeliz: Velhos coronéis oligarcas ainda dominando a política, dilapidação do patrimônio público, práticas truculentas de setores que deveriam resguardar a segurança da população e a velha idéia de que a sociedade deve ser ordenada de cima, com mão de ferro.
Para que essa história não se repita, nem como farsa, devemos todos, os que viveram aqueles anos e os que não, relembrar os episódios que marcaram aquele 31 de março de 1964. E condená-los veementemente!
segunda-feira, 30 de março de 2009
Um pouco de humor...
NOTA DE REPÚDIO
Professor Hariovaldo Almeida Prado
Indignados e perplexos, repudiamos a colossal agressão perpetrada por este governo usurpador e ilegítimo contra os homens e mulheres boas da nação. Não contentes com as ações policialescas contra uma das maiores construtoras do país, os petistas ignaros lançaram sua gestapo implacavelmente contra uma gentil e meiga dama da sociedade e sua pequena empresa, talvez corroidos pela inveja de nunca terem podido desfrutar dos mimos vendidos em sua loja, visto que são fracassados e incompetentes, forjam ilegalidades e falsas acusações para arrasarem com o que a sociedade Paulistana tem de melhor.
Celso Lungaretti ataca novamente!
A CRIMINALIDADE É INTRÍNSECA AO CAPITALISMO
O problema da escalada da criminalidade no Brasil vai muito além da ótica simplista e repressiva da nossa mídia. Tem a ver com o estilhaçamento da família e da sociedade sob o capitalismo globalizado.
Ambas ainda se mantinham razoavelmente estruturadas no chamado capitalismo industrial, apesar de todos os defeitos que tão bem conhecemos: desigualdades econômicas e sociais, elitismo, autoritarismo, etc.
No final da década de 1960, entretanto, esse modelo chegou ao esgotamento. O próprio capitalismo demandava uma desestruturação da antiga sociedade, para erguer uma nova sobre seus escombros. Os jovens, entretanto, tentaram ir mais longe: em vez da substituição de uma forma de dominação por outra, sonharam com o fim de todas as dominações.
Com o fracasso das tentativas revolucionárias do período (da Primavera de Paris à de Praga, passando pela contestação nos EUA e pelos movimentos revolucionários no 3º mundo) implantou-se a sociedade de massas, em que tudo e todos devem estar permanentemente disponíveis para o consumo.
No Brasil, isto se deu em meio à paz dos cemitérios, na terrível década de 1970.
Os órgãos de comunicação, assumindo plenamente as características de uma indústria cultural, deixaram de lado a missão de formar (expoentes da elite) para o exercício do pensamento crítico, restringindo-se a apenas informar (a elite e a classe média) fragmentariamente e a repisar os valores capitalistas. A formação de cidadãos cedeu lugar à capacitação de profissionais.
O trabalho perdeu qualquer atrativo que ainda tivesse como concretização do potencial criativo do ser humano. Tornou-se uma corrida de ratos atrás do dinheiro, sem ética nem o mínimo respeito pelo interesse coletivo.
O ingresso em massa da mulher no mercado de trabalho aviltou remunerações e subjugou toda a família à engrenagem de produção e consumo, transformando o lar em mero dormitório.
A família foi desvalorizada pela influência atordoante da comunicação de massas. Pais e mães cansados não conseguem competir com o brilho da telinha que hipnotiza as crianças, impingindo-lhes os valores consumistas.
Então, nada existe de estranho no fato de que as pessoas sem aptidões para competir dentro do sistema busquem atalhos para conseguir aqueles bens dia e noite propagandeados como objetos de desejo.
Perplexos, muitos cidadãos gostariam de ver aplicadas aqui as punições drásticas dos países muçulmanos: que se cortassem as mãos dos ladrões, o pênis dos estupradores e a vida dos assassinos. Olho por olho, dente por dente.
Outros pedem mais policiais nas ruas, de preferência atirando primeiro e perguntando depois... nos bairros pobres ou quando os suspeitos são negros, pardos ou malvestidos, é claro.
E há os que defendem a maioridade penal a partir dos 14 ou 16 anos, o que somente fará os bandidos diminuírem proporcionalmente a idade do recrutamento de seus serviçais, até que tenhamos crianças empunhando fuzis e metralhadoras. O velho chavão moralista mudará de “hoje mocinho, amanhã bandido” para “hoje bandido, amanhã defunto”.
No fundo, tudo isso são paliativos. Inexiste forma ideal de se lidar com aqueles que já se tornaram bestas-feras, nocivos para si próprios e para a sociedade. Pode-se, quanto muito, controlá-los – e a um custo dos mais elevados para um país de tantas e tão dramáticas carências.
Exterminá-los, jamais! Isso levaria a violência a patamares apocalípticos, pois os bandidos não teriam mais nada a perder. Nós, sim, perderíamos, ao abrirmos mão da civilização arduamente edificada nos milênios que nos separam da horda primitiva, voltando à estaca zero.
O xis do problema, no entanto, nunca é discutido: o fato de que a criminalidade é intrínseca ao capitalismo e subsistirá enquanto não substituirmos o primado da ganância e da competição pelo da solidariedade e da cooperação.
Vivemos numa sociedade que desperdiça o potencial já existente para se proporcionar uma existência digna a cada habitante do planeta; que faz as pessoas trabalharem muito mais do que o suficiente para a produção do necessário e útil; que condena parcela substancial da população economicamente ativa ao desemprego, à informalidade e à mendicância; que estimula ao máximo a compulsão consumista sem dar à maioria a condição de adquirir seus objetos de desejo; que retirou do trabalho qualquer atrativo como realização individual, tornando-o apenas um meio para obtenção do vil metal (ou seja, uma nova forma de escravidão).
Então, os que ainda têm emprego e os empreendedores continuarão irrealizados, esforçando-se demais para nunca obterem as gratificações almejadas, pois a lógica do capitalismo é perpetuar a insatisfação e mitigá-la com o consumo (a cenoura colocada à frente do asno para que ele continue puxando a carroça). Um círculo vicioso perverso que faz a fortuna dos analistas, dos farsantes religiosos e dos picaretas da auto-ajuda.
Alguns excluídos continuarão vivendo das esmolas dos programas oficiais e vão ajudar a eleger aqueles a quem convém mantê-los em eterna dependência.
Outros tentarão obter pela força aquilo que jamais alcançarão pela competência. E servirão de espantalho para intimidar as classes superiores, fazendo-as crer que uma sociedade policial seria a solução.
É paradoxal que, em nossa época, formidáveis avanços científicos e tecnológicos coexistam com uma regressão ao ambiente medieval, com os nobres entrincheirados em condomínios de alto padrão, circulando em veículos brindados e só podendo levar vida social em shopping centers, sem ousarem expor-se fora de suas fortalezas. No exterior desses espaços fortificados e vigiados, os bárbaros estão sempre à espreita, prontos para desferir seus golpes.
Uma constatação terrível de Friedrich Engels, um dos pais do marxismo: quando uma sociedade consegue aniquilar as forças progressistas que poderiam levá-la a um estágio superior de civilização, acaba sendo destruída pela barbárie. O paralelo é com Roma, que venceu os gladiadores de Spartacus mas sucumbiu aos povos atrasados, condenando o mundo a séculos de trevas.
E o papel de carrasco da sociedade putrefata não será necessariamente cumprido pelos excluídos do progresso desequilibrado e insano: após a recessão capitalista em curso, com enorme risco de evoluir para depressão, vêm aí as décadas de devastações com que o meio ambiente pagará, na mesma moeda, àqueles poucos que gananciosamente o devastaram e àqueles muitos que bovinamente consentiram na devastação.
O que resta saber é se os homens conseguirão unir-se na adversidade, assumindo uma responsabilidade coletiva pela perpetuação da espécie humana.
Pois, prevalecendo a mentalidade do salve-se quem puder, a humanidade dificilmente sobreviverá ao capitalismo.
O problema da escalada da criminalidade no Brasil vai muito além da ótica simplista e repressiva da nossa mídia. Tem a ver com o estilhaçamento da família e da sociedade sob o capitalismo globalizado.
Ambas ainda se mantinham razoavelmente estruturadas no chamado capitalismo industrial, apesar de todos os defeitos que tão bem conhecemos: desigualdades econômicas e sociais, elitismo, autoritarismo, etc.
No final da década de 1960, entretanto, esse modelo chegou ao esgotamento. O próprio capitalismo demandava uma desestruturação da antiga sociedade, para erguer uma nova sobre seus escombros. Os jovens, entretanto, tentaram ir mais longe: em vez da substituição de uma forma de dominação por outra, sonharam com o fim de todas as dominações.
Com o fracasso das tentativas revolucionárias do período (da Primavera de Paris à de Praga, passando pela contestação nos EUA e pelos movimentos revolucionários no 3º mundo) implantou-se a sociedade de massas, em que tudo e todos devem estar permanentemente disponíveis para o consumo.
No Brasil, isto se deu em meio à paz dos cemitérios, na terrível década de 1970.
Os órgãos de comunicação, assumindo plenamente as características de uma indústria cultural, deixaram de lado a missão de formar (expoentes da elite) para o exercício do pensamento crítico, restringindo-se a apenas informar (a elite e a classe média) fragmentariamente e a repisar os valores capitalistas. A formação de cidadãos cedeu lugar à capacitação de profissionais.
O trabalho perdeu qualquer atrativo que ainda tivesse como concretização do potencial criativo do ser humano. Tornou-se uma corrida de ratos atrás do dinheiro, sem ética nem o mínimo respeito pelo interesse coletivo.
O ingresso em massa da mulher no mercado de trabalho aviltou remunerações e subjugou toda a família à engrenagem de produção e consumo, transformando o lar em mero dormitório.
A família foi desvalorizada pela influência atordoante da comunicação de massas. Pais e mães cansados não conseguem competir com o brilho da telinha que hipnotiza as crianças, impingindo-lhes os valores consumistas.
Então, nada existe de estranho no fato de que as pessoas sem aptidões para competir dentro do sistema busquem atalhos para conseguir aqueles bens dia e noite propagandeados como objetos de desejo.
Perplexos, muitos cidadãos gostariam de ver aplicadas aqui as punições drásticas dos países muçulmanos: que se cortassem as mãos dos ladrões, o pênis dos estupradores e a vida dos assassinos. Olho por olho, dente por dente.
Outros pedem mais policiais nas ruas, de preferência atirando primeiro e perguntando depois... nos bairros pobres ou quando os suspeitos são negros, pardos ou malvestidos, é claro.
E há os que defendem a maioridade penal a partir dos 14 ou 16 anos, o que somente fará os bandidos diminuírem proporcionalmente a idade do recrutamento de seus serviçais, até que tenhamos crianças empunhando fuzis e metralhadoras. O velho chavão moralista mudará de “hoje mocinho, amanhã bandido” para “hoje bandido, amanhã defunto”.
No fundo, tudo isso são paliativos. Inexiste forma ideal de se lidar com aqueles que já se tornaram bestas-feras, nocivos para si próprios e para a sociedade. Pode-se, quanto muito, controlá-los – e a um custo dos mais elevados para um país de tantas e tão dramáticas carências.
Exterminá-los, jamais! Isso levaria a violência a patamares apocalípticos, pois os bandidos não teriam mais nada a perder. Nós, sim, perderíamos, ao abrirmos mão da civilização arduamente edificada nos milênios que nos separam da horda primitiva, voltando à estaca zero.
O xis do problema, no entanto, nunca é discutido: o fato de que a criminalidade é intrínseca ao capitalismo e subsistirá enquanto não substituirmos o primado da ganância e da competição pelo da solidariedade e da cooperação.
Vivemos numa sociedade que desperdiça o potencial já existente para se proporcionar uma existência digna a cada habitante do planeta; que faz as pessoas trabalharem muito mais do que o suficiente para a produção do necessário e útil; que condena parcela substancial da população economicamente ativa ao desemprego, à informalidade e à mendicância; que estimula ao máximo a compulsão consumista sem dar à maioria a condição de adquirir seus objetos de desejo; que retirou do trabalho qualquer atrativo como realização individual, tornando-o apenas um meio para obtenção do vil metal (ou seja, uma nova forma de escravidão).
Então, os que ainda têm emprego e os empreendedores continuarão irrealizados, esforçando-se demais para nunca obterem as gratificações almejadas, pois a lógica do capitalismo é perpetuar a insatisfação e mitigá-la com o consumo (a cenoura colocada à frente do asno para que ele continue puxando a carroça). Um círculo vicioso perverso que faz a fortuna dos analistas, dos farsantes religiosos e dos picaretas da auto-ajuda.
Alguns excluídos continuarão vivendo das esmolas dos programas oficiais e vão ajudar a eleger aqueles a quem convém mantê-los em eterna dependência.
Outros tentarão obter pela força aquilo que jamais alcançarão pela competência. E servirão de espantalho para intimidar as classes superiores, fazendo-as crer que uma sociedade policial seria a solução.
É paradoxal que, em nossa época, formidáveis avanços científicos e tecnológicos coexistam com uma regressão ao ambiente medieval, com os nobres entrincheirados em condomínios de alto padrão, circulando em veículos brindados e só podendo levar vida social em shopping centers, sem ousarem expor-se fora de suas fortalezas. No exterior desses espaços fortificados e vigiados, os bárbaros estão sempre à espreita, prontos para desferir seus golpes.
Uma constatação terrível de Friedrich Engels, um dos pais do marxismo: quando uma sociedade consegue aniquilar as forças progressistas que poderiam levá-la a um estágio superior de civilização, acaba sendo destruída pela barbárie. O paralelo é com Roma, que venceu os gladiadores de Spartacus mas sucumbiu aos povos atrasados, condenando o mundo a séculos de trevas.
E o papel de carrasco da sociedade putrefata não será necessariamente cumprido pelos excluídos do progresso desequilibrado e insano: após a recessão capitalista em curso, com enorme risco de evoluir para depressão, vêm aí as décadas de devastações com que o meio ambiente pagará, na mesma moeda, àqueles poucos que gananciosamente o devastaram e àqueles muitos que bovinamente consentiram na devastação.
O que resta saber é se os homens conseguirão unir-se na adversidade, assumindo uma responsabilidade coletiva pela perpetuação da espécie humana.
Pois, prevalecendo a mentalidade do salve-se quem puder, a humanidade dificilmente sobreviverá ao capitalismo.
domingo, 29 de março de 2009
segunda-feira, 23 de março de 2009
GRANDES PENSADORES - S. FREUD
Segundo Sigmund Freud, o sofrimento do homem provém de três direções: do próprio corpo, pela decadência e pela ansiedade; do mundo externo, através de uma força de destruição esmagadora; e pelo seu relacionamento com os outros homens. A pressão externa fez com que o homem moderasse as suas reivindicações de prazer. Para que o homem pudesse viver em sociedade teve que abandonar seu extinto de agressividade e abrandar sua compulsão sexual.
A vida comunitária dos seres humanos constituiu-se a partir de um conceito duplo: primeiramente a compulsão para o trabalho, criada pela necessidade externa; em seguida vem o amor, que fez o homem relutar em privar-se de seu objeto sexual, a mulher; esta, por sua vez, precisou privar-se daquela parte de si própria que lhe fora separada, o filho. O amor, então, impõe restrições à civilização, querendo conservar seus membros juntos a si; ao mesmo tempo, a civilização impõe regras e proibições restritivas ao amor (uma dessas restrições seria a excitação visual em detrimento à excitação olfativa do desejo sexual). O argumento de Freud, portanto, seria de que, para sermos felizes, teríamos que abandonar a civilização.
BOAS VIZINHANÇAS! "mas non tropo"
No jogo da aproximação entre o Brasil e os Estados Unidos durante a Segunda Guerra Mundial, entraram em cena importantes elementos simbólicos para a construção de uma geografia cultural que enfatizasse o poder norte-americano abaixo da linha do equador. O caminho entre as Américas deveria ser uma avenida de mão dupla: os brasileiros tinham de ser convencidos de que o american way of life (estilo americano de vida) era o ideal da democracia, e os americanos acreditariam nos brasileiros como inofensivos “amantes do samba e das mulatas”. A Política da Boa Vizinhança do presidente Franklin Delano Roosevelt buscava uma solidariedade hemisférica, definida no contexto da Segunda Guerra e nos termos dos interesses norte-americanos. Visava garantir a posição estratégica dos aliados no Cone Sul frente às forças do Eixo. Afirmavam-se, assim, os símbolos de uma cultura que se internacionalizava, contando-se para tal com todos os recursos da mídia disponíveis na época – cinema, imprensa e publicidade –, no seu papel de divulgar valores e criar modas. É nesse contexto que locações, temas e talentos latino-americanos ganham espaço até então inédito nas produções hollywoodianas. Carmem Miranda foi exemplo disso. Ademais, a atuação do desenhista Walt Disney ao retratar as várias localidades da América do Sul (Brasil, Argentina, Chile, etc.) em seus longa-metragens que mesclavam cenas reais com animação, mostra como o intercâmbio cultural e a representação do “outro” como nação – até então desconhecida em termos de valores culturais – eram uma das estratégias mais poderosas dos norte-americanos nesse período. Essas “estratégias” serviram para mostrar como a cultura brasileira foi aos poucos incorporando elementos socioculturais dos Estados Unidos, algo que não se restringiu e nem se esgotou nesse período de guerras, mas permaneceu, ampliou-se e hoje está cada vez mais presente na sociedade, nos costumes, nos hábitos e nos valores, não só do Brasil, mas do mundo em quase sua totalidade. Desse modo, é importantíssimo reavaliar sempre este tema para que possamos adentrar o mundo do século XXI, o qual é cada vez mais marcado pelo intercâmbio de culturas e valores entre as nações, com um mínimo de consciência e participação ativa, já que estamos sendo inseridos voluntária ou compulsoriamente nele através do uso da tecnologia e informação disseminadas.
Mais uma do "Náufrago"
A MORAL DELES E A NOSSA
No último dia 6, o Centro Acadêmico XI de Agosto promoveu um debate sobre o Caso Battisti, na histórica Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP. Senti-me honrado em pisar o palco de tantas lutas pela liberdade.
Ao meu lado, o senador Eduardo Suplicy. No córner oposto, uma professora de Direito Penal e um italo-brasileiro pertencente a alguma entidade de comércio entre os dois países.
Suplicy apenas expôs longamente sua posição, leu a carta de Cesare que ele entregou pessoalmente ao STF e saiu para atender a outro compromisso. Fiquei sozinho para o debate.
Mesmo assim, como personagem histórico que passou por situações semelhantes às da via crucis de Battisti, eu conseguia equilibrar a discussão. Falava em nome do espírito de Justiça que Platão dizia ser inerente ao ser humano, contra a razão de Estado personificada pelos outros dois. Havia estudantes me aplaudindo.
Então, a professora tentou uma provocação, perguntando-me o que achava do episódio da deportação dos pugilistas cubanos. Supunha, evidentemente, que eu não os teria defendido como defendo o Cesare.
Respondi que, desde o primeiro momento, posicionei-me contra a sofreguidão com que tudo foi encaminhado. Não havia motivo nenhum para resolver-se o episódio a toque de caixa.
Deveriam ter recebido aconselhamento da OAB e da Anistia Internacional, decidindo, depois, sem pressa. A solução de afogadilho e o fato de haverem sido ambos tratados como párias ao retornarem a Cuba (tendo, portanto, feito a escolha errada) lançaram justificadas suspeitas sobre a lisura do comportamento das autoridades brasileiras.
Acrescentei que defendera os direitos humanos dos boxeadores em nome de um princípio, já que não nutria simpatia nenhuma por eles como seres humanos. Considerava-os mercenários.
Foi o suficiente para meus dois adversários pularem das cadeiras e começarem a berrar, em uníssono, que estava demonstrado o desprezo que os esquerdistas nutrem pelos homens simples, sua mentalidade desumana, etc. Demagogia barata.
Esperei as performances canastrônicas terminarem e, calmamente, comecei a lembrar resistentes que conheci e foram abatidos como cães pela ditadura militar, começando pelo meu saudoso companheiro Eremias Delizoicov, colega de escola desde o Primário, que aos 18 anos foi cercado pela repressão num sobrado do qual jamais poderia escapar e, mesmo assim, retalhado por 35 disparos, a tal ponto que o cadáver ficou irreconhecível.
Então, completei, defendo os direitos humanos de quem quer que tenha sido injustiçado, mas só respeito os cidadãos que buscam soluções coletivas, não individuais. Se os dois pugilistas consideravam que a vida em Cuba era um inferno, que lutassem junto com os dissidentes para torná-la um paraíso.
Agora, irem sozinhos ganhar fortunas no exterior, deixando o seu povo para trás, é uma atitude que jamais terá minha admiração. Pois não foi assim que eu e aqueles a quem realmente admiro agimos durante a ditadura militar.
Amuados, os contendores não retrucaram e o debate seguiu em outras direções.
Resolvi relatar este episódio porque li, no noticiário esportivo de hoje, que outro desses desertores cubanos, o também pugilista Juan Carlos Gomez, será o primeiro boxeador do seu país a disputar, como profissional, a coroa mundial dos peso-pesados.
Mas, o que me chamou mesmo a atenção foi o fato de que, já na nova vida, ele engravidou a filha do seu técnico e se recusou a casar com ela, dando uma resposta reveladora: "Vim aqui para ser livre".
Erislandy Lara, um dos que tentaram desertar no Brasil, é um verdadeiro Pinóquio, dando uma versão diferente do episódio a cada pronunciamento. Esse tal Gomes confunde liberdade com irresponsabilidade. Dá para respeitarmos gente assim?
No último dia 6, o Centro Acadêmico XI de Agosto promoveu um debate sobre o Caso Battisti, na histórica Sala dos Estudantes da Faculdade de Direito da USP. Senti-me honrado em pisar o palco de tantas lutas pela liberdade.
Ao meu lado, o senador Eduardo Suplicy. No córner oposto, uma professora de Direito Penal e um italo-brasileiro pertencente a alguma entidade de comércio entre os dois países.
Suplicy apenas expôs longamente sua posição, leu a carta de Cesare que ele entregou pessoalmente ao STF e saiu para atender a outro compromisso. Fiquei sozinho para o debate.
Mesmo assim, como personagem histórico que passou por situações semelhantes às da via crucis de Battisti, eu conseguia equilibrar a discussão. Falava em nome do espírito de Justiça que Platão dizia ser inerente ao ser humano, contra a razão de Estado personificada pelos outros dois. Havia estudantes me aplaudindo.
Então, a professora tentou uma provocação, perguntando-me o que achava do episódio da deportação dos pugilistas cubanos. Supunha, evidentemente, que eu não os teria defendido como defendo o Cesare.
Respondi que, desde o primeiro momento, posicionei-me contra a sofreguidão com que tudo foi encaminhado. Não havia motivo nenhum para resolver-se o episódio a toque de caixa.
Deveriam ter recebido aconselhamento da OAB e da Anistia Internacional, decidindo, depois, sem pressa. A solução de afogadilho e o fato de haverem sido ambos tratados como párias ao retornarem a Cuba (tendo, portanto, feito a escolha errada) lançaram justificadas suspeitas sobre a lisura do comportamento das autoridades brasileiras.
Acrescentei que defendera os direitos humanos dos boxeadores em nome de um princípio, já que não nutria simpatia nenhuma por eles como seres humanos. Considerava-os mercenários.
Foi o suficiente para meus dois adversários pularem das cadeiras e começarem a berrar, em uníssono, que estava demonstrado o desprezo que os esquerdistas nutrem pelos homens simples, sua mentalidade desumana, etc. Demagogia barata.
Esperei as performances canastrônicas terminarem e, calmamente, comecei a lembrar resistentes que conheci e foram abatidos como cães pela ditadura militar, começando pelo meu saudoso companheiro Eremias Delizoicov, colega de escola desde o Primário, que aos 18 anos foi cercado pela repressão num sobrado do qual jamais poderia escapar e, mesmo assim, retalhado por 35 disparos, a tal ponto que o cadáver ficou irreconhecível.
Então, completei, defendo os direitos humanos de quem quer que tenha sido injustiçado, mas só respeito os cidadãos que buscam soluções coletivas, não individuais. Se os dois pugilistas consideravam que a vida em Cuba era um inferno, que lutassem junto com os dissidentes para torná-la um paraíso.
Agora, irem sozinhos ganhar fortunas no exterior, deixando o seu povo para trás, é uma atitude que jamais terá minha admiração. Pois não foi assim que eu e aqueles a quem realmente admiro agimos durante a ditadura militar.
Amuados, os contendores não retrucaram e o debate seguiu em outras direções.
Resolvi relatar este episódio porque li, no noticiário esportivo de hoje, que outro desses desertores cubanos, o também pugilista Juan Carlos Gomez, será o primeiro boxeador do seu país a disputar, como profissional, a coroa mundial dos peso-pesados.
Mas, o que me chamou mesmo a atenção foi o fato de que, já na nova vida, ele engravidou a filha do seu técnico e se recusou a casar com ela, dando uma resposta reveladora: "Vim aqui para ser livre".
Erislandy Lara, um dos que tentaram desertar no Brasil, é um verdadeiro Pinóquio, dando uma versão diferente do episódio a cada pronunciamento. Esse tal Gomes confunde liberdade com irresponsabilidade. Dá para respeitarmos gente assim?
quinta-feira, 19 de março de 2009
O que de bom vem de Brasília...
O Detrito Federal é uma das minhas bandas preferidas dos anos 80. Primeiro, fui seduzido pela capa do disco - que jovem não o seria naquela época? (o desenho de um bonequinho fazendo da arquitetura do Senado um uso bastante significativo: cagando e mijando na cúpula), depois pelo batidão punk e, também, pela irreverência das letras.
É Rock do bom, agressivo e direto e, a inspiração para as capas, me parecem, ainda, bastante atuais.
Recordar?... Sempre!
O LEGADO DA DITADURA DOS GENERAIS: fracasso e atrocidades
Ao completarem-se 45 anos da quebra da normalidade institucional no Brasil, mergulhando o País nas trevas e barbárie durante duas décadas, é oportuno evocarmos o que realmente foi essa nada branda ditadura de 1964/85, defendida hoje com tamanha desfaçatez pelos jornalões, seus editorialistas e articulistas.
Como frisou a bela canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, cabe a nós, sobreviventes do pesadelo, o papel de sentinelas do corpo e do sacrifício dos nossos irmãos que já se foram, assegurando-nos de que a memória não morra – mas, pelo contrário, sirva de vacina contra novos surtos da infestação virulenta do totalitarismo.
Nessa efeméride negativa, o primeiro ponto a se destacar é que a quartelada de 1964 foi o coroamento de uma longa série de articulações e tentativas golpistas, nada tendo de espontâneo nem sendo decorrente de situações conjunturais; estas foram apenas pretextos, não causa.
Há controvérsias sobre se a articulação da UDN com setores das Forças Armadas para derrubar o presidente Getúlio em 1954 desembocaria numa ditadura, caso o suicídio e a carta de Vargas não tivessem virado o jogo. Mas, é incontestável que a ultra-direita vinha há muito tempo tentando usurpar o poder.
Em novembro/1955, uma conspiração de políticos udenistas e militares extremistas tentou contestar o triunfo eleitoral de Juscelino Kubitscheck, mas foi derrotada graças, principalmente, à posição legalista que Teixeira Lott, o ministro da Guerra, assumiu. Um dos golpistas presos: o então tenente-coronel Golbery do Couto e Silva, que viria a ser o formulador da doutrina de Segurança Nacional e eminência parda do ditador Geisel.
Em fevereiro de 1956, duas semanas após a posse de JK, os militares já se insubordinavam contra o governo constitucional, na revolta de Jacareacanga.
Os oficiais da FAB repetiram a dose em outubro de 1959, com a também fracassada revolta de Aragarças.
E, em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros, as Forças Armadas vetaram a posse do vice-presidente João Goulart e iniciaram, juntamente com os conspiradores civis, a constituição de um governo ilegítimo, só voltando atrás diante da resistência do governador Leonel Brizola (RS) e do apoio por ele recebido do comandante do III Exército, gerando a ameaça de uma guerra civil.
Apesar das bravatas de Luiz Carlos Prestes e dos chamados grupos dos 11 brizolistas, inexistia em 1964 uma possibilidade real de revolução socialista. Não houve o alegado "contragolpe preventivo", mas, pura e simplesmente, um golpe para usurpação do poder, meticulosamente tramado e executado com apoio dos EUA. Derrubou-se um governo democraticamente constituído, fechou-se o Congresso Nacional, cassaram-se mandatos legítimos, extinguiram-se entidades da sociedade civil, prenderam-se e barbarizaram-se cidadãos.
A esquerda só voltou para valer às ruas em 1968, mas as manifestações de massa foram respondidas com o uso cada vez mais brutal da força, por parte de instâncias da ditadura e dos efetivos paramilitares que atuavam sem freios de nenhuma espécie, promovendo atentados e intimidações.
Até que, com a edição do dantesco AI-5 (que fez do Legislativo e o Judiciário Poderes-fantoches do Executivo, suprimindo os mais elementares direitos dos cidadãos), em dezembro de 1968, a resistência pacífica se tornou inviável. Foi quando a vanguarda armada, insignificante até então, ascendeu ao primeiro plano, acolhendo os militantes que antes se dedicavam aos movimentos de massa.
As organizações guerrilheiras conseguiram surpreender a ditadura no 1º semestre de 1969, mas já no 2º semestre as Forças Armadas começaram a levar vantagem no plano militar, introduzindo novos métodos repressivos e maximizando a prática da tortura, a partir de lições recebidas de oficiais estadunidenses.
Em 1970 os militares assumiram a dianteira também no plano político, aproveitando o boom econômico e a euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que lhes trouxeram o apoio da classe média.
Nos anos seguintes, com a guerrilha nos estertores, as Forças Armadas partiram para o extermínio premeditado dos militantes, que, mesmo quando capturados com vida, eram friamente executados.
A Casa da Morte de Petrópolis (RJ) e o assassinato sistemático dos combatentes do Araguaia estão entre as páginas mais vergonhosas da História brasileira – daí a obstinação dos carrascos envergonhados em darem sumiço nos restos mortais de suas vítimas, acrescentando ao genocídio a ocultação de cadáveres.
O milagre brasileiro, fruto da reorganização econômica empreendida pelos ministros Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, bem como de uma enxurrada de investimentos estadunidenses em 1970 (quando aqui entraram tantos dólares quanto nos 10 anos anteriores somados), teve vida curta e em 1974 a maré já virou, ficando muitas contas para as gerações seguintes pagarem.
As ciências, as artes e o pensamento eram cerceados por meio de censura, perseguições policiais e administrativas, pressões políticas e econômicas, bem como dos atentados e espancamentos praticados pelos grupos paramilitares consentidos pela ditadura.
Corrupção, havia tanta quanto agora, mas a imprensa era impedida de noticiar o que acontecia, p. ex., nos projetos faraônicos como a Transamazônica, Ferrovia do Aço, Itaipu e Paulipetro (muitos dos quais malograram).
A arrogância e impunidade com que agiam as forças de segurança causou muitas vítimas inocentes, como o motorista baleado em 1969 apenas por estar passando em alta velocidade diante de um quartel, na madrugada paulistana (o comandante da unidade ainda elogiou o recruta assassino, por ter cumprido fielmente as ordens recebidas!).
Longe de garantirem a segurança da população, os integrantes dos efetivos policiais chegavam até a acumpliciar-se com traficantes, executando seus rivais a pretexto de justiçar bandidos (Esquadrões da Morte).
O aparato repressivo criado para combater a guerrilha propiciava a seus integrantes uma situação privilegiadíssima. Não só recebiam de empresários direitistas vultosas recompensas por cada "subversivo" preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de valor com os resistentes. Acostumaram-se a um padrão de vida muito superior ao que sua remuneração normal lhes proporcionaria.
Daí terem resistido encarniçadamente à disposição do ditador Geisel, de desmontar essa engrenagem de terrorismo de estado, no momento em que ela se tornou desnecessária. Mataram pessoas inofensivas como Vladimir Herzog, promoveram atentados contra pessoas e instituições (inclusive o do Riocentro, que, se não tivesse falhado, provocaria um morticínio em larga escala) e chegaram a conspirar contra o próprio Geisel, que foi obrigado a destituir sucessivamente o comandante do II Exército e o ministro do Exército.
A ditadura terminou melancolicamente em 1985, com a economia marcando passo e os cidadãos cada vez mais avessos ao autoritarismo sufocante. Seu último espasmo foi frustrar a vontade popular, negando aos brasileiros o direito de elegerem livremente o presidente da República, ao conseguir evitar a aprovação da emenda das diretas-já.
Ao completarem-se 45 anos da quebra da normalidade institucional no Brasil, mergulhando o País nas trevas e barbárie durante duas décadas, é oportuno evocarmos o que realmente foi essa nada branda ditadura de 1964/85, defendida hoje com tamanha desfaçatez pelos jornalões, seus editorialistas e articulistas.
Como frisou a bela canção de Milton Nascimento e Fernando Brant, cabe a nós, sobreviventes do pesadelo, o papel de sentinelas do corpo e do sacrifício dos nossos irmãos que já se foram, assegurando-nos de que a memória não morra – mas, pelo contrário, sirva de vacina contra novos surtos da infestação virulenta do totalitarismo.
Nessa efeméride negativa, o primeiro ponto a se destacar é que a quartelada de 1964 foi o coroamento de uma longa série de articulações e tentativas golpistas, nada tendo de espontâneo nem sendo decorrente de situações conjunturais; estas foram apenas pretextos, não causa.
Há controvérsias sobre se a articulação da UDN com setores das Forças Armadas para derrubar o presidente Getúlio em 1954 desembocaria numa ditadura, caso o suicídio e a carta de Vargas não tivessem virado o jogo. Mas, é incontestável que a ultra-direita vinha há muito tempo tentando usurpar o poder.
Em novembro/1955, uma conspiração de políticos udenistas e militares extremistas tentou contestar o triunfo eleitoral de Juscelino Kubitscheck, mas foi derrotada graças, principalmente, à posição legalista que Teixeira Lott, o ministro da Guerra, assumiu. Um dos golpistas presos: o então tenente-coronel Golbery do Couto e Silva, que viria a ser o formulador da doutrina de Segurança Nacional e eminência parda do ditador Geisel.
Em fevereiro de 1956, duas semanas após a posse de JK, os militares já se insubordinavam contra o governo constitucional, na revolta de Jacareacanga.
Os oficiais da FAB repetiram a dose em outubro de 1959, com a também fracassada revolta de Aragarças.
E, em agosto de 1961, quando da renúncia de Jânio Quadros, as Forças Armadas vetaram a posse do vice-presidente João Goulart e iniciaram, juntamente com os conspiradores civis, a constituição de um governo ilegítimo, só voltando atrás diante da resistência do governador Leonel Brizola (RS) e do apoio por ele recebido do comandante do III Exército, gerando a ameaça de uma guerra civil.
Apesar das bravatas de Luiz Carlos Prestes e dos chamados grupos dos 11 brizolistas, inexistia em 1964 uma possibilidade real de revolução socialista. Não houve o alegado "contragolpe preventivo", mas, pura e simplesmente, um golpe para usurpação do poder, meticulosamente tramado e executado com apoio dos EUA. Derrubou-se um governo democraticamente constituído, fechou-se o Congresso Nacional, cassaram-se mandatos legítimos, extinguiram-se entidades da sociedade civil, prenderam-se e barbarizaram-se cidadãos.
A esquerda só voltou para valer às ruas em 1968, mas as manifestações de massa foram respondidas com o uso cada vez mais brutal da força, por parte de instâncias da ditadura e dos efetivos paramilitares que atuavam sem freios de nenhuma espécie, promovendo atentados e intimidações.
Até que, com a edição do dantesco AI-5 (que fez do Legislativo e o Judiciário Poderes-fantoches do Executivo, suprimindo os mais elementares direitos dos cidadãos), em dezembro de 1968, a resistência pacífica se tornou inviável. Foi quando a vanguarda armada, insignificante até então, ascendeu ao primeiro plano, acolhendo os militantes que antes se dedicavam aos movimentos de massa.
As organizações guerrilheiras conseguiram surpreender a ditadura no 1º semestre de 1969, mas já no 2º semestre as Forças Armadas começaram a levar vantagem no plano militar, introduzindo novos métodos repressivos e maximizando a prática da tortura, a partir de lições recebidas de oficiais estadunidenses.
Em 1970 os militares assumiram a dianteira também no plano político, aproveitando o boom econômico e a euforia da conquista do tricampeonato mundial de futebol, que lhes trouxeram o apoio da classe média.
Nos anos seguintes, com a guerrilha nos estertores, as Forças Armadas partiram para o extermínio premeditado dos militantes, que, mesmo quando capturados com vida, eram friamente executados.
A Casa da Morte de Petrópolis (RJ) e o assassinato sistemático dos combatentes do Araguaia estão entre as páginas mais vergonhosas da História brasileira – daí a obstinação dos carrascos envergonhados em darem sumiço nos restos mortais de suas vítimas, acrescentando ao genocídio a ocultação de cadáveres.
O milagre brasileiro, fruto da reorganização econômica empreendida pelos ministros Roberto Campos e Octávio Gouveia de Bulhões, bem como de uma enxurrada de investimentos estadunidenses em 1970 (quando aqui entraram tantos dólares quanto nos 10 anos anteriores somados), teve vida curta e em 1974 a maré já virou, ficando muitas contas para as gerações seguintes pagarem.
As ciências, as artes e o pensamento eram cerceados por meio de censura, perseguições policiais e administrativas, pressões políticas e econômicas, bem como dos atentados e espancamentos praticados pelos grupos paramilitares consentidos pela ditadura.
Corrupção, havia tanta quanto agora, mas a imprensa era impedida de noticiar o que acontecia, p. ex., nos projetos faraônicos como a Transamazônica, Ferrovia do Aço, Itaipu e Paulipetro (muitos dos quais malograram).
A arrogância e impunidade com que agiam as forças de segurança causou muitas vítimas inocentes, como o motorista baleado em 1969 apenas por estar passando em alta velocidade diante de um quartel, na madrugada paulistana (o comandante da unidade ainda elogiou o recruta assassino, por ter cumprido fielmente as ordens recebidas!).
Longe de garantirem a segurança da população, os integrantes dos efetivos policiais chegavam até a acumpliciar-se com traficantes, executando seus rivais a pretexto de justiçar bandidos (Esquadrões da Morte).
O aparato repressivo criado para combater a guerrilha propiciava a seus integrantes uma situação privilegiadíssima. Não só recebiam de empresários direitistas vultosas recompensas por cada "subversivo" preso ou morto, como se apossavam de tudo que encontravam de valor com os resistentes. Acostumaram-se a um padrão de vida muito superior ao que sua remuneração normal lhes proporcionaria.
Daí terem resistido encarniçadamente à disposição do ditador Geisel, de desmontar essa engrenagem de terrorismo de estado, no momento em que ela se tornou desnecessária. Mataram pessoas inofensivas como Vladimir Herzog, promoveram atentados contra pessoas e instituições (inclusive o do Riocentro, que, se não tivesse falhado, provocaria um morticínio em larga escala) e chegaram a conspirar contra o próprio Geisel, que foi obrigado a destituir sucessivamente o comandante do II Exército e o ministro do Exército.
A ditadura terminou melancolicamente em 1985, com a economia marcando passo e os cidadãos cada vez mais avessos ao autoritarismo sufocante. Seu último espasmo foi frustrar a vontade popular, negando aos brasileiros o direito de elegerem livremente o presidente da República, ao conseguir evitar a aprovação da emenda das diretas-já.
terça-feira, 17 de março de 2009
Western italiano ou Era uma vez uma Revolução...
Ver em Náufrago da Utopia
Muitos dos que hoje se deslumbram com as estilizações de duelos e a extraordinária trilha musical de Kill Bill, ignoram que as primeiras inspiraram-se diretamente nas coreografias dos filmes do diretor Sergio Leone, enquanto várias músicas foram compostas há quatro décadas atrás, por Ennio Morricone, para os bangue-bangues italianos.
É que Quentin Tarantino estava prestando um comovido tributo a esses dois mestres, que devem ter-lhe inspirado sonhos e brincadeiras nos seus tempos de menino.
Nascido em meados da década de 1960, o spaghetti-western lavou a alma de todos nós que gostávamos dos bangue-bangues, mas não da caretice dos estadunidenses.
Teve surpreendente sucesso nas bilheterias: O Dólar Furado, p. ex., chegou a ficar em cartaz por cerca de um ano num cinema de São Paulo. Isto se deveu não só a ter ocupado um espaço vazio, já que os norte-americanos haviam deixado de fazer westerns, como também a haver trazido um novo enfoque e uma nova moldura para o gênero.
Tirando obras de exceção como Matar ou Morrer, Sem Lei e Sem Alma, O Matador, Estigma da Crueldade e Rastros do Ódio, os faroestes made in USA de até então tinham o insuportável defeito de tentarem nos impingir aquela ladainha da luta eterna do Bem contra o Mal -- um tédio!
O mocinho não fumava, não bebia, não praguejava e nem trepava. A mocinha era recatada donzela. O xerife, pachorrento mas digno. Os índios, selvagens bestiais que tinham de ser tirados do caminho para não atrapalharem o progresso. Os mexicanos, beberrões subumanos.
Mesmo no mato, conduzindo boiada, o mocinho tinha a decência de manter-se sempre limpo e escanhoado. Bah!
O western italiano surgiu meio por acaso. A indústria cinematográfica italiana conseguira nos anos anteriores faturar uma boa grana com filmes épicos e mitológicos. Hércules, Maciste, Ursus, Golias, fundação de Roma, guerra de Tróia, etc. O filão, entretanto, estava esgotando-se e a Cinecittà saiu à cata de um novo produto.
Sergio Leone, então com 34 anos, tinha começado a carreira no neo-realismo italiano (como assistente de direção e diretor de segunda unidade), mas não conseguira alçar-se à direção. Era difícil abrir um espaço entre mestres como Vittorio De Sica, Lucchino Visconti, Pier Paolo Pasolini, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, etc.
Então, entre atuar eternamente à sombra dos medalhões do cinema de arte ou mostrar seu trabalho no cinema dito comercial, escolheu a segunda opção. Depois de dirigir os épicos Os Últimos Dias de Pompéia e O Colosso de Rodes, teve a sorte de estar no lugar certo, no momento exato, para dar o pontapé de partida num novo ciclo.
Adaptou para o Oeste a história de Yojimbo, um filme de Akira Kurosawa sobre samurai que açula a discórdia entre dois senhores feudais para prestar-lhes serviço alternadamente, sem que percebam seu jogo duplo. O que Leone fez em Por Um Punhado de Dólares, basicamente, foi mudar a ambientação e colocar um pistoleiro caça-prêmios no lugar do samurai.
O protagonista também teve aí seu grande golpe de sorte. Clint Eastwood não emplacara em Hollywood como mocinho, ficando relegado a papéis secundários em séries de TV e a filminhos classe “B” e “C”.
Leone percebeu nele um bom anti-herói. Compôs seu personagem (o Estranho Sem Nome) com barba rala, chapéu sobre os olhos, charuto na boca, fala arrastada e um poncho. Com isto, acabou alçando-o ao estrelato e fazendo jus à homenagem que depois Eastwood lhe prestaria, ao dedicar-lhe sua obra-prima Os Imperdoáveis.
O que diferenciou o western italiano foi exatamente ter sido feito por cineastas bem diferentes dos tarefeiros hollywoodescos (os ditos artesãos, que se limitavam ao feijão-com-arroz artístico que lhes garantisse o dito cujo gastronômico).
Damiano Damiani, Carlo Lizzani e Sergio Corbucci eram outros talentos com a cabeça feita pelo cinema de arte, assim como o superlativo roteirista Sergio Donatti (aliás, até os grandes diretores Bernardo Bertolucci e Dario Argento chegaram a escrever uma história para western).
Então, não se limitaram a realizar filmes com muita ação e nenhuma vida inteligente; fizeram questão de deixar sua marca, passando mensagens cifradas, dando toques, propondo outra abordagem para o gênero.
Em vez de um palco em que o Bem vence sempre o Mal, o bangue-bangue italiano mostrou o velho Oeste como uma terra de ninguém, primitiva e selvagem, em que todos perseguem seus objetivos como podem.
Evidentemente, há muito mais verossimilhança nesse enfoque do que no norte-americano. O Oeste do século 19 seria algo como o garimpo de Serra Pelada no seu apogeu. Um grotão selvagem onde prevalecia a lei do mais forte.
Em vez do herói, o western italiano consagrou o anti-herói: barbudo, desgrenhado, com roupas sinistras, muitas vezes um caça-prêmios, quase sempre um mau-caráter. No fundo, só se diferenciando dos bandidos por agir sozinho enquanto os outros atuam em bando.
Lembrem-se: era a década de 1960, quando havia um imenso desencanto com a ordem estabelecida. Rebeldes eram tudo que queríamos ver. Não suportávamos mais os heroizinhos c.d.f. de Hollywood, daí termos sido imediatamente cativados pela alternativa européia, os Djangos, Sabatas e Sartanas (os únicos mocinhos nos moldes estadunidenses eram os protagonizados por Giuliano Gemma).
E, enquanto os poderosos viraram vilãos, os índios e os peões mexicanos passaram a ser mostrados como vítimas e heróis. Afinal, vários cineastas italianos tinham inclinações revolucionárias, mas não havia nada revolucionário para destacar nos EUA do século 19.
A solução foi transferir a ação para o efervescente México, como em Quando Explode a Vingança, Gringo, Reze a Deus e Cave Sua Sepultura, Réquiem Para Matar, Companheiros e O Dia da Desforra.
Toques esquerdistas, sim, eles podiam inserir em filmes ambientados nos EUA:
o próprio Django, no qual os vilãos são flagrantemente inspirados na Ku-Klux-Khan;
Quando os Brutos Se Defrontam, reflexão sobre a gênese de líderes oportunistas;
O Especialista, que coloca jovens rebeldes (referência às barricadas francesas de 1968) em ação no Oeste;
O Vingador Silencioso, denunciando o massacre de Johnson Country, quando centenas de imigrantes eslavos foram dizimados pelos barões de gado do Wyoming – o mesmo episódio histórico que seria depois retratado na superprodução O Portal do Paraíso;
e o extraordinário Três Homens em Conflito, com algumas das mais marcantes seqüências antibelicistas do cinema em todos os tempos.
Uma última característica notável foi libertar a trilha musical da tirania do country. Não mais o que realmente existia nos EUA do século retrasado, como violões, violinos, banjos, gaitas e sanfonas, mas também flauta, saxofone, órgão, sintetizadores, castanholas -- tudo que se harmonizasse com o clima daquela seqüência, pouco importando se tais instrumentos eram encontrados ou não no velho Oeste.
Para completar, o uso criativo de sinos, caixas de música, assobios e outros achados. Morricone é, com certeza, o melhor criador de trilhas musicais de todos os tempos.
FILMES INESQUECÍVEIS
Quando Explode a Vingança está entre os melhores filmes do Leone. É, na verdade, o segundo da trilogia era uma vez, que inclui Era Uma Vez No Oeste e Era Uma Vez Na América (26). Deveria ter-se chamado Era Uma Vez A Revolução, mas acabou com um título que em italiano significa "abaixe a cabeça" e, nos EUA, "agache-se, otário!".
Na visão do Leone, os verdadeiros heróis da revolução são os anônimos homens do povo, enquanto os líderes acabam sempre traindo a causa -- seja no México (o médico interpretado por Romolo Valli) ou na Irlanda (o dirigente do IRA que é amigo do John/James Coburn).
Foi feito em 1971, quando os movimentos revolucionários pipocavam na Itália, radicalizando-se progressivamente. Parece expressar o desencanto do Leone com o Partido Comunista Italiano e ser um alerta de que as Brigadas Vermelhas e congêneres teriam destino trágico.
Um lance interessante é mostrar de forma totalmente desumanizada o comandante das forças contra-revolucionárias: ele é visto escovando repulsivamente os dentes, chupando um ovo, olhando pelo binóculo. Leone não lhe concede sequer a dignidade da fala. De sua forma sutil, expressa o desprezo absoluto que tinha pela direita troglodita.
Outra grande sacada do Leone é ressaltar que a História nunca fixa a versão correta dos fatos. A frase que o Irlandês sempre repete, sobre "os grandes e gloriosos heróis da revolução", é um primor de sarcasmo.
* * *
Três Homens em Conflito foi, claramente, o divisor de águas na carreira de Sergio Leone, o momento em que ele mostrou ser muito mais do que um (brilhante) artesão.
Até então, em Por um Punhado de Dólares ele introduzira a figura do anti-herói no centro da trama; a amoralidade básica dos tipos e das situações; a apresentação criativa dos letreiros iniciais, valorizada com vários recursos, inclusive o uso de animação; a nova concepção musical que Morricone trouxe para os westerns; e um dos personagens mais emblemáticos do bangue-bangue à italiana, o pistoleiro oportunista interpretado por Clint Eastwood.
Depois, em Por Uns Dólares a Mais, todas essas características foram desenvolvidas e aprimoradas. É um filme muito melhor do que o anterior, mas, paradoxalmente, não apresentou novidades significativas.
A única que vale a pena citar é a colocação de dois personagens em destaque, em vez de um. A partir daí, os filmes de Leone trariam sempre essa dupla de anti-heróis ocupando o espaço dos antigos mocinhos.
Depois dos personagens interpretados por Clint Eastwood/Lee Van Cleef em Por Uns Dólares a Mais, tivemos Clint Eastwood/Eli Walash (Três Homens em Conflito), Charles Bronson/Jason Robards (Era Uma Vez no Oeste), Rod Steiger/James Coburn (Quando Explode a Vingança) e Robert De Niro/James Woods (Era Uma Vez na América).
Aí, finalmente, estava pronto para seu tour-de-force: Três Homens em Conflito foi a obra em que Leone definiu e afirmou seu estilo, embutindo no cinema de ação discussões mais profundas, sem prejuízo do entretenimento propriamente dito. É um tipo de obra em camadas. De acordo com sua sensibilidade, o espectador pode se divertir apenas com o básico ou captar os muitos toques subjacentes.
E é grandiosa a crítica que Leone fez ao belicismo, com algumas das seqüências mais comoventes que o cinema já apresentou: o oficial bêbado sem coragem para destruir a ponte, a orquestra do campo de prisioneiros tocando para abafar os ruídos da tortura, o jovem soldado agonizante a quem o Estranho Sem Nome dá seu charuto.
Nos três filmes seguintes ele dissecaria a lenda (vinganças) e a realidade (construção da ferrovia) no Velho Oeste, as verdades e mentiras de uma revolução; e a transição da época glamourosa do aventureirismo para a hegemonia insípida das grandes organizações.
Foi o cineasta que conseguiu ir mais longe na proposta de mesclar entretenimento e reflexão, saindo-se tão bem nas bilheterias quanto em termos de qualidade cinematográfica.
* * *
Keoma foi o canto do cisne do western italiano. E encerrou o ciclo com extrema dignidade. Trata-se daquela única obra-prima que, às vezes, um diretor convencional faz na vida, como que para provar que tinha talento para voos maiores.
O subtexto é riquíssimo:
a briga entre os quatro irmãos remete, evidentemente, a Freud e suas teorias sobre a horda primitiva;
o nascimento da criança num estábulo é um paralelo bíblico, assim como a crucificação do herói;
a presença da velha índia nos momentos culminantes do filme vem da mitologia grega, ela é um tipo de deusa do destino;
o herói errante em busca de um desígnio que justifique sua vida também tem inspiração mitológica;
a peste se constituiu num elemento bíblico e mitológico ao mesmo tempo, além de estabelecer uma ponte com o escritor Albert Camus (A Peste, O Estrangeiro), cujas obras são uma óbvia referência no delineamento do personagem principal;
finalmente, Castellari reverencia seus mitos cinematográficos -- Keoma é filho de Shane, o herói protagonizado por Alan Ladd em Os Brutos Também Amam (29), enquanto a presença de Woody Strode no elenco constitui uma homenagem a John Ford, de quem era um dos atores prediletos.
E não foi só Castellari quem se superou, atingindo uma qualidade de que ninguém o suporia capaz. A dupla de compositores Guido e Maurizio de Angelis fez uma trilha musical extraordinária, capaz de rivalizar com as melhores de Morricone. O contraste do baixo com a soprano chega a nos arrepiar, as letras se casam maravilhosamente com o filme.
Em suma: trata-se de um clássico ainda não reconhecido.
Filmes citados:
Kill Bill: Vol. 1, 2003, e Kill Bill: Vol.2, 2004, d. Quentin Tarantino
Un Dollaro Bucato, 1965, d. Giorgio Ferroni
High Noon, 1952, d. Fred Zinneman
Gunfight at O.K. Corral, 1957, d. John Sturges
The Gunfighter, 1950, d. Henry King
The Bravados, 1958, d. Henry King
The Searchers, 1956, d. John Ford
Gli Ultimi Giorni di Pompei, 1959, creditado, entretanto, a Mario Bonnard
Il Colosso di Rodi, 1961, d. Sergio Leone
Yojimbo, 1961, d. Akira Kurosawa
Per un Pugno di Dollari, 1964
Unforgiven, 1992, d. Clint Eastwood
Giù la Testa, 1971, d. Sergio Leone
El Chuncho, Quién Sabe?, 1967, d. Damiano Damiani
Prega Dio... e scavati la fossa, 1968, d. Edoardo Mulagia
Requiescant, 1967, d. Carlo Lizzani
Vamos a Matar, Compañeros, 1970, d. Sergio Corbucci
La Resa dei Conti, 1966, d. Sergio Sollima
Django, 1966, d. Sergio Corbucci
Faccia a Faccia, 1967, d. Sergio Sollima
Gli Specialisti, 1969, d. Sergio Corbucci
Il Grande Silenzio, 1968, d. Sergio Corbucci
Heaven’s Gate, 1980, d. Michael Cimino
Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966, d. Sergio Leone
C’Era Uma Volta il West, 1968, d. Sergio Leone
Once Upon a Time in América, 1984, d. Sergio Leone
Per Qualche Dollaro in Più, 1965, d. Sergio Leone
Keoma, 1976, d. Enzo G. Castellari
Shane, 1953, d. George Stevens
Muitos dos que hoje se deslumbram com as estilizações de duelos e a extraordinária trilha musical de Kill Bill, ignoram que as primeiras inspiraram-se diretamente nas coreografias dos filmes do diretor Sergio Leone, enquanto várias músicas foram compostas há quatro décadas atrás, por Ennio Morricone, para os bangue-bangues italianos.
É que Quentin Tarantino estava prestando um comovido tributo a esses dois mestres, que devem ter-lhe inspirado sonhos e brincadeiras nos seus tempos de menino.
Nascido em meados da década de 1960, o spaghetti-western lavou a alma de todos nós que gostávamos dos bangue-bangues, mas não da caretice dos estadunidenses.
Teve surpreendente sucesso nas bilheterias: O Dólar Furado, p. ex., chegou a ficar em cartaz por cerca de um ano num cinema de São Paulo. Isto se deveu não só a ter ocupado um espaço vazio, já que os norte-americanos haviam deixado de fazer westerns, como também a haver trazido um novo enfoque e uma nova moldura para o gênero.
Tirando obras de exceção como Matar ou Morrer, Sem Lei e Sem Alma, O Matador, Estigma da Crueldade e Rastros do Ódio, os faroestes made in USA de até então tinham o insuportável defeito de tentarem nos impingir aquela ladainha da luta eterna do Bem contra o Mal -- um tédio!
O mocinho não fumava, não bebia, não praguejava e nem trepava. A mocinha era recatada donzela. O xerife, pachorrento mas digno. Os índios, selvagens bestiais que tinham de ser tirados do caminho para não atrapalharem o progresso. Os mexicanos, beberrões subumanos.
Mesmo no mato, conduzindo boiada, o mocinho tinha a decência de manter-se sempre limpo e escanhoado. Bah!
O western italiano surgiu meio por acaso. A indústria cinematográfica italiana conseguira nos anos anteriores faturar uma boa grana com filmes épicos e mitológicos. Hércules, Maciste, Ursus, Golias, fundação de Roma, guerra de Tróia, etc. O filão, entretanto, estava esgotando-se e a Cinecittà saiu à cata de um novo produto.
Sergio Leone, então com 34 anos, tinha começado a carreira no neo-realismo italiano (como assistente de direção e diretor de segunda unidade), mas não conseguira alçar-se à direção. Era difícil abrir um espaço entre mestres como Vittorio De Sica, Lucchino Visconti, Pier Paolo Pasolini, Federico Fellini, Michelangelo Antonioni, etc.
Então, entre atuar eternamente à sombra dos medalhões do cinema de arte ou mostrar seu trabalho no cinema dito comercial, escolheu a segunda opção. Depois de dirigir os épicos Os Últimos Dias de Pompéia e O Colosso de Rodes, teve a sorte de estar no lugar certo, no momento exato, para dar o pontapé de partida num novo ciclo.
Adaptou para o Oeste a história de Yojimbo, um filme de Akira Kurosawa sobre samurai que açula a discórdia entre dois senhores feudais para prestar-lhes serviço alternadamente, sem que percebam seu jogo duplo. O que Leone fez em Por Um Punhado de Dólares, basicamente, foi mudar a ambientação e colocar um pistoleiro caça-prêmios no lugar do samurai.
O protagonista também teve aí seu grande golpe de sorte. Clint Eastwood não emplacara em Hollywood como mocinho, ficando relegado a papéis secundários em séries de TV e a filminhos classe “B” e “C”.
Leone percebeu nele um bom anti-herói. Compôs seu personagem (o Estranho Sem Nome) com barba rala, chapéu sobre os olhos, charuto na boca, fala arrastada e um poncho. Com isto, acabou alçando-o ao estrelato e fazendo jus à homenagem que depois Eastwood lhe prestaria, ao dedicar-lhe sua obra-prima Os Imperdoáveis.
O que diferenciou o western italiano foi exatamente ter sido feito por cineastas bem diferentes dos tarefeiros hollywoodescos (os ditos artesãos, que se limitavam ao feijão-com-arroz artístico que lhes garantisse o dito cujo gastronômico).
Damiano Damiani, Carlo Lizzani e Sergio Corbucci eram outros talentos com a cabeça feita pelo cinema de arte, assim como o superlativo roteirista Sergio Donatti (aliás, até os grandes diretores Bernardo Bertolucci e Dario Argento chegaram a escrever uma história para western).
Então, não se limitaram a realizar filmes com muita ação e nenhuma vida inteligente; fizeram questão de deixar sua marca, passando mensagens cifradas, dando toques, propondo outra abordagem para o gênero.
Em vez de um palco em que o Bem vence sempre o Mal, o bangue-bangue italiano mostrou o velho Oeste como uma terra de ninguém, primitiva e selvagem, em que todos perseguem seus objetivos como podem.
Evidentemente, há muito mais verossimilhança nesse enfoque do que no norte-americano. O Oeste do século 19 seria algo como o garimpo de Serra Pelada no seu apogeu. Um grotão selvagem onde prevalecia a lei do mais forte.
Em vez do herói, o western italiano consagrou o anti-herói: barbudo, desgrenhado, com roupas sinistras, muitas vezes um caça-prêmios, quase sempre um mau-caráter. No fundo, só se diferenciando dos bandidos por agir sozinho enquanto os outros atuam em bando.
Lembrem-se: era a década de 1960, quando havia um imenso desencanto com a ordem estabelecida. Rebeldes eram tudo que queríamos ver. Não suportávamos mais os heroizinhos c.d.f. de Hollywood, daí termos sido imediatamente cativados pela alternativa européia, os Djangos, Sabatas e Sartanas (os únicos mocinhos nos moldes estadunidenses eram os protagonizados por Giuliano Gemma).
E, enquanto os poderosos viraram vilãos, os índios e os peões mexicanos passaram a ser mostrados como vítimas e heróis. Afinal, vários cineastas italianos tinham inclinações revolucionárias, mas não havia nada revolucionário para destacar nos EUA do século 19.
A solução foi transferir a ação para o efervescente México, como em Quando Explode a Vingança, Gringo, Reze a Deus e Cave Sua Sepultura, Réquiem Para Matar, Companheiros e O Dia da Desforra.
Toques esquerdistas, sim, eles podiam inserir em filmes ambientados nos EUA:
o próprio Django, no qual os vilãos são flagrantemente inspirados na Ku-Klux-Khan;
Quando os Brutos Se Defrontam, reflexão sobre a gênese de líderes oportunistas;
O Especialista, que coloca jovens rebeldes (referência às barricadas francesas de 1968) em ação no Oeste;
O Vingador Silencioso, denunciando o massacre de Johnson Country, quando centenas de imigrantes eslavos foram dizimados pelos barões de gado do Wyoming – o mesmo episódio histórico que seria depois retratado na superprodução O Portal do Paraíso;
e o extraordinário Três Homens em Conflito, com algumas das mais marcantes seqüências antibelicistas do cinema em todos os tempos.
Uma última característica notável foi libertar a trilha musical da tirania do country. Não mais o que realmente existia nos EUA do século retrasado, como violões, violinos, banjos, gaitas e sanfonas, mas também flauta, saxofone, órgão, sintetizadores, castanholas -- tudo que se harmonizasse com o clima daquela seqüência, pouco importando se tais instrumentos eram encontrados ou não no velho Oeste.
Para completar, o uso criativo de sinos, caixas de música, assobios e outros achados. Morricone é, com certeza, o melhor criador de trilhas musicais de todos os tempos.
FILMES INESQUECÍVEIS
Quando Explode a Vingança está entre os melhores filmes do Leone. É, na verdade, o segundo da trilogia era uma vez, que inclui Era Uma Vez No Oeste e Era Uma Vez Na América (26). Deveria ter-se chamado Era Uma Vez A Revolução, mas acabou com um título que em italiano significa "abaixe a cabeça" e, nos EUA, "agache-se, otário!".
Na visão do Leone, os verdadeiros heróis da revolução são os anônimos homens do povo, enquanto os líderes acabam sempre traindo a causa -- seja no México (o médico interpretado por Romolo Valli) ou na Irlanda (o dirigente do IRA que é amigo do John/James Coburn).
Foi feito em 1971, quando os movimentos revolucionários pipocavam na Itália, radicalizando-se progressivamente. Parece expressar o desencanto do Leone com o Partido Comunista Italiano e ser um alerta de que as Brigadas Vermelhas e congêneres teriam destino trágico.
Um lance interessante é mostrar de forma totalmente desumanizada o comandante das forças contra-revolucionárias: ele é visto escovando repulsivamente os dentes, chupando um ovo, olhando pelo binóculo. Leone não lhe concede sequer a dignidade da fala. De sua forma sutil, expressa o desprezo absoluto que tinha pela direita troglodita.
Outra grande sacada do Leone é ressaltar que a História nunca fixa a versão correta dos fatos. A frase que o Irlandês sempre repete, sobre "os grandes e gloriosos heróis da revolução", é um primor de sarcasmo.
* * *
Três Homens em Conflito foi, claramente, o divisor de águas na carreira de Sergio Leone, o momento em que ele mostrou ser muito mais do que um (brilhante) artesão.
Até então, em Por um Punhado de Dólares ele introduzira a figura do anti-herói no centro da trama; a amoralidade básica dos tipos e das situações; a apresentação criativa dos letreiros iniciais, valorizada com vários recursos, inclusive o uso de animação; a nova concepção musical que Morricone trouxe para os westerns; e um dos personagens mais emblemáticos do bangue-bangue à italiana, o pistoleiro oportunista interpretado por Clint Eastwood.
Depois, em Por Uns Dólares a Mais, todas essas características foram desenvolvidas e aprimoradas. É um filme muito melhor do que o anterior, mas, paradoxalmente, não apresentou novidades significativas.
A única que vale a pena citar é a colocação de dois personagens em destaque, em vez de um. A partir daí, os filmes de Leone trariam sempre essa dupla de anti-heróis ocupando o espaço dos antigos mocinhos.
Depois dos personagens interpretados por Clint Eastwood/Lee Van Cleef em Por Uns Dólares a Mais, tivemos Clint Eastwood/Eli Walash (Três Homens em Conflito), Charles Bronson/Jason Robards (Era Uma Vez no Oeste), Rod Steiger/James Coburn (Quando Explode a Vingança) e Robert De Niro/James Woods (Era Uma Vez na América).
Aí, finalmente, estava pronto para seu tour-de-force: Três Homens em Conflito foi a obra em que Leone definiu e afirmou seu estilo, embutindo no cinema de ação discussões mais profundas, sem prejuízo do entretenimento propriamente dito. É um tipo de obra em camadas. De acordo com sua sensibilidade, o espectador pode se divertir apenas com o básico ou captar os muitos toques subjacentes.
E é grandiosa a crítica que Leone fez ao belicismo, com algumas das seqüências mais comoventes que o cinema já apresentou: o oficial bêbado sem coragem para destruir a ponte, a orquestra do campo de prisioneiros tocando para abafar os ruídos da tortura, o jovem soldado agonizante a quem o Estranho Sem Nome dá seu charuto.
Nos três filmes seguintes ele dissecaria a lenda (vinganças) e a realidade (construção da ferrovia) no Velho Oeste, as verdades e mentiras de uma revolução; e a transição da época glamourosa do aventureirismo para a hegemonia insípida das grandes organizações.
Foi o cineasta que conseguiu ir mais longe na proposta de mesclar entretenimento e reflexão, saindo-se tão bem nas bilheterias quanto em termos de qualidade cinematográfica.
* * *
Keoma foi o canto do cisne do western italiano. E encerrou o ciclo com extrema dignidade. Trata-se daquela única obra-prima que, às vezes, um diretor convencional faz na vida, como que para provar que tinha talento para voos maiores.
O subtexto é riquíssimo:
a briga entre os quatro irmãos remete, evidentemente, a Freud e suas teorias sobre a horda primitiva;
o nascimento da criança num estábulo é um paralelo bíblico, assim como a crucificação do herói;
a presença da velha índia nos momentos culminantes do filme vem da mitologia grega, ela é um tipo de deusa do destino;
o herói errante em busca de um desígnio que justifique sua vida também tem inspiração mitológica;
a peste se constituiu num elemento bíblico e mitológico ao mesmo tempo, além de estabelecer uma ponte com o escritor Albert Camus (A Peste, O Estrangeiro), cujas obras são uma óbvia referência no delineamento do personagem principal;
finalmente, Castellari reverencia seus mitos cinematográficos -- Keoma é filho de Shane, o herói protagonizado por Alan Ladd em Os Brutos Também Amam (29), enquanto a presença de Woody Strode no elenco constitui uma homenagem a John Ford, de quem era um dos atores prediletos.
E não foi só Castellari quem se superou, atingindo uma qualidade de que ninguém o suporia capaz. A dupla de compositores Guido e Maurizio de Angelis fez uma trilha musical extraordinária, capaz de rivalizar com as melhores de Morricone. O contraste do baixo com a soprano chega a nos arrepiar, as letras se casam maravilhosamente com o filme.
Em suma: trata-se de um clássico ainda não reconhecido.
Filmes citados:
Kill Bill: Vol. 1, 2003, e Kill Bill: Vol.2, 2004, d. Quentin Tarantino
Un Dollaro Bucato, 1965, d. Giorgio Ferroni
High Noon, 1952, d. Fred Zinneman
Gunfight at O.K. Corral, 1957, d. John Sturges
The Gunfighter, 1950, d. Henry King
The Bravados, 1958, d. Henry King
The Searchers, 1956, d. John Ford
Gli Ultimi Giorni di Pompei, 1959, creditado, entretanto, a Mario Bonnard
Il Colosso di Rodi, 1961, d. Sergio Leone
Yojimbo, 1961, d. Akira Kurosawa
Per un Pugno di Dollari, 1964
Unforgiven, 1992, d. Clint Eastwood
Giù la Testa, 1971, d. Sergio Leone
El Chuncho, Quién Sabe?, 1967, d. Damiano Damiani
Prega Dio... e scavati la fossa, 1968, d. Edoardo Mulagia
Requiescant, 1967, d. Carlo Lizzani
Vamos a Matar, Compañeros, 1970, d. Sergio Corbucci
La Resa dei Conti, 1966, d. Sergio Sollima
Django, 1966, d. Sergio Corbucci
Faccia a Faccia, 1967, d. Sergio Sollima
Gli Specialisti, 1969, d. Sergio Corbucci
Il Grande Silenzio, 1968, d. Sergio Corbucci
Heaven’s Gate, 1980, d. Michael Cimino
Il Buono, Il Brutto, Il Cattivo, 1966, d. Sergio Leone
C’Era Uma Volta il West, 1968, d. Sergio Leone
Once Upon a Time in América, 1984, d. Sergio Leone
Per Qualche Dollaro in Più, 1965, d. Sergio Leone
Keoma, 1976, d. Enzo G. Castellari
Shane, 1953, d. George Stevens
"Deu" no Náufrago da Utopia...
O capitalismo e sua indústria cultural nos condenam a viver num inferno pamonha, dizia Paulo Francis. Além de todas as injustiças e mezelas capitalistas, temos de suportar a desinformação programada, que passa como um rolo compressor sobre o espírito crítico.
Vide o Caso Battisti, em que os dois lados têm lá sua racionália e, no plano dos argumentos, OS DEFENSORES DO REFÚGIO HUMANITÁRIO CONSEGUEM, NO MÍNIMO, EQUILIBRAR A DISPUTA, SE É QUE NÃO A GANHAM.
No entanto, no plano da exposição das argumentações nos veículos da indústria cultural, a desigualdade tem sido tamanha, os humanistas dispõem de espaços tão ínfimos, que a demonização de Battisti levada a cabo pelos reacionários vingou, pelo menos em relação à parcela da opinião pública sem grande interesse no assunto.
O cidadão comum acaba vendo mesmo Battisti como responsável por quatro assassinatos, como a imprensa burguesa martela dia e noite, omitindo até que a Justiça italiana voltou atrás de uma dessas falsas acusações feitas pelo delator premiado Mutti, depois que se revelou fisicamente impossível ele haver apertado o gatilho em dois episódios ocorridos no mesmo dia em cidades muito distantes entre si.
O açodamento com que o Estado italiano acusou Battisti, para depois remendar canhestramente o erro atribuindo-lhe autoria intelectual do segundo crime, já diz tudo sobre o caráter farsesco desses julgamentos, que a grande imprensa brasileira esconde sob o tapete.
Ou seja, quem se informa superficialmente, tende a acreditar na história oficial, por mais furadas que sejam suas versões (e a tentativa de fazer-nos crer que o macartismo italiano da década de 1980 fosse uma democracia plena tem tantos furos quanto uma peneira).
Mas o meu tema de hoje é outra distorção do inferno pamonha, a supervalorização de acontecimentos ínfimos do cotidiano, mantendo grande parte da opinião pública mesmerizada pelas novelas baratas da vida real.
Factóides e mais factóides dominam as discussões, graças ao empenho da indústria cultural em desviar a atenção dos cidadãos daquilo que realmente importa -- como, neste momento, as consequências terríveis que se abatem sobre o homem comum em razão da delinquência intrínseca do capitalismo.
O que havia de tão transcedental numas excomunhões de chanchada, se ninguém mais leva excomunhão a sério? Em que isso iria realmente afetar a vida dos injustamente excomungados? Por que tal tempestade em copo d'água, quando há tantos assuntos sérios requerendo (e não obtendo) nossa atenção?
Conclusão da opereta: o Vaticano impugnou o procedimento de um arcebispo que ainda não saiu das trevas medievais, tudo não passando de uma comédia de erros.
Assim, o presidente da o presidente da Academia Pontifícia para a Vida, monsenhor Rino Fisichella, afirma que os médicos responsáveis pelo aborto na menina de 9 anos, grávida de gêmeos após ter sido estuprada pelo padrasto, não mereciam a excomunhão.
"São outros que merecem a excomunhão e nosso perdão, não os que lhe permitiram viver e a ajudarão a recuperar a esperança e a confiança, apesar da presença do mal e da maldade de muitos", escreveu Fisichella, um dos mais próximos colaboradores do papa Bento 16 e maior autoridade do Vaticano em bioética.
Quem errou foi mesmo o arcebispo José Cardoso sobrinho, diz o homem do Vaticano:
-- O caso ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife se apressou em declarar a excomunhão para os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, infelizmente, teria passado despercebida se não fosse pelo alvoroço e pelas reações provocadas pelo gesto do bispo. Era mais urgente salvaguardar a vida inocente e trazê-la para um nível de humanidade, coisa em que nós, homens de igreja, devemos ser mestres. Assim não foi, e infelizmente a credibilidade de nosso ensinamento está em risco, pois parece insensível e sem misericórdia.
A palavra serena da Santa Sé põe fim a um factóide. Mas, logo haverá outro, outro e mais outro, desviando a atenção da coletividade daquilo que realmente rege sua vida e seu destino.
Vide o Caso Battisti, em que os dois lados têm lá sua racionália e, no plano dos argumentos, OS DEFENSORES DO REFÚGIO HUMANITÁRIO CONSEGUEM, NO MÍNIMO, EQUILIBRAR A DISPUTA, SE É QUE NÃO A GANHAM.
No entanto, no plano da exposição das argumentações nos veículos da indústria cultural, a desigualdade tem sido tamanha, os humanistas dispõem de espaços tão ínfimos, que a demonização de Battisti levada a cabo pelos reacionários vingou, pelo menos em relação à parcela da opinião pública sem grande interesse no assunto.
O cidadão comum acaba vendo mesmo Battisti como responsável por quatro assassinatos, como a imprensa burguesa martela dia e noite, omitindo até que a Justiça italiana voltou atrás de uma dessas falsas acusações feitas pelo delator premiado Mutti, depois que se revelou fisicamente impossível ele haver apertado o gatilho em dois episódios ocorridos no mesmo dia em cidades muito distantes entre si.
O açodamento com que o Estado italiano acusou Battisti, para depois remendar canhestramente o erro atribuindo-lhe autoria intelectual do segundo crime, já diz tudo sobre o caráter farsesco desses julgamentos, que a grande imprensa brasileira esconde sob o tapete.
Ou seja, quem se informa superficialmente, tende a acreditar na história oficial, por mais furadas que sejam suas versões (e a tentativa de fazer-nos crer que o macartismo italiano da década de 1980 fosse uma democracia plena tem tantos furos quanto uma peneira).
Mas o meu tema de hoje é outra distorção do inferno pamonha, a supervalorização de acontecimentos ínfimos do cotidiano, mantendo grande parte da opinião pública mesmerizada pelas novelas baratas da vida real.
Factóides e mais factóides dominam as discussões, graças ao empenho da indústria cultural em desviar a atenção dos cidadãos daquilo que realmente importa -- como, neste momento, as consequências terríveis que se abatem sobre o homem comum em razão da delinquência intrínseca do capitalismo.
O que havia de tão transcedental numas excomunhões de chanchada, se ninguém mais leva excomunhão a sério? Em que isso iria realmente afetar a vida dos injustamente excomungados? Por que tal tempestade em copo d'água, quando há tantos assuntos sérios requerendo (e não obtendo) nossa atenção?
Conclusão da opereta: o Vaticano impugnou o procedimento de um arcebispo que ainda não saiu das trevas medievais, tudo não passando de uma comédia de erros.
Assim, o presidente da o presidente da Academia Pontifícia para a Vida, monsenhor Rino Fisichella, afirma que os médicos responsáveis pelo aborto na menina de 9 anos, grávida de gêmeos após ter sido estuprada pelo padrasto, não mereciam a excomunhão.
"São outros que merecem a excomunhão e nosso perdão, não os que lhe permitiram viver e a ajudarão a recuperar a esperança e a confiança, apesar da presença do mal e da maldade de muitos", escreveu Fisichella, um dos mais próximos colaboradores do papa Bento 16 e maior autoridade do Vaticano em bioética.
Quem errou foi mesmo o arcebispo José Cardoso sobrinho, diz o homem do Vaticano:
-- O caso ganhou as páginas dos jornais somente porque o arcebispo de Olinda e Recife se apressou em declarar a excomunhão para os médicos que a ajudaram a interromper a gravidez. Uma história de violência que, infelizmente, teria passado despercebida se não fosse pelo alvoroço e pelas reações provocadas pelo gesto do bispo. Era mais urgente salvaguardar a vida inocente e trazê-la para um nível de humanidade, coisa em que nós, homens de igreja, devemos ser mestres. Assim não foi, e infelizmente a credibilidade de nosso ensinamento está em risco, pois parece insensível e sem misericórdia.
A palavra serena da Santa Sé põe fim a um factóide. Mas, logo haverá outro, outro e mais outro, desviando a atenção da coletividade daquilo que realmente rege sua vida e seu destino.
Até o grande Irmão do Norte...
Lula e Obama, a medonha face do socialismo lá e aqui
Conforme já adianta por este sítio em 10 de novembro de 2008 e em 25 de novembro de 2008, o movimento comunista internacional conseguiu implantar um peão seu na maior e melhor Pátria do mundo. Com isso, a queda de braço entre o mundo livre e as trevas dos satânicos marxistas começa infelizmente a pender para esses últimos. Mas, a batalha está só começando, os homens de bem de todo o mundo têm ainda muitas cartas para jogarem e virar este jogo maldito contra o socialismo de Lula, Obama e Chavez.
Por mais que Obama e seu grupo tentem disfarçar, é público e notório que ele é um marxista histórico e foi membro de um grupo de estudantes marxistas de Chicago, que tinha o diabólico costume de ler as ensandecidas escrituras vermelhas de Karl Marx e nela basearem suas porcas análises econômicas. Por isso mesmo, ele foi fortemente apoiado pelo DSA - Democratic Socialists of America -, para os representarem na Assembléia de Illinois.
Ao enganar a nação americana, Obama agora se cala em relação ao seu plano de estatizar o sistema bancário e as indústrias de seu país, tirando-as das mãos dos grandes capitalistas e passando-as para o controles do proletariado, enquanto os cidadãos assistem bestializados todo esse atroz movimento, ficando claro para os bons observadores que são estes movimentos passos em direção ao socialismo.
Nesse sentido, não nos causa surpresa sua reunião de mais de duas horas com comunista apedeuta auriverde, pois fazem parte das hostes do mesmo senhor, e daqui para frente coordenarão suas ações visando sepultar o capitalismo e a liberdade para todo o sempre, em qualquer lugar do planeta, para desgosto dos homens bons, que estão cada vez mais desamparados.
publicado em: Professor Hariovaldo Almeida Prado
Conforme já adianta por este sítio em 10 de novembro de 2008 e em 25 de novembro de 2008, o movimento comunista internacional conseguiu implantar um peão seu na maior e melhor Pátria do mundo. Com isso, a queda de braço entre o mundo livre e as trevas dos satânicos marxistas começa infelizmente a pender para esses últimos. Mas, a batalha está só começando, os homens de bem de todo o mundo têm ainda muitas cartas para jogarem e virar este jogo maldito contra o socialismo de Lula, Obama e Chavez.
Por mais que Obama e seu grupo tentem disfarçar, é público e notório que ele é um marxista histórico e foi membro de um grupo de estudantes marxistas de Chicago, que tinha o diabólico costume de ler as ensandecidas escrituras vermelhas de Karl Marx e nela basearem suas porcas análises econômicas. Por isso mesmo, ele foi fortemente apoiado pelo DSA - Democratic Socialists of America -, para os representarem na Assembléia de Illinois.
Ao enganar a nação americana, Obama agora se cala em relação ao seu plano de estatizar o sistema bancário e as indústrias de seu país, tirando-as das mãos dos grandes capitalistas e passando-as para o controles do proletariado, enquanto os cidadãos assistem bestializados todo esse atroz movimento, ficando claro para os bons observadores que são estes movimentos passos em direção ao socialismo.
Nesse sentido, não nos causa surpresa sua reunião de mais de duas horas com comunista apedeuta auriverde, pois fazem parte das hostes do mesmo senhor, e daqui para frente coordenarão suas ações visando sepultar o capitalismo e a liberdade para todo o sempre, em qualquer lugar do planeta, para desgosto dos homens bons, que estão cada vez mais desamparados.
publicado em: Professor Hariovaldo Almeida Prado
sexta-feira, 13 de março de 2009
Para ver o Brasil...
DOCUMENTÁRIOS
1.100 ANOS DE REPÚBLICA – de Editora Nova Cultural
2.ABC DA GREVE – de Leon Hirszman
3.ALELUIA GRETCHEN E RÁDIO AURIVERDE – de Sylvio Back
4.ANJOS DO SOL – de Rudi Lagemann
5.AUDIÊNCIA PÚBLICA: Tijuco Alto
6.BOTINADA – A ORIGEM DO PUNK NO BRASIL – de Gastão Moreira
7.CAMINHADA CONTRA A BARRAGEM: TIJUCO ALTO
8.CARNE É FRACA, A
9.DA TERRA AO SONHO DE ROSE - DVD Duplo – de Tetê Moraes
10.DOCUMENTÁRIOS INDIGENAS
11.ENTREATOS – de João Moreira Salles
12.ENTRE MUROS E FAVELAS
13.ERNESTO VARELA - O REPÓRTER – de Marcelo Tas e Fernando Meirelles
14.ESPETÁCULO DEMOCRÁTICO, O – de Guilherme César
15.ESTAMIRA – de Marcos Prado
16.FAZEDOR DE MONTANHAS – de Juan Figueroa
17.GUERRA DOS BOTÕES
18.GUERRA DOS PELADOS E A GUERRA DO BRASIL, A – de Sylvio Back
19.IGREJA DOS OPRIMIDOS, A – de Jorge Bodansky e Helena Salem
20.IRACEMA – UMA TRANSA AMAZÔNICA – de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
21.JANELA DA ALMA – de João Jardim e Walter Carvalho
22.LÍNGUA: VIDAS EM PORTUGUÊS – de Victor Lopes
23.MASSACRE DE ALTO ALEGRE, O – de Murilo Santos
24.MENINAS – de Sandra Werneck
25.MOTOBOYS - VIDA LOCA – de Caito Ortiz
26.MST – O Movimento Sem Terra e a Maior Marcha do Brasil
27.MUDA BRASIL – de Oswaldo Caldeira
28.MULHERES DO BRASIL – de Malu De Martino
29.NEGRO NO PARÁ, O
30.O VALE PEDE LICENÇA
31.POETA DE SETE FACES
32.POVO BRASILEIRO, O – DVD Duplo
33.PRETO CONTRA BRANCO
34.PRO DIA NASCER FELIZ
35.QUILOMBOS MARANHENSES: CULTURA E POLÍTICA – de Cláudio Farias
36.RAÍZES DO BRASIL – DVD Duplo – de Nelson Pereira dos Santos
37.REPÚBLICA GUARANI
38.SAMBA HOP SP
39.TERRA DE ÍNDIOS
40.TIMOR LESTE – de Lucélia Santos, Pedro Neschling
41.ULTIMO DIA DE LAMPIÃO, O
42.VIOLÊNCIA S.A.
43.VISTA MINHA PELE
44.VOCAÇÃO DO PODER – de Eduardo Escorel e José Joffily
45.YNDIO DO BRASIL E CRUZ E SOUZA – O poeta do desterro
46.VIDAS: LINGUAS EM PORTUGUÊS
1.100 ANOS DE REPÚBLICA – de Editora Nova Cultural
2.ABC DA GREVE – de Leon Hirszman
3.ALELUIA GRETCHEN E RÁDIO AURIVERDE – de Sylvio Back
4.ANJOS DO SOL – de Rudi Lagemann
5.AUDIÊNCIA PÚBLICA: Tijuco Alto
6.BOTINADA – A ORIGEM DO PUNK NO BRASIL – de Gastão Moreira
7.CAMINHADA CONTRA A BARRAGEM: TIJUCO ALTO
8.CARNE É FRACA, A
9.DA TERRA AO SONHO DE ROSE - DVD Duplo – de Tetê Moraes
10.DOCUMENTÁRIOS INDIGENAS
11.ENTREATOS – de João Moreira Salles
12.ENTRE MUROS E FAVELAS
13.ERNESTO VARELA - O REPÓRTER – de Marcelo Tas e Fernando Meirelles
14.ESPETÁCULO DEMOCRÁTICO, O – de Guilherme César
15.ESTAMIRA – de Marcos Prado
16.FAZEDOR DE MONTANHAS – de Juan Figueroa
17.GUERRA DOS BOTÕES
18.GUERRA DOS PELADOS E A GUERRA DO BRASIL, A – de Sylvio Back
19.IGREJA DOS OPRIMIDOS, A – de Jorge Bodansky e Helena Salem
20.IRACEMA – UMA TRANSA AMAZÔNICA – de Jorge Bodanzky e Orlando Senna
21.JANELA DA ALMA – de João Jardim e Walter Carvalho
22.LÍNGUA: VIDAS EM PORTUGUÊS – de Victor Lopes
23.MASSACRE DE ALTO ALEGRE, O – de Murilo Santos
24.MENINAS – de Sandra Werneck
25.MOTOBOYS - VIDA LOCA – de Caito Ortiz
26.MST – O Movimento Sem Terra e a Maior Marcha do Brasil
27.MUDA BRASIL – de Oswaldo Caldeira
28.MULHERES DO BRASIL – de Malu De Martino
29.NEGRO NO PARÁ, O
30.O VALE PEDE LICENÇA
31.POETA DE SETE FACES
32.POVO BRASILEIRO, O – DVD Duplo
33.PRETO CONTRA BRANCO
34.PRO DIA NASCER FELIZ
35.QUILOMBOS MARANHENSES: CULTURA E POLÍTICA – de Cláudio Farias
36.RAÍZES DO BRASIL – DVD Duplo – de Nelson Pereira dos Santos
37.REPÚBLICA GUARANI
38.SAMBA HOP SP
39.TERRA DE ÍNDIOS
40.TIMOR LESTE – de Lucélia Santos, Pedro Neschling
41.ULTIMO DIA DE LAMPIÃO, O
42.VIOLÊNCIA S.A.
43.VISTA MINHA PELE
44.VOCAÇÃO DO PODER – de Eduardo Escorel e José Joffily
45.YNDIO DO BRASIL E CRUZ E SOUZA – O poeta do desterro
46.VIDAS: LINGUAS EM PORTUGUÊS
II Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande
O Projeto Cenas de Cinema-Comunidade Ilha Grande, mais uma vez, aporta na Vila do Abraão com objetivo de levar à população local e visitante o cinema como instrumento da poesia e como linguagem expressiva da vida na Ilha.
Dado o sucesso da I Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande, no ano de 2008, a professora e coordenadora do projeto Laís Veloso, decidiu organizar a II Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande, neste ano de 2009. O propósito do projeto é manter a mesma linha de pensamento e metodologia, porém com temas e atividades novas e algumas surpresas.
O evento, de caráter público e gratuito, acontecerá no dia 23 de maio de 19:00 às 22:00 horas, no Casarão do PEIG/INEA, situado na Vila do Abraão/IG, quando será exibido imagens sob a forma de curtas, clipes e exposição fotográfica, que mostrará histórias sobre os caiçaras, o modo de vida, as condições de existência do lugar, a cultura e o poder local, de forma apaixonada, amorosa, lúdica, telúrica. Basta que se deixe falar os protagonistas e participantes dessas histórias, com suas diferentes e inusitadas narrativas sobre suas práticas de vida.
"Vamos fazer ecoar muitas vozes, num amplo cerzimento de idéias sobre a natureza, os dilemas oriundos da questão ambiental e de seus rebatimentos na vida cotidiana dos que amam, cuidam e vivem na ilha.
Fruto do trabalho coletivo de uma multiplicidade de pessoas, com seus produtos acústicos, linguísticos, metafóricos e poéticos, nosso objetivo é o de estimular o compartilhamento de experiências e de encontros interculturais, dando visibilidade e voz aos atores sociais - os locais que habitam a ilha, em sua força de expressão pública e social, através da linguagem fílmica.
Participe! Inscreva seu filme ou clipe fotográfico até o dia 10 de abril de 2009.
Contatos: lais_veloso@yahoo.com.br
Vale lembrar o contexto sócio-histórico dessas descrições linguageiras, que são apenas o ponto de vista de seus narradores e não a única “verdade”, a versão “correta” sobre a realidade da ilha. Nessas narrativas plurais, alteritárias e contraditórias exaltam-se à beleza da paisagem local e os muitos caminhos dessa vasta ilha. Revelam-se sua face desigual, desassossegos, reentrâncias, ondas malfazejas, e igualmente, a beleza verde esmeralda de sua “maré macia”, o oceano abundante, a sua mata prenhe de vitalidade e encantamento e a hospitalidade generosa de seu povo, que através do desejo e da vontade coletiva, materializam em pequenos gestos cotidianos, ações transformadoras do mundo".
”Assim, para que saibamos o que é um sujeito ou o que somos nós, é preciso recorrer ao tesouro dos significantes, metáforas ou significados comuns à comunidade de falantes à qual pertencemos”. (Jurandir Freire Costa)
E para que os sujeitos da comunidade de falantes da Ilha Grande, possam livremente expressar a poeticidade contida nas “humanidades”, com toda a sua força iluminante, será exibido um conjunto de imagens sobre as Formas de Vida na Ilha: Natureza e Questão Ambiental, Cotidiano, Cultura e Práticas Sociais.
Para este Evento foram selecionados os seguintes assuntos a serem desenvolvidos a partir da exibição de filmes e Clipes Fotográficos: Cultura Caiçara, Trilhas e Caminhos da ilha, Vida Marinha e Questão Ambiental, Cultura Surf e Direito de Cidadania, as transformações oriundas do Ecoturismo e Olhares sobre a ilha.
Em conjunto com a exposição de imagens, haverá a composição de uma ampla e democrática Roda de Conversas garantindo o diálogo entre o público e os convidados do debate, dentre eles: ambientalistas, antropólogos, assistentes sociais, biólogos, bibliotecários, cineastas, engenheiros florestais, filósofos, fotógrafos, geógrafos, guias ecológicos, moradores locais, professores/ pesquisadores, representantes institucionais e oceanógrafos.
Ao final, haverá uma espécie de “Júri Popular”, uma consulta coletiva ao público presente, para que expresse, através do voto, o Curta-metragem e o Clipe de sua preferência. Em seguida, haverá uma solenidade “simbólica” de premiação dos dois trabalhos mais votados, isto porque não haverá propriamente, um prêmio e sim um reconhecimento público do “mérito” dessas obras.
A II Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande é organizada pelo Projeto Cenas de Cinema-Comunidade Ilha Grande, sob a Coordenação Geral da Professora Laís Helena Veloso e faz parte das ações extensionistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). O projeto conta também com o apoio da Sub-Reitoria de Extensão/Depext, CEADS, PEIG, O Eco, Ecocine, Codig, IlhaGrande.Org, da Pró-Reitoria de Extensão e da Escola de Serviço Social/Uff, Associação Curupira, Escola de Serviço Social e Associação dos Meios de Hospedagem/IG.
Dado o sucesso da I Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande, no ano de 2008, a professora e coordenadora do projeto Laís Veloso, decidiu organizar a II Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande, neste ano de 2009. O propósito do projeto é manter a mesma linha de pensamento e metodologia, porém com temas e atividades novas e algumas surpresas.
O evento, de caráter público e gratuito, acontecerá no dia 23 de maio de 19:00 às 22:00 horas, no Casarão do PEIG/INEA, situado na Vila do Abraão/IG, quando será exibido imagens sob a forma de curtas, clipes e exposição fotográfica, que mostrará histórias sobre os caiçaras, o modo de vida, as condições de existência do lugar, a cultura e o poder local, de forma apaixonada, amorosa, lúdica, telúrica. Basta que se deixe falar os protagonistas e participantes dessas histórias, com suas diferentes e inusitadas narrativas sobre suas práticas de vida.
"Vamos fazer ecoar muitas vozes, num amplo cerzimento de idéias sobre a natureza, os dilemas oriundos da questão ambiental e de seus rebatimentos na vida cotidiana dos que amam, cuidam e vivem na ilha.
Fruto do trabalho coletivo de uma multiplicidade de pessoas, com seus produtos acústicos, linguísticos, metafóricos e poéticos, nosso objetivo é o de estimular o compartilhamento de experiências e de encontros interculturais, dando visibilidade e voz aos atores sociais - os locais que habitam a ilha, em sua força de expressão pública e social, através da linguagem fílmica.
Participe! Inscreva seu filme ou clipe fotográfico até o dia 10 de abril de 2009.
Contatos: lais_veloso@yahoo.com.br
Vale lembrar o contexto sócio-histórico dessas descrições linguageiras, que são apenas o ponto de vista de seus narradores e não a única “verdade”, a versão “correta” sobre a realidade da ilha. Nessas narrativas plurais, alteritárias e contraditórias exaltam-se à beleza da paisagem local e os muitos caminhos dessa vasta ilha. Revelam-se sua face desigual, desassossegos, reentrâncias, ondas malfazejas, e igualmente, a beleza verde esmeralda de sua “maré macia”, o oceano abundante, a sua mata prenhe de vitalidade e encantamento e a hospitalidade generosa de seu povo, que através do desejo e da vontade coletiva, materializam em pequenos gestos cotidianos, ações transformadoras do mundo".
”Assim, para que saibamos o que é um sujeito ou o que somos nós, é preciso recorrer ao tesouro dos significantes, metáforas ou significados comuns à comunidade de falantes à qual pertencemos”. (Jurandir Freire Costa)
E para que os sujeitos da comunidade de falantes da Ilha Grande, possam livremente expressar a poeticidade contida nas “humanidades”, com toda a sua força iluminante, será exibido um conjunto de imagens sobre as Formas de Vida na Ilha: Natureza e Questão Ambiental, Cotidiano, Cultura e Práticas Sociais.
Para este Evento foram selecionados os seguintes assuntos a serem desenvolvidos a partir da exibição de filmes e Clipes Fotográficos: Cultura Caiçara, Trilhas e Caminhos da ilha, Vida Marinha e Questão Ambiental, Cultura Surf e Direito de Cidadania, as transformações oriundas do Ecoturismo e Olhares sobre a ilha.
Em conjunto com a exposição de imagens, haverá a composição de uma ampla e democrática Roda de Conversas garantindo o diálogo entre o público e os convidados do debate, dentre eles: ambientalistas, antropólogos, assistentes sociais, biólogos, bibliotecários, cineastas, engenheiros florestais, filósofos, fotógrafos, geógrafos, guias ecológicos, moradores locais, professores/ pesquisadores, representantes institucionais e oceanógrafos.
Ao final, haverá uma espécie de “Júri Popular”, uma consulta coletiva ao público presente, para que expresse, através do voto, o Curta-metragem e o Clipe de sua preferência. Em seguida, haverá uma solenidade “simbólica” de premiação dos dois trabalhos mais votados, isto porque não haverá propriamente, um prêmio e sim um reconhecimento público do “mérito” dessas obras.
A II Mostra de Cinema Etnográfico e Ambiental da Ilha Grande é organizada pelo Projeto Cenas de Cinema-Comunidade Ilha Grande, sob a Coordenação Geral da Professora Laís Helena Veloso e faz parte das ações extensionistas da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ) e da Universidade Federal Fluminense (UFF). O projeto conta também com o apoio da Sub-Reitoria de Extensão/Depext, CEADS, PEIG, O Eco, Ecocine, Codig, IlhaGrande.Org, da Pró-Reitoria de Extensão e da Escola de Serviço Social/Uff, Associação Curupira, Escola de Serviço Social e Associação dos Meios de Hospedagem/IG.
Viva o discurso de 13 de março de 1964
Há 45 anos atrás o então presidente da República João Goulart pronunciou aquele que se tornaria o discurso mais polêmico de sua carreira política.
João Goulart, na ocasião, acirrou os ânimos ao se posicionar a favor das chamadas reformas de base, as quais incluiriam, além da reforma agráfia, a regulamentação de remessas de lucros ao exterior.
Isto já bastou para setores ultraconservadores e/ou oportunistas de plantão deflagacem um golpe de Estado instaurando uma ditadura imoral e assassina por cerca de 21 anos.
Hoje, suas viuvas choram os tempos passados, quando, segundo elas, nós vivíamos na tranquilidade da "ditabranda"...
Ainda bem que algumas reparações pipocam daqui e dali, como a anistia tardia dada a João Goulart recentemente, indenizando sua esposa ainda viva. Indenizações não apagam os males que o regime de 64 causou às pessoas perseguidas por ele, mas pelo menos em termos da abstração da lei a justiça foi feita para desespero das viúvas da "ditabranda".
João Goulart, na ocasião, acirrou os ânimos ao se posicionar a favor das chamadas reformas de base, as quais incluiriam, além da reforma agráfia, a regulamentação de remessas de lucros ao exterior.
Isto já bastou para setores ultraconservadores e/ou oportunistas de plantão deflagacem um golpe de Estado instaurando uma ditadura imoral e assassina por cerca de 21 anos.
Hoje, suas viuvas choram os tempos passados, quando, segundo elas, nós vivíamos na tranquilidade da "ditabranda"...
Ainda bem que algumas reparações pipocam daqui e dali, como a anistia tardia dada a João Goulart recentemente, indenizando sua esposa ainda viva. Indenizações não apagam os males que o regime de 64 causou às pessoas perseguidas por ele, mas pelo menos em termos da abstração da lei a justiça foi feita para desespero das viúvas da "ditabranda".
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quinta-feira, 12 de março de 2009
"Deu" no 'Língua de Trapo'
TUCANOS INCOMPETENTES QUEREM DAR PITACO
O que esses tucanos pensam quem são, hein? Esses corruptos e incompetentes quebraram o Brasil, agora querem dar conselho a quem vem administrando a marolinha com ousadia e competência. Esses safados querem ajudar o Brasil como fizeram com a ADIN ajuizada no STF para barrar o Fundo Soberano. Se Lula aceitar o conselho desta gang que dilapidou o Brasil, estamos ferrados, fudidos. Tucaninhos agourentos façam o seguinte: criem um gabinete de crise no Rio Grande do Sul, um estado tomado pela corrupção.Vão lá, deem um conselho para Yeda Cruzes.
O que esses tucanos pensam quem são, hein? Esses corruptos e incompetentes quebraram o Brasil, agora querem dar conselho a quem vem administrando a marolinha com ousadia e competência. Esses safados querem ajudar o Brasil como fizeram com a ADIN ajuizada no STF para barrar o Fundo Soberano. Se Lula aceitar o conselho desta gang que dilapidou o Brasil, estamos ferrados, fudidos. Tucaninhos agourentos façam o seguinte: criem um gabinete de crise no Rio Grande do Sul, um estado tomado pela corrupção.Vão lá, deem um conselho para Yeda Cruzes.
ALGUMA COISA ESTÁ FORA DA ORDEM?
Os recentes acontecimentos na Alemanha e EUA envolvendo matança em série sem motivo aparente seguida pelo suicídio do assassino nos mostram como a nossa sociedade está caminhando para a infelicidade coletiva. A competição desenfreada, as cobranças sociais, as discriminações e ódio às alteridades estão construindo indivíduos sem possibilidade de diálogos e extremamente desajustados com o ambiente social em seu entorno.
É assim que caminharemos para o futuro? Formando indivíduos frustrados por não se enquadrarem nos padrões impostos pela ordem mundial? Uma ordem que menospreza aqueles que não encontram seu lugar na padronização vigente.
Enquanto isso, a indústria armamentista, os psicanalistas de plantão, as agências de notícias, os sedentos de notícias sensacionalistas e os especialistas e palpiteiros de todas as espécies faturam com mais estas tragédias.
Não, não está nada fora da ordem mundial!
É assim que caminharemos para o futuro? Formando indivíduos frustrados por não se enquadrarem nos padrões impostos pela ordem mundial? Uma ordem que menospreza aqueles que não encontram seu lugar na padronização vigente.
Enquanto isso, a indústria armamentista, os psicanalistas de plantão, as agências de notícias, os sedentos de notícias sensacionalistas e os especialistas e palpiteiros de todas as espécies faturam com mais estas tragédias.
Não, não está nada fora da ordem mundial!
ALGUMA COISA ESTÁ FORA DA NOVA ORDEM MUNDIAL!
ALGUMA COISA ESTÁ FORA DA NOVA ORDEM MUNDIAL!
Ultimamente as enxurradas de acidentes econômicos estão invadindo nossos noticiários escritos, falados, virtuais e televisivos em tons tão alarmantes e cores tão sombrias feitas sistematicamente em chamadas diárias parecem prenunciar um terrível desastre iminente no capitalismo mundial. No entanto, talvez estes "incidentes de percurso" do capitalismo mundial possam servir para ajuda a indicar caminhos alternativos a serem trilhados por novos agentes em substituição aos velhos lobos da economia tradicional.
As velhas práticas econômicas das velhas economias agonizam, mas não querem entregar os pontos tão facilmente. Corporações poderosíssimas estão juntando-se umas com as outras na tentativa de superação de crises provocadas por elas mesmas.
Enquanto isso, a economia dos países que sempre foram relegados à periferia, parece ainda ter fôlego e possibilidade de superação dessas mesmas dificuldades e dicotomias que afligem o capitalismo dos países avançados.
Talvez um dos fatores da pujança de países latino-americanos seja a decisão tomada por governos progressistas em voltar-se para melhorias sociais e investimento em programas de assistência social e erradicação da miséria. A partir deste implemento, assistimos a ascensão de camadas sociais que nunca tiveram acesso a inúmeros tipos de produtos e as mais variadas ofertas de serviços.
Estas novas camadas têm como característica um padrão de consumo que, passado a euforia dos primeiros tempos, baseia-se em investimentos em bem- estar familiar e conforto técnico porem com um padrão de consumo diferente das classes tradicionais - menos voltada à opulência e à ostentação e mais direcionada ao consumo consciente e voltado a atender a necessidades mais elementares. Mesmo assim as classes C, D e até E, têm conseguido acesso a certos produtos e serviços para os quais sequer sonhavam a vinte ou trinta anos atrás.
No entanto, apesar das melhorias que tal estado de coisas poderia acarretar a todas as classes sociais de modo geral com a diminuição de pressões sociais de todos os tipos, não parece que as classes A e B estejam apreciando com muito entusiasmo essa ascensão social dos mais pobres. Atitudes, veladas ou abertas, demonstram certo mau humor e atitudes rancorosas localizados aqui e acolá no centro da elite pensante, atuante e influente. É fragrante a má vontade em aceitar políticos como Chaves e Lula que destoam das classes privilegiadas que sempre estiveram no centro do poder, principalmente as mais tradicionais e reacionárias.
Desse modo as conseqüências imediatas das políticas econômicas das novas lideranças dos países chamados emergente, quais sejam: melhoria econômica direcionada a setores específicos da pirâmide social proporcionando aos elementos destes setores, acesso a produtos e serviços dos quais desconheciam, parecem incomodar certos setores da intelligentsia. Comentários expressos em diversos círculos, às vezes conscientes e velados, escondendo interesses e ideologias, às vezes desinteressados e eloqüentes ditos de modo explícito, parecem contestar as formas culturais e filosóficas da nova classe ascendente.
A introdução de novos elementos que sempre estiveram à margem do jogo econômico e político - como mestiços, operários, mulheres, gays etc- e a execução de programas visando o melhoramento das infra-estruturas sociais e, como na Bolívia, na Venezuela e em outros países, enfatizando a nacionalização dos setores ligados a exploração das reservas naturais dos respectivos países – sobretudo na área do petróleo - tem despertado a ira de setores e interesses a muito estabelecidos, já que tais políticas não estão necessariamente em assonância com os interesses e práticas tradicionais sempre contemplados pela estrutura macro-econômica e planejamentos governamentais de longo prazo através de benesses e espoliações. Assim, seus porta-vozes insistem em bradar contra as políticas sociais e investimentos produtivos, chamando tais políticas de retrógradas e intervencionistas.
Assim, a agonia do capitalismo liberal tem posto em cheque o modelo de crescimento econômico mundial. Bancos sólidos se dissolvendo e mega- especuladores dando um banho em milhões de pessoas num golpe de 50 bilhões de dólares. Neste desprezível jogo de roleta que são as cirandas financeiras praticadas por tubarões famintos, ninguém é de ninguém! Depois desses escândalos financeiros e crises na economia mundial, este tipo de práticas econômicas estão com as suas bases extremamente minadas. Porém, o liberalismo agoniza, mas não entrega os pontos tão facilmente. A superação da crise está sendo tentada por velhas formas e práticas que só tem aprofundado a crise sem resolvê-la. Os conglomerados e corporações aplicam a velha fórmula de se concentrar, se fechar e demitir.
Cabe aos novos elementos que começam a ocupar os espaços que anteriormente eram somente ocupados pelos velhos estratos, seja na política seja no acesso a bens materiais e serviços, estabelecer novos padrões de produção e distribuição da riqueza que contemplem maiores contingentes e que sejam menos perniciosos para o planeta e o meio ambiente. Talvez o capitalismo, velho mutante, esteja precisando repensar seus dogmas e procurar entrar em uma nova fase na qual procure manter-se por sustentabilidades mais inteligentes e menos destrutíveis. A velha ordem está na hora de tirar seu time de campo para a entrada de um novo pensamento voltado para um equilíbrio mais racional para lidar com o meio ambiente natural e social.
Ultimamente as enxurradas de acidentes econômicos estão invadindo nossos noticiários escritos, falados, virtuais e televisivos em tons tão alarmantes e cores tão sombrias feitas sistematicamente em chamadas diárias parecem prenunciar um terrível desastre iminente no capitalismo mundial. No entanto, talvez estes "incidentes de percurso" do capitalismo mundial possam servir para ajuda a indicar caminhos alternativos a serem trilhados por novos agentes em substituição aos velhos lobos da economia tradicional.
As velhas práticas econômicas das velhas economias agonizam, mas não querem entregar os pontos tão facilmente. Corporações poderosíssimas estão juntando-se umas com as outras na tentativa de superação de crises provocadas por elas mesmas.
Enquanto isso, a economia dos países que sempre foram relegados à periferia, parece ainda ter fôlego e possibilidade de superação dessas mesmas dificuldades e dicotomias que afligem o capitalismo dos países avançados.
Talvez um dos fatores da pujança de países latino-americanos seja a decisão tomada por governos progressistas em voltar-se para melhorias sociais e investimento em programas de assistência social e erradicação da miséria. A partir deste implemento, assistimos a ascensão de camadas sociais que nunca tiveram acesso a inúmeros tipos de produtos e as mais variadas ofertas de serviços.
Estas novas camadas têm como característica um padrão de consumo que, passado a euforia dos primeiros tempos, baseia-se em investimentos em bem- estar familiar e conforto técnico porem com um padrão de consumo diferente das classes tradicionais - menos voltada à opulência e à ostentação e mais direcionada ao consumo consciente e voltado a atender a necessidades mais elementares. Mesmo assim as classes C, D e até E, têm conseguido acesso a certos produtos e serviços para os quais sequer sonhavam a vinte ou trinta anos atrás.
No entanto, apesar das melhorias que tal estado de coisas poderia acarretar a todas as classes sociais de modo geral com a diminuição de pressões sociais de todos os tipos, não parece que as classes A e B estejam apreciando com muito entusiasmo essa ascensão social dos mais pobres. Atitudes, veladas ou abertas, demonstram certo mau humor e atitudes rancorosas localizados aqui e acolá no centro da elite pensante, atuante e influente. É fragrante a má vontade em aceitar políticos como Chaves e Lula que destoam das classes privilegiadas que sempre estiveram no centro do poder, principalmente as mais tradicionais e reacionárias.
Desse modo as conseqüências imediatas das políticas econômicas das novas lideranças dos países chamados emergente, quais sejam: melhoria econômica direcionada a setores específicos da pirâmide social proporcionando aos elementos destes setores, acesso a produtos e serviços dos quais desconheciam, parecem incomodar certos setores da intelligentsia. Comentários expressos em diversos círculos, às vezes conscientes e velados, escondendo interesses e ideologias, às vezes desinteressados e eloqüentes ditos de modo explícito, parecem contestar as formas culturais e filosóficas da nova classe ascendente.
A introdução de novos elementos que sempre estiveram à margem do jogo econômico e político - como mestiços, operários, mulheres, gays etc- e a execução de programas visando o melhoramento das infra-estruturas sociais e, como na Bolívia, na Venezuela e em outros países, enfatizando a nacionalização dos setores ligados a exploração das reservas naturais dos respectivos países – sobretudo na área do petróleo - tem despertado a ira de setores e interesses a muito estabelecidos, já que tais políticas não estão necessariamente em assonância com os interesses e práticas tradicionais sempre contemplados pela estrutura macro-econômica e planejamentos governamentais de longo prazo através de benesses e espoliações. Assim, seus porta-vozes insistem em bradar contra as políticas sociais e investimentos produtivos, chamando tais políticas de retrógradas e intervencionistas.
Assim, a agonia do capitalismo liberal tem posto em cheque o modelo de crescimento econômico mundial. Bancos sólidos se dissolvendo e mega- especuladores dando um banho em milhões de pessoas num golpe de 50 bilhões de dólares. Neste desprezível jogo de roleta que são as cirandas financeiras praticadas por tubarões famintos, ninguém é de ninguém! Depois desses escândalos financeiros e crises na economia mundial, este tipo de práticas econômicas estão com as suas bases extremamente minadas. Porém, o liberalismo agoniza, mas não entrega os pontos tão facilmente. A superação da crise está sendo tentada por velhas formas e práticas que só tem aprofundado a crise sem resolvê-la. Os conglomerados e corporações aplicam a velha fórmula de se concentrar, se fechar e demitir.
Cabe aos novos elementos que começam a ocupar os espaços que anteriormente eram somente ocupados pelos velhos estratos, seja na política seja no acesso a bens materiais e serviços, estabelecer novos padrões de produção e distribuição da riqueza que contemplem maiores contingentes e que sejam menos perniciosos para o planeta e o meio ambiente. Talvez o capitalismo, velho mutante, esteja precisando repensar seus dogmas e procurar entrar em uma nova fase na qual procure manter-se por sustentabilidades mais inteligentes e menos destrutíveis. A velha ordem está na hora de tirar seu time de campo para a entrada de um novo pensamento voltado para um equilíbrio mais racional para lidar com o meio ambiente natural e social.
quarta-feira, 11 de março de 2009
O negócio é fazer terror...
Já reparou como os apresentadores dos telejornais, principalmente os da Globo, apresentam as notícias ecônomicas com cara de enterro?
Ontem, como todos os dias, Willian Bonner dava destaque às noticias da crise como se o mundo estivesse acabando e à beira do abismo! Os últimos indicadores que acusavam um recuo no PIB brasileiro no último trimestre, parecia um desastre irreversível.
Não foi dito que, apesar do recuo nos números, o Brasil teve um crescimento real na sua economia, crescendo no ano passado 5,l%.
O aumento na Bolsa de Valores foi noticiado como acontecimento secundário. Em outro contexto seria destaque.
Na verdade, o que a mídia (principalmente a televisiva - acompanhada pelo povão) quer é fazer estardalhaço e sensacionalismo. Não interessa a ela elucidar o leitor/telespectador, mas confundí-lo e formar uma opnião deturpada, conforme seus interesses políticos e ideológicos.
Ontem, como todos os dias, Willian Bonner dava destaque às noticias da crise como se o mundo estivesse acabando e à beira do abismo! Os últimos indicadores que acusavam um recuo no PIB brasileiro no último trimestre, parecia um desastre irreversível.
Não foi dito que, apesar do recuo nos números, o Brasil teve um crescimento real na sua economia, crescendo no ano passado 5,l%.
O aumento na Bolsa de Valores foi noticiado como acontecimento secundário. Em outro contexto seria destaque.
Na verdade, o que a mídia (principalmente a televisiva - acompanhada pelo povão) quer é fazer estardalhaço e sensacionalismo. Não interessa a ela elucidar o leitor/telespectador, mas confundí-lo e formar uma opnião deturpada, conforme seus interesses políticos e ideológicos.
A Igreja Católica e a Maçonaria
Na quinta-feira da semana passada, o Arcebispo Metropolitano Dom José Alberto Moura, de 65 anos, protagonizou um ato que, para muitos, já pode ser classificado como histórico. Participou de reunião branca da Maçonaria, na Loja Deus e Liberdade, na avenida Mestra Fininha, centro de Montes Claros. Trata-se de iniciativa que transcende, e muito, o motivo do encontro - criar parceria visando à concretização de medidas que promovam a segurança pública, tema da Campanha da Fraternidade 2009 - para assumir condição de verdadeiro marco.
A constatação encontra amparo no fato de que, em termos de Igreja Católica, às vezes o gesto vale mais que a palavra propriamente dita ou escrita. Caso, por exemplo, da divulgação do famoso, e temido, 3º segredo de Fátima. No ano 2000, transição do século XX para o XXI, o Papa João Paulo II revelou o interpretação da última profecia atribuída a Maria, mãe de Jesus, que, em outubro de 1917, teria aparecido a três pastorinhos na cidade de Fátima, em Portugal, hoje um dos maiores santuários marianos do mundo. Disse que o conteúdo remetia basicamente à perseguição sistematizada de ateus à Igreja, de que o próprio papa fora vítima, no atentado que quase lhe tirou a vida, no dia 13 de maio de 1981, data de especial devoção à Virgem de Fátima. Ainda na virada do milênio, o Pontífice questionou o conceito de fim de mundo, muitas vezes bandeira da própria Igreja. Tanto numa como noutra investida vaticana, percebe-se a tentativa de diferenciar a Igreja das seitas que, aproveitando o contexto e as alusões de Nostradamus à consumação dos tempos, supostamente marcada para o ano 2000, acabaram por causar pânico em muitos fiéis.
Então, fica aberta a brecha para se entender o real peso da atitude de Dom José Alberto, que, prestes a completar dois anos à frente da Arquidiocese de Montes Claros - em 14 de abril -, já deu mostras de que preza o diálogo e, nele, a unidade. Não à toa, o líder religioso, que faz questão de perfumar onde quer que chegue com fino senso de humor, recebeu a incumbência direta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de presidir a Comissão Episcopal Pastoral para o Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso. Marcou pontos preciosos. Um verdadeiro gol de placa.
Para melhor absorver o impacto da visita de um arcebispo, que ainda é referência para três dioceses (Januária, Janaúba e Paracatu), integrantes da Província Eclesiástica de Montes Claros, a um templo maçônico, torna-se necessário retornar ao passado. Saber quando e por que houve atritos entre Igreja e Maçonaria. Episódio, aliás, que originou lendas e animosidades. A Maçonaria incomoda sobretudo por ser uma sociedade secreta, que reúne homens que se destacam profissionalmente na sociedade. Terreno fértil para emergir verdadeiras culturas que anexam a instituição ao mal. As de maiores apelos populares são o bode preto e a obrigação de renegar Deus. Coisas que só a ignorância explica.
Pois bem. Apesar de reconhecer a existência de divergências acerca do assunto, Marcelo dos Reis Tavares, em trabalho desenvolvido para Unesp de Franca (SP), considera razoável aceitar que a Maçonaria despontou como instituição a partir da fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, pelos pastores protestantes James Anderson e J. T Desaguliers. A obra sublinhou a passagem da Maçonaria operativa, que os contrutores das catedrais criaram na Idade Média, para a Maçonaria especulativa ou filosófica, que envolvia, além de pedreiros, livres pensadores. O apogeu maçônico ocorrera durante a Revolução Francesa, de 1789. Alguns acreditam que a Maçonaria seja fruto típico do Iluminismo, dado seu caráter racional e liberal. Assim, é comum encontrar ali ideias de secularização, democracia de toda espécie e crença num poder criador, denominado de Grande Arquiteto do Universo. Certos estudiosos, porém, atestam que a Maçonaria remonta ao período bíblico do Rei Salomão, que contratara o arquiteto Hiram para edificar o Templo de Jerusalém, ou mesmo antes, na era pré-dilúvio.
A relação da Igreja com a Maçonaria foi cordial até o surgimento de questões religiosas. Era comum a presença de membros da hierarquia eclesiástica na Maçonaria e de maçons nas ordens e congregações religiosas. Até que, conforme Marcelo Tavares, nos pontificados de Pio IX (1846-1878) e Leão XIII (1878-1903), intensifcaram-se na Igreja Católica o combate ao liberalismo e racionalismo e seus efeitos nos campos religioso, filosófico e político. Trocando em miúdos, a Igreja fechava-se para a modernidade e solicitava completa submissão dos poderes temporais à autoridade papal, que ia "além dos Alpes". Daí a denominação de ultramontanismo. Os principais alvos do combate eram o protestantismo e a Maçonaria, encarada como uma das responsáveis pela unificação italiana, que, a propósito, redundou na perda dos estados pontifícios.
No Brasil, as reformas ultramontanas afetaram a posição da Igreja no Império, que tinha vários membros na Maçonaria. Foi um tempo difícil, porque o imperador tinha a prerrogativa de aceitar ou não as indicações da Santa Sé de pessoas para o episcopado. Não raro, o governante fazia a escolha que julgasse correta.
Há que se mencionar também a encíclica Quanta Cura, que Pio IX promulgou em 1864 e que trazia o Syllabus, palavra de origem grega que significa lista de erros. Nesse anexo, o papa excomunga os maçons e discorre sobre a inconveniência de católicos frequentarem a Maçonaria. O professor, pesquisador e historiador Antônio de Queiroz e Silva, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, cita Wagner Veneziani Costa para contar que, "em 1983, o cânon da excomunhão desapareceu, junto com a menção direta à Maçonaria". A impressão de que a Igreja Católica tirou restrições à Maçonaria, entretanto, desmorona na declaração assinada pelo cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No documento, o atual Papa, Bento XVI, relata que "os princípios da Maçonaria seguem sendo incompatíveis com a doutrina da Igreja, e que os fiéis que pertençam a associações maçônicas não podem ter acesso à Sagrada Comunhão". Não proíbe, entretanto, uma aproximação estratégica, amigável entre as duas instituições.
Texto da jornalista Valéria Borborema
Veja o interessante blog "Apenas uma idéia, só isso"
A constatação encontra amparo no fato de que, em termos de Igreja Católica, às vezes o gesto vale mais que a palavra propriamente dita ou escrita. Caso, por exemplo, da divulgação do famoso, e temido, 3º segredo de Fátima. No ano 2000, transição do século XX para o XXI, o Papa João Paulo II revelou o interpretação da última profecia atribuída a Maria, mãe de Jesus, que, em outubro de 1917, teria aparecido a três pastorinhos na cidade de Fátima, em Portugal, hoje um dos maiores santuários marianos do mundo. Disse que o conteúdo remetia basicamente à perseguição sistematizada de ateus à Igreja, de que o próprio papa fora vítima, no atentado que quase lhe tirou a vida, no dia 13 de maio de 1981, data de especial devoção à Virgem de Fátima. Ainda na virada do milênio, o Pontífice questionou o conceito de fim de mundo, muitas vezes bandeira da própria Igreja. Tanto numa como noutra investida vaticana, percebe-se a tentativa de diferenciar a Igreja das seitas que, aproveitando o contexto e as alusões de Nostradamus à consumação dos tempos, supostamente marcada para o ano 2000, acabaram por causar pânico em muitos fiéis.
Então, fica aberta a brecha para se entender o real peso da atitude de Dom José Alberto, que, prestes a completar dois anos à frente da Arquidiocese de Montes Claros - em 14 de abril -, já deu mostras de que preza o diálogo e, nele, a unidade. Não à toa, o líder religioso, que faz questão de perfumar onde quer que chegue com fino senso de humor, recebeu a incumbência direta da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil de presidir a Comissão Episcopal Pastoral para o Diálogo Ecumênico e Inter-Religioso. Marcou pontos preciosos. Um verdadeiro gol de placa.
Para melhor absorver o impacto da visita de um arcebispo, que ainda é referência para três dioceses (Januária, Janaúba e Paracatu), integrantes da Província Eclesiástica de Montes Claros, a um templo maçônico, torna-se necessário retornar ao passado. Saber quando e por que houve atritos entre Igreja e Maçonaria. Episódio, aliás, que originou lendas e animosidades. A Maçonaria incomoda sobretudo por ser uma sociedade secreta, que reúne homens que se destacam profissionalmente na sociedade. Terreno fértil para emergir verdadeiras culturas que anexam a instituição ao mal. As de maiores apelos populares são o bode preto e a obrigação de renegar Deus. Coisas que só a ignorância explica.
Pois bem. Apesar de reconhecer a existência de divergências acerca do assunto, Marcelo dos Reis Tavares, em trabalho desenvolvido para Unesp de Franca (SP), considera razoável aceitar que a Maçonaria despontou como instituição a partir da fundação da Grande Loja de Londres, em 1717, pelos pastores protestantes James Anderson e J. T Desaguliers. A obra sublinhou a passagem da Maçonaria operativa, que os contrutores das catedrais criaram na Idade Média, para a Maçonaria especulativa ou filosófica, que envolvia, além de pedreiros, livres pensadores. O apogeu maçônico ocorrera durante a Revolução Francesa, de 1789. Alguns acreditam que a Maçonaria seja fruto típico do Iluminismo, dado seu caráter racional e liberal. Assim, é comum encontrar ali ideias de secularização, democracia de toda espécie e crença num poder criador, denominado de Grande Arquiteto do Universo. Certos estudiosos, porém, atestam que a Maçonaria remonta ao período bíblico do Rei Salomão, que contratara o arquiteto Hiram para edificar o Templo de Jerusalém, ou mesmo antes, na era pré-dilúvio.
A relação da Igreja com a Maçonaria foi cordial até o surgimento de questões religiosas. Era comum a presença de membros da hierarquia eclesiástica na Maçonaria e de maçons nas ordens e congregações religiosas. Até que, conforme Marcelo Tavares, nos pontificados de Pio IX (1846-1878) e Leão XIII (1878-1903), intensifcaram-se na Igreja Católica o combate ao liberalismo e racionalismo e seus efeitos nos campos religioso, filosófico e político. Trocando em miúdos, a Igreja fechava-se para a modernidade e solicitava completa submissão dos poderes temporais à autoridade papal, que ia "além dos Alpes". Daí a denominação de ultramontanismo. Os principais alvos do combate eram o protestantismo e a Maçonaria, encarada como uma das responsáveis pela unificação italiana, que, a propósito, redundou na perda dos estados pontifícios.
No Brasil, as reformas ultramontanas afetaram a posição da Igreja no Império, que tinha vários membros na Maçonaria. Foi um tempo difícil, porque o imperador tinha a prerrogativa de aceitar ou não as indicações da Santa Sé de pessoas para o episcopado. Não raro, o governante fazia a escolha que julgasse correta.
Há que se mencionar também a encíclica Quanta Cura, que Pio IX promulgou em 1864 e que trazia o Syllabus, palavra de origem grega que significa lista de erros. Nesse anexo, o papa excomunga os maçons e discorre sobre a inconveniência de católicos frequentarem a Maçonaria. O professor, pesquisador e historiador Antônio de Queiroz e Silva, do Instituto Histórico e Geográfico do Paraná, cita Wagner Veneziani Costa para contar que, "em 1983, o cânon da excomunhão desapareceu, junto com a menção direta à Maçonaria". A impressão de que a Igreja Católica tirou restrições à Maçonaria, entretanto, desmorona na declaração assinada pelo cardeal Joseph Ratzinger, então prefeito da Congregação para a Doutrina da Fé. No documento, o atual Papa, Bento XVI, relata que "os princípios da Maçonaria seguem sendo incompatíveis com a doutrina da Igreja, e que os fiéis que pertençam a associações maçônicas não podem ter acesso à Sagrada Comunhão". Não proíbe, entretanto, uma aproximação estratégica, amigável entre as duas instituições.
Texto da jornalista Valéria Borborema
Veja o interessante blog "Apenas uma idéia, só isso"
terça-feira, 10 de março de 2009
CAPITALISMO - O ANJO EXTERMINADOR
Uma marca da Geração 1968 foi enveredar pela psicanálise, para entender melhor a forma de dominação imposta pelo capitalismo avançado.
Herbert Marcuse, principalmente, colocou a sociedade pós-industrial no divã, daí derivando conclusões utilíssimas para os movimentos revolucionários... que logo as deixariam de lado, voltando celeremente às crenças e posturas antigas, como se quisessem confirmar a crítica disparada por Caetano Veloso contra os energúmenos que vaiavam É Proibido Proibir: "Vocês vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!".
O certo é que caiu em desuso falar na lógica perversa do capitalismo, denunciar suas tendências autofágicas e atribuir-lhe (como o filósofo Norman O. Brown fazia) o papel de anjo exterminador da espécie humana.
Mas, a nova crise global do capitalismo veio ao encontro das teses de Marcuse e O. Brown, num aspecto importantíssimo: o comportamento desatinado de cada empresa, tentando salvar-se sozinha e, com isto, contribuindo para o naufrágio geral.
Noutro dia mesmo abordei o comportamento ignóbil dos bancos que, beneficiados por medidas governamentais que lhes proporcionaram recursos para irrigar a economia, preferiram, isto sim, jogar a grana extra em seus próprios fundos de proteção contra os prejuízos que a inadimplência dos clientes lhes causará. Ou seja, aprofundam a recessão para reduzirem suas próprias perdas com a recessão... e que se danem o Brasil e os brasileiros!
A mesma insensatez se constata em três notícias desta semana:
A fusão entre os laboratórios farmacêuticos Merck e Schering-Plough, recém-anunciada, deverá resultar na demissão de 15% do quadro de funcionários (16.620 pessoas) para a formação da nova empresa. Um comunicado conjunto informa que "a prioridade será manter os melhores talentos de ambas" (ai dos demais!). Tanto a Merck como a Schering-Plough vão congelar suas contratações imediatamente.
O grupo petroquímico americano Dow Chemical anunciou que vai completar a aquisição da rival Rohm and Haas. A estimativa é que a compra provocará o corte de mais 3.500 postos de trabalho, a somarem-se aos 6.500 antes anunciados pelos dois grupos.
As montadoras brasileiras, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, extinguiram 1.786 postos de trabalho em fevereiro/2009, embora a produção tenha aumentado 9,2% em relação ao mês anterior. O incentivo governamental para manter aquecido o mercado automobilístico não afugentou o passaralho. As vagas eliminadas nos últimos quatro meses já somam 7.769.
Conclusão óbvia: as corporações não estão nem aí para os esforços de superação da crise. Querem é posicionar-se para o day after, pretendendo sair melhor da recessão do que estavam ao nela entrarem. E atiram insensivelmente seres humanos na rua da amargura, quando mais difícil será conseguirem nova colocação.
E se a recessão não terminar, mas sim aprofundar-se cada vez mais? De que lhes adiantará essa faina repulsiva para ocupar os melhores camarotes, caso o navio afunde?
Tal comportamento certamente se repetirá quando a humanidade estiver enfrentando o gravíssimo desafio das alterações climáticas e outros que virão por aí.
Daí a minha convicção de que, com o salve-se quem puder! capitalista, ninguém se salvará.
Os seres humanos terão de redescobrir a solidariedade e a comunhão de esforços, no momento mais crítico e da pior maneira possível, se quiserem sobreviver como espécie.
Texto de Celso Lungaretti, postado em NÁUFRAGO DA UTOPIA(veja este blog)
Herbert Marcuse, principalmente, colocou a sociedade pós-industrial no divã, daí derivando conclusões utilíssimas para os movimentos revolucionários... que logo as deixariam de lado, voltando celeremente às crenças e posturas antigas, como se quisessem confirmar a crítica disparada por Caetano Veloso contra os energúmenos que vaiavam É Proibido Proibir: "Vocês vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!".
O certo é que caiu em desuso falar na lógica perversa do capitalismo, denunciar suas tendências autofágicas e atribuir-lhe (como o filósofo Norman O. Brown fazia) o papel de anjo exterminador da espécie humana.
Mas, a nova crise global do capitalismo veio ao encontro das teses de Marcuse e O. Brown, num aspecto importantíssimo: o comportamento desatinado de cada empresa, tentando salvar-se sozinha e, com isto, contribuindo para o naufrágio geral.
Noutro dia mesmo abordei o comportamento ignóbil dos bancos que, beneficiados por medidas governamentais que lhes proporcionaram recursos para irrigar a economia, preferiram, isto sim, jogar a grana extra em seus próprios fundos de proteção contra os prejuízos que a inadimplência dos clientes lhes causará. Ou seja, aprofundam a recessão para reduzirem suas próprias perdas com a recessão... e que se danem o Brasil e os brasileiros!
A mesma insensatez se constata em três notícias desta semana:
A fusão entre os laboratórios farmacêuticos Merck e Schering-Plough, recém-anunciada, deverá resultar na demissão de 15% do quadro de funcionários (16.620 pessoas) para a formação da nova empresa. Um comunicado conjunto informa que "a prioridade será manter os melhores talentos de ambas" (ai dos demais!). Tanto a Merck como a Schering-Plough vão congelar suas contratações imediatamente.
O grupo petroquímico americano Dow Chemical anunciou que vai completar a aquisição da rival Rohm and Haas. A estimativa é que a compra provocará o corte de mais 3.500 postos de trabalho, a somarem-se aos 6.500 antes anunciados pelos dois grupos.
As montadoras brasileiras, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, extinguiram 1.786 postos de trabalho em fevereiro/2009, embora a produção tenha aumentado 9,2% em relação ao mês anterior. O incentivo governamental para manter aquecido o mercado automobilístico não afugentou o passaralho. As vagas eliminadas nos últimos quatro meses já somam 7.769.
Conclusão óbvia: as corporações não estão nem aí para os esforços de superação da crise. Querem é posicionar-se para o day after, pretendendo sair melhor da recessão do que estavam ao nela entrarem. E atiram insensivelmente seres humanos na rua da amargura, quando mais difícil será conseguirem nova colocação.
E se a recessão não terminar, mas sim aprofundar-se cada vez mais? De que lhes adiantará essa faina repulsiva para ocupar os melhores camarotes, caso o navio afunde?
Tal comportamento certamente se repetirá quando a humanidade estiver enfrentando o gravíssimo desafio das alterações climáticas e outros que virão por aí.
Daí a minha convicção de que, com o salve-se quem puder! capitalista, ninguém se salvará.
Os seres humanos terão de redescobrir a solidariedade e a comunhão de esforços, no momento mais crítico e da pior maneira possível, se quiserem sobreviver como espécie.
Texto de Celso Lungaretti, postado em NÁUFRAGO DA UTOPIA(veja este blog)
segunda-feira, 9 de março de 2009
A HOMENAGEM DA IGREJA AO DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Berna (Suiça) - Com alguns dias de antecedência, o arcebispo de Olinda e Recife prestou sua homenagem às mulheres brasileiras, representadas em duas gerações – mãe e filha. Excomungou a mãe por ter permitido à sua filha de nove anos abortar dois fetos gêmeos gerados no estupro cometido pelo padrasto. E o Vaticano completou a homenagem ratificando a decisão do arcebispo que inclui a excomunhão dos médicos praticantes do aborto.
As mulheres brasileiras deveriam colocar no altar das homenagens ao Dia Mundial da Mulher essa decisão clerical digna da Idade Média, quando as mulheres eram queimadas em praça pública suspeitas de feitiçaria, seja por olharem os homens de frente, seja por gozarem mais de uma vez, seja por gritarem de prazer no coito e não pedirem perdão e nem se benzerem por tanto fogo infernal, do qual não deixavam participar seu confessor.
A hipocrisia tem um limite, amplamente ultrapassado com esse ato de excomunhão, sem nenhum valor prático mas grande em significado. Contam que, pouco antes de morrer, Voltaire, o líder francês dos Anos Luzes, recebeu a visita de um padre desejoso de lhe dar a extrema-unção e redimir o ateu impenitentte num ato de contrição. O irônico e cínico Voltaire lhe perguntou – “vem da parte de quem ?” ao que o padre respondeu – “sou um representante de Deus”. Ao que Voltaire, mesmo nos seus últimos instantes, prontamente retrucou – “mostre suas credenciais ou saia deste quarto”.
Faz umas três semanas, na Itália, o pai de uma jovem mantida artificialmente em vida por 17 anos, autorizou que fossem desligados os aparelhos. A jovem tinha 23 anos quando foi vítima de um acidente de trânsito e, aos 40 anos, nunca mostrara nenhuma reação. O corpo mantinha suas funções mecânicas básicas mas o cérebro deixara de funcionar.
Silvio Berlusconi, o fanfarrão que dirige a Itália e que acaba de relançar as mílicias fascistas dos anos 30 de Mussolini, encarregadas da caça aos imigrantes ilegais, teve uma frase que emocionou os italianos – “é uma mulher que pode mesmo ter filhos!”. Quem senão ele poderia pensar na hipótese de fazer um filho, de se aproveitar do corpo de uma mulher em coma permanente ? Só mesmo num filme de Almodovar acontece esse gesto, que não chega a ser de necrofilia, porque a personagem fica grávida em coma.
Pois bem, quando a jovem morreu por ter sido desligado o aparelho que a mantinha em vida artificial, a Igreja católica promoveu vigílias e fez protestos com seus devotos contra o “assassinato” cometido. Não sei se houve também excomunhões. A pretexto do que ? Da defesa da vida, mas que vida ? a vida artificial mantida por tubos, máquina ligada, remédios, sofrimento que teria a jovem se seu cérebro já não tivesse se desligado ?
André Malraux fez uma profecia, que parece ser mais uma maldição que um vaticínio – “o próximo século será religioso ou não será!”. A religião que vai ganhando espaço no nosso planeta, não só no Brasil, é sinônimo de reacionarismo, de um tenebroso retorno às superstições, às crendices, ao irracional e isso envolve não só o catolicismo, hoje guiado por um Papa medieval, que poderá provocar mesmo um racha aqui na Europa, como o integrismo muçulmano, no qual a mulher não tem ainda a dignidade de ser humano, e no integrismo da religão judáica, insuportável para muitos israelenses que deixam Jerusalem para ir viver na atmosfera mais livre de Telavive.
O arcebispo de Olinda e Recife, nada a ver com o falecido dom Helder Câmara, queria que a menina de nove anos desse à luz, o que poderia provocar sua morte, para nascerem os gêmeos concebidos numa violação, que seriam órfáos de mãe e filhos de um estuprador na prisão. Onde a chamada piedade cristã, o amor, o respeito à dignidade humana ? Não se trata de um desvio sádico ?
Durante a guerra na ex-Iugoslávia, quando as tropas raivosas de sérvios invadiam a Bósnia muçulmana e vice-versa, descarregavam seu estresse de guerra, violando as mulheres dos seus inimigos. E como muitas ficaram grávidas, perguntaram aos dirigentes religiosos católicos ortodoxos e muçulmanos se poderiam abortar, sendo-lhes respondido que deveriam parir o fruto do crime de que tinham sido vítimas, amamentar e criar a descendência do seu violador.
As mulheres que, ainda ontem não tinham o direito de votar, que são apedrejadas em muitos países muçulmanos quando suspeitas de adultério, jogadas na rua quando morre seu marido indiano, que, há apenas trinta anos conseguiram, na França, o direito do ventre livre e de dispor do seu útero, ainda têm um bom caminho pela frente para poderem comemorar seu Dia mundial.
Milhões delas ainda são obrigadas a esconder seu corpo dentro da burca, milhares são enterradas vivas até o pescoço para serem apedrejadas ou presas por não cobrirem a cabeça e rosto com o chador, enquanto no nosso evoluído Ocidente são obrigadas a guardarem no seu ventre o fruto de estupros, violações ou prostituição sob pena de serem condenadas etenamente ao fogo do inferno.
Parodiando Marx, poderíamos dizer – mulheres de todo mundo, uní-vos contra a mentira e a enganação.
Veja mais em lingua de trapo
As mulheres brasileiras deveriam colocar no altar das homenagens ao Dia Mundial da Mulher essa decisão clerical digna da Idade Média, quando as mulheres eram queimadas em praça pública suspeitas de feitiçaria, seja por olharem os homens de frente, seja por gozarem mais de uma vez, seja por gritarem de prazer no coito e não pedirem perdão e nem se benzerem por tanto fogo infernal, do qual não deixavam participar seu confessor.
A hipocrisia tem um limite, amplamente ultrapassado com esse ato de excomunhão, sem nenhum valor prático mas grande em significado. Contam que, pouco antes de morrer, Voltaire, o líder francês dos Anos Luzes, recebeu a visita de um padre desejoso de lhe dar a extrema-unção e redimir o ateu impenitentte num ato de contrição. O irônico e cínico Voltaire lhe perguntou – “vem da parte de quem ?” ao que o padre respondeu – “sou um representante de Deus”. Ao que Voltaire, mesmo nos seus últimos instantes, prontamente retrucou – “mostre suas credenciais ou saia deste quarto”.
Faz umas três semanas, na Itália, o pai de uma jovem mantida artificialmente em vida por 17 anos, autorizou que fossem desligados os aparelhos. A jovem tinha 23 anos quando foi vítima de um acidente de trânsito e, aos 40 anos, nunca mostrara nenhuma reação. O corpo mantinha suas funções mecânicas básicas mas o cérebro deixara de funcionar.
Silvio Berlusconi, o fanfarrão que dirige a Itália e que acaba de relançar as mílicias fascistas dos anos 30 de Mussolini, encarregadas da caça aos imigrantes ilegais, teve uma frase que emocionou os italianos – “é uma mulher que pode mesmo ter filhos!”. Quem senão ele poderia pensar na hipótese de fazer um filho, de se aproveitar do corpo de uma mulher em coma permanente ? Só mesmo num filme de Almodovar acontece esse gesto, que não chega a ser de necrofilia, porque a personagem fica grávida em coma.
Pois bem, quando a jovem morreu por ter sido desligado o aparelho que a mantinha em vida artificial, a Igreja católica promoveu vigílias e fez protestos com seus devotos contra o “assassinato” cometido. Não sei se houve também excomunhões. A pretexto do que ? Da defesa da vida, mas que vida ? a vida artificial mantida por tubos, máquina ligada, remédios, sofrimento que teria a jovem se seu cérebro já não tivesse se desligado ?
André Malraux fez uma profecia, que parece ser mais uma maldição que um vaticínio – “o próximo século será religioso ou não será!”. A religião que vai ganhando espaço no nosso planeta, não só no Brasil, é sinônimo de reacionarismo, de um tenebroso retorno às superstições, às crendices, ao irracional e isso envolve não só o catolicismo, hoje guiado por um Papa medieval, que poderá provocar mesmo um racha aqui na Europa, como o integrismo muçulmano, no qual a mulher não tem ainda a dignidade de ser humano, e no integrismo da religão judáica, insuportável para muitos israelenses que deixam Jerusalem para ir viver na atmosfera mais livre de Telavive.
O arcebispo de Olinda e Recife, nada a ver com o falecido dom Helder Câmara, queria que a menina de nove anos desse à luz, o que poderia provocar sua morte, para nascerem os gêmeos concebidos numa violação, que seriam órfáos de mãe e filhos de um estuprador na prisão. Onde a chamada piedade cristã, o amor, o respeito à dignidade humana ? Não se trata de um desvio sádico ?
Durante a guerra na ex-Iugoslávia, quando as tropas raivosas de sérvios invadiam a Bósnia muçulmana e vice-versa, descarregavam seu estresse de guerra, violando as mulheres dos seus inimigos. E como muitas ficaram grávidas, perguntaram aos dirigentes religiosos católicos ortodoxos e muçulmanos se poderiam abortar, sendo-lhes respondido que deveriam parir o fruto do crime de que tinham sido vítimas, amamentar e criar a descendência do seu violador.
As mulheres que, ainda ontem não tinham o direito de votar, que são apedrejadas em muitos países muçulmanos quando suspeitas de adultério, jogadas na rua quando morre seu marido indiano, que, há apenas trinta anos conseguiram, na França, o direito do ventre livre e de dispor do seu útero, ainda têm um bom caminho pela frente para poderem comemorar seu Dia mundial.
Milhões delas ainda são obrigadas a esconder seu corpo dentro da burca, milhares são enterradas vivas até o pescoço para serem apedrejadas ou presas por não cobrirem a cabeça e rosto com o chador, enquanto no nosso evoluído Ocidente são obrigadas a guardarem no seu ventre o fruto de estupros, violações ou prostituição sob pena de serem condenadas etenamente ao fogo do inferno.
Parodiando Marx, poderíamos dizer – mulheres de todo mundo, uní-vos contra a mentira e a enganação.
Veja mais em lingua de trapo
domingo, 8 de março de 2009
A BESTA MEDONHA!
Tendo como lema em seu brasão episcopal In obsequio Jesu Christi (A serviço de Jesus Cristo), esse atordoado ser, representante desse “Conto da Carochinha” que é o cristianismo, resolveu “punir” com a excomunhão (pena eclesiástica que exclui crédulos do gozo da totalidade dos bens espirituais) todos os envolvidos com o aborto levado a efeito na menina de nove anos, 1,37 m de altura e 33 quilos, que estava grávida de gêmeos após estupros contínuos por parte do próprio padrasto. Estão condenados, por ordem dessa aberração cromossômica que ocupa o posto deixado pelo inesquecível Dom Hélder Câmara, os advogados, juízes, familiares da criança e equipe médica que viabilizaram esse aborto em tempo recorde, impossibilitando a ação funesta desse psicopata. Psicopata, sim! Não acredito que alguém que é obrigado a abdicar das delícias do sexo por toda a vida tenha algum grau de normalidade. Mesmo que se, em vez de resignar-se com essa castração compulsória, houver optado por aderir à prática comum aos conventos, sacristias e seminários, onde rola o maior auê quando as luzes são apagadas. A prova das alucinações intelectuais que a falta de sexo ou seu uso com imenso sentimento de culpa é capaz de provocar em quem se relaciona assim com esse prazer, é que, esse representante do Vaticano aqui em Pernambuco, absolveu da excomunhão o padrasto das crianças abusadas. No plural sim, já que, há mais de quatro anos, abusava também de uma irmã da grávida, que tem sérios problemas mentais.
Ainda bem que a autoridade moral desse suposto donzelo não vai além do seu próprio quarto de dormir, senão teríamos que assistir a essa criança de apenas nove anos, gerar em seu frágil corpo, dois embriões que, no seu impúbere útero, foram assentados por quem lhe devia abrigo.
Essa anomalia que perambula arrastando sapatos lilás pela nave central das igrejas católicas pernambucanas, e exibindo ameaçadoramente imenso crucifixo pendente sobre o peito, bem que tentou amedrontar familiares da pequena e indefesa criança, mas, o Ministério Público, o Judiciário e a Junta Médica não lhe deram tempo de usar sua arma preferida: a palavra mentirosa e mórbida desferida contra pessoas intelectualmente desprevenidas.
veja o blog vassoura de bruxa
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Ainda bem que a autoridade moral desse suposto donzelo não vai além do seu próprio quarto de dormir, senão teríamos que assistir a essa criança de apenas nove anos, gerar em seu frágil corpo, dois embriões que, no seu impúbere útero, foram assentados por quem lhe devia abrigo.
Essa anomalia que perambula arrastando sapatos lilás pela nave central das igrejas católicas pernambucanas, e exibindo ameaçadoramente imenso crucifixo pendente sobre o peito, bem que tentou amedrontar familiares da pequena e indefesa criança, mas, o Ministério Público, o Judiciário e a Junta Médica não lhe deram tempo de usar sua arma preferida: a palavra mentirosa e mórbida desferida contra pessoas intelectualmente desprevenidas.
veja o blog vassoura de bruxa
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SALVE O DIA INTERNACIONAL DA MULHER
DIA INTERNACIONAL DA MULHER
Não levo fé em dia disso ou dia daquilo. Para mim, todos os dias são dias para lembrar, refletir, comemorar. Dia dos Amigos que nada! Todos os dias são próprios para fazer amigos. Dias dos Namorados uma ova! Vamos namorar e amar todos os dias! Natal, Dia das Mães, dos Pais, dos Avôs, das Crianças. Façamos todos os dias presentes e solidários. Todavia, felizmente ou infelizmente, precisamos marcar certas datas para que possamos fazer uma parada reflexiva e chamar a atenção para uma tomada de consciência. O Dia Internacional da Mulher é uma data especial, não para dar atenção às mulheres somente neste dia, mas na qual - homens e mulheres - possamos refletir um pouco sobre o nosso modo de vida e a nossa relação com nossos semelhantes e dessemelhantes.
Nesta sociedade patriarcal, hipócrita e machista, muitas vezes pensamos somente em nossas necessidades mesquinhas e esquecemo-nos de ouvir o outro, envergonhamo-nos de nos aconchegar, deixar ser penetrado em vez de querer só penetrar, numa atitude fálica, agressiva, arrogante, própria do mundo masculinizado - deixamos, assim, de sermos generosos e compreensivos.
Neste dia – 08 de março – paremos um pouco e pensemos naquela que se sacrifica para dar a Vida, naquele ser do qual todos os homens são gerados – as mulheres! Elas têm muito a nos ensinar: a generosidade, a compreensão, a ternura... Talvez assim possamos dar um pouco de alento a este mundo tão embrutecido e paranóico!
SALVE O DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
Não levo fé em dia disso ou dia daquilo. Para mim, todos os dias são dias para lembrar, refletir, comemorar. Dia dos Amigos que nada! Todos os dias são próprios para fazer amigos. Dias dos Namorados uma ova! Vamos namorar e amar todos os dias! Natal, Dia das Mães, dos Pais, dos Avôs, das Crianças. Façamos todos os dias presentes e solidários. Todavia, felizmente ou infelizmente, precisamos marcar certas datas para que possamos fazer uma parada reflexiva e chamar a atenção para uma tomada de consciência. O Dia Internacional da Mulher é uma data especial, não para dar atenção às mulheres somente neste dia, mas na qual - homens e mulheres - possamos refletir um pouco sobre o nosso modo de vida e a nossa relação com nossos semelhantes e dessemelhantes.
Nesta sociedade patriarcal, hipócrita e machista, muitas vezes pensamos somente em nossas necessidades mesquinhas e esquecemo-nos de ouvir o outro, envergonhamo-nos de nos aconchegar, deixar ser penetrado em vez de querer só penetrar, numa atitude fálica, agressiva, arrogante, própria do mundo masculinizado - deixamos, assim, de sermos generosos e compreensivos.
Neste dia – 08 de março – paremos um pouco e pensemos naquela que se sacrifica para dar a Vida, naquele ser do qual todos os homens são gerados – as mulheres! Elas têm muito a nos ensinar: a generosidade, a compreensão, a ternura... Talvez assim possamos dar um pouco de alento a este mundo tão embrutecido e paranóico!
SALVE O DIA INTERNACIONAL DA MULHER!
quinta-feira, 5 de março de 2009
BATMAN - O CAVALEIRO DAS TREVAS
(The Dark Knight) EUA, 2008 – Direção: Christopher Nolan
Confesso que relutei bastante em assistir ao último filme do Batman, O Cavaleiro das Trevas. Meus tempos de filme de super-heróis já tinham passado. Lembro-me, nos meus tempos de adolescente, quando ia ao cinema entusiasmadíssimo para ver esses tipos de filme. Porém, ultimamente, heroísmo do tipo americano não me convence. Não fiquei nem um pouco entusiasmado com as três seqüencias do Homem-Aranha, apesar de dirigidos pelo ótimo Sam Rami e de todos os meus amigos afirmarem que eram sensacionais. Assisti e achei que não passava de mero thriller de aventura cheio de efeitos especiais. O mesmo poderia ser dito do último “Batman”. É um thriller de aventura recheado de efeitos especiais e edição frenética.
Li no blog de um amigo (Café Solilóquio) comentários muito interessantes a respeito deste filme. Ele escreveu que quando assistiu ao filme no cinema (eu assisti recentemente em DVD), as peripécias do Coringa eram aplaudidas com entusiasmo pela platéia, principalmente a cena em que o personagem explode o hospital. Para ele a reação do público era uma espécie de catarse perante o patrulhamento do “politicamente correto” que nos aflige. Comentei no blog que tinha reagido assim quando assisti no cinema a Batman II (eu acho que era o “II”) com o mesmo personagem do Coringa (interpretado por Jack Nicholson) quando este invadia um museu e detonava as obras de arte pichando todas. Era uma saudação à anarquia e um chute no bom comportamento.
Mas os tempos são outros e nada é por acaso. Quem precisa de heróis, precisa eleger um inimigo. O inimigo da vez, logicamente, é a China, o maior competidor atual de Tio Sam. Seus produtos são imprestáveis (a pistola do mafioso no tribunal não funcionou e o promotor americano desdenhou dizendo que da próxima vez o bandido usasse um produto made in USA). O território do inimigo pode ser violado tranquilamente para resgatar o bandido. Batman/Tio Sam não titubeia nem um pouco na hora de desrespeitar jurisdições.
Vejamos o personagem do Coringa: Ele realmente rouba as cenas do filme (talvez porque o Batman Christian Bale seja desprovido de carisma), mas não chega perto do Jack Nicholson, apesar de todos os elogios que Heath Ledger tenha recebido (inclusive o Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante). O Coringa não tem honra nem escrúpulo. Até aí tudo bem, os vilões geralmente não tem os têm. No entanto, há um detalhe importante: ele não tem ideal. Ele não luta por dinheiro, por vingança ou por ódio, só pretende a anarquia e a destruição da ordem. Pior, é tachado de TERRORISTA em algum momento do filme. Ele é o agente do caos e se alimenta do medo. Nestes tempos pós-11 de setembro a mensagem é clara. Os terroristas não possuem motivação política e não lutam por nenhum ideal revolucionário. Só querem interferir na ordenação do mundo e estabelecer o caos! Alfred, o mordomo (Michael Caine), nos seus tempos de mercenário na África, lidou com um tipo assim. Bruce Wayne pergunta ao seu empregado – “Como vocês conseguiram pegá-lo?”. Alfred responde: - “Queimamos a floresta inteira!” Não foi esta a atitude dos EUA no Iraque?
O Cavaleiro das Trevas, apesar da fotografia luminosa e colorida, aprofunda a morbidez e a escuridão da alma humana. Confirma que os fins justificam os meios e acredita que heróis ainda podem fazer a diferença diante da podridão do mundo. Mas quem precisa de heróis? Eles estão mortos e, no final, são sempre os Coringas que continuam rindo, um riso que não se desfaz...
Confesso que relutei bastante em assistir ao último filme do Batman, O Cavaleiro das Trevas. Meus tempos de filme de super-heróis já tinham passado. Lembro-me, nos meus tempos de adolescente, quando ia ao cinema entusiasmadíssimo para ver esses tipos de filme. Porém, ultimamente, heroísmo do tipo americano não me convence. Não fiquei nem um pouco entusiasmado com as três seqüencias do Homem-Aranha, apesar de dirigidos pelo ótimo Sam Rami e de todos os meus amigos afirmarem que eram sensacionais. Assisti e achei que não passava de mero thriller de aventura cheio de efeitos especiais. O mesmo poderia ser dito do último “Batman”. É um thriller de aventura recheado de efeitos especiais e edição frenética.
Li no blog de um amigo (Café Solilóquio) comentários muito interessantes a respeito deste filme. Ele escreveu que quando assistiu ao filme no cinema (eu assisti recentemente em DVD), as peripécias do Coringa eram aplaudidas com entusiasmo pela platéia, principalmente a cena em que o personagem explode o hospital. Para ele a reação do público era uma espécie de catarse perante o patrulhamento do “politicamente correto” que nos aflige. Comentei no blog que tinha reagido assim quando assisti no cinema a Batman II (eu acho que era o “II”) com o mesmo personagem do Coringa (interpretado por Jack Nicholson) quando este invadia um museu e detonava as obras de arte pichando todas. Era uma saudação à anarquia e um chute no bom comportamento.
Mas os tempos são outros e nada é por acaso. Quem precisa de heróis, precisa eleger um inimigo. O inimigo da vez, logicamente, é a China, o maior competidor atual de Tio Sam. Seus produtos são imprestáveis (a pistola do mafioso no tribunal não funcionou e o promotor americano desdenhou dizendo que da próxima vez o bandido usasse um produto made in USA). O território do inimigo pode ser violado tranquilamente para resgatar o bandido. Batman/Tio Sam não titubeia nem um pouco na hora de desrespeitar jurisdições.
Vejamos o personagem do Coringa: Ele realmente rouba as cenas do filme (talvez porque o Batman Christian Bale seja desprovido de carisma), mas não chega perto do Jack Nicholson, apesar de todos os elogios que Heath Ledger tenha recebido (inclusive o Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante). O Coringa não tem honra nem escrúpulo. Até aí tudo bem, os vilões geralmente não tem os têm. No entanto, há um detalhe importante: ele não tem ideal. Ele não luta por dinheiro, por vingança ou por ódio, só pretende a anarquia e a destruição da ordem. Pior, é tachado de TERRORISTA em algum momento do filme. Ele é o agente do caos e se alimenta do medo. Nestes tempos pós-11 de setembro a mensagem é clara. Os terroristas não possuem motivação política e não lutam por nenhum ideal revolucionário. Só querem interferir na ordenação do mundo e estabelecer o caos! Alfred, o mordomo (Michael Caine), nos seus tempos de mercenário na África, lidou com um tipo assim. Bruce Wayne pergunta ao seu empregado – “Como vocês conseguiram pegá-lo?”. Alfred responde: - “Queimamos a floresta inteira!” Não foi esta a atitude dos EUA no Iraque?
O Cavaleiro das Trevas, apesar da fotografia luminosa e colorida, aprofunda a morbidez e a escuridão da alma humana. Confirma que os fins justificam os meios e acredita que heróis ainda podem fazer a diferença diante da podridão do mundo. Mas quem precisa de heróis? Eles estão mortos e, no final, são sempre os Coringas que continuam rindo, um riso que não se desfaz...
O CAÇADOR DE PIPAS
(The Kite Runner) EUA, 2007 – Direção: Marc Forster
Você comeria terra por seu amigo? Baseado no romance de Khaled Hosseini, O Caçador de Pipas é um filme formidável. Fala de dois amigos que crescem juntos nas ruas de Cabul nos anos 70, antes da invasão soviética no Afeganistão. Uma amizade desigual e até certo ponto sem reciprocidade entre dois meninos em extremos opostos da sociedade, meninos estes separados pela História, pela religião, pelos costumes e pelas convenções sociais. É uma história humana, de anti-heróis, de pessoas que erram e tentam redimir seus erros.
Uma das características de O Caçador de Pipas são as metáforas. Elas aparecem o tempo todo, mas a metáfora-chave do filme é a cena do estupro. Nela temos um paralelo com a imagem de um país inteiro sendo estuprado, violentado por vários regimes enquanto a comunidade internacional assiste a tudo, impassível, covarde. O gênero humano talvez seja assim na maioria das vezes. Somos capazes de trair, mentir, sermos convenientes aos nossos interesses. Mas sabemos o que estamos fazendo. Não ignoramos nossos fracassos e nossas falhas e nem sempre somos capazes de enfrentar aquilo que nos assombra, pois a covardia tem seu preço e atormenta a mente do covarde. O tempo só piora as coisas.
O filme trata de anti-heróis e por isso é muito interessante. Os heróis são fáceis, presumíveis, chatos. Os anti-heróis são bem mais complexos, com muito mais profundidade psicológica, cheios de medos e de culpas. A jornada para curar essas feridas e superar as culpas é o que nos faz ver nesta história o reconhecimento das nossas falhas, dos nossos erros, vermos que não somos perfeitos. Todos nós fazemos coisas na vida pelas quais temos que nos redimir por não termos sido muito corajosos, ou pelo medo nos ter desviado, pois muito da nossa vida é guiado pelo medo. É a história da remissão dos erros e da tentativa de ser bom de novo, “para você, mil vezes”, pois ainda existe o amor incondicional.
As qualidades técnicas do filme também é um ponto alto. O roteiro de David Benioff respeita a estrutura do romance e manteve o que era essencial na história. Efeitos especiais na medida certa para criar aquele universo de sonho e realidade. O idioma persa/dari foi mantido dando um clima de autenticidade e sendo respeitada assim a cultura afegã. A direção de arte (Carlos Conti) e o figurino recriam muito bem a atmosfera e os personagens de todas as épocas e localizações retratadas no filme (Cabul nos anos 70, quando ainda não havia sido destruída pelos invasores russos e talibãs, o Afeganistão atual, após as invasões, etc.). A música (do compositor espanhol Alberto Iglesias) proporciona um clima perfeito.
Um filme internacional. Uma historia que rompe as fronteiras, pois ela retrata os sentimentos humanos, sentimentos universais. Um épico intimista. Uma história inesquecível.
Você comeria terra por seu amigo? Baseado no romance de Khaled Hosseini, O Caçador de Pipas é um filme formidável. Fala de dois amigos que crescem juntos nas ruas de Cabul nos anos 70, antes da invasão soviética no Afeganistão. Uma amizade desigual e até certo ponto sem reciprocidade entre dois meninos em extremos opostos da sociedade, meninos estes separados pela História, pela religião, pelos costumes e pelas convenções sociais. É uma história humana, de anti-heróis, de pessoas que erram e tentam redimir seus erros.
Uma das características de O Caçador de Pipas são as metáforas. Elas aparecem o tempo todo, mas a metáfora-chave do filme é a cena do estupro. Nela temos um paralelo com a imagem de um país inteiro sendo estuprado, violentado por vários regimes enquanto a comunidade internacional assiste a tudo, impassível, covarde. O gênero humano talvez seja assim na maioria das vezes. Somos capazes de trair, mentir, sermos convenientes aos nossos interesses. Mas sabemos o que estamos fazendo. Não ignoramos nossos fracassos e nossas falhas e nem sempre somos capazes de enfrentar aquilo que nos assombra, pois a covardia tem seu preço e atormenta a mente do covarde. O tempo só piora as coisas.
O filme trata de anti-heróis e por isso é muito interessante. Os heróis são fáceis, presumíveis, chatos. Os anti-heróis são bem mais complexos, com muito mais profundidade psicológica, cheios de medos e de culpas. A jornada para curar essas feridas e superar as culpas é o que nos faz ver nesta história o reconhecimento das nossas falhas, dos nossos erros, vermos que não somos perfeitos. Todos nós fazemos coisas na vida pelas quais temos que nos redimir por não termos sido muito corajosos, ou pelo medo nos ter desviado, pois muito da nossa vida é guiado pelo medo. É a história da remissão dos erros e da tentativa de ser bom de novo, “para você, mil vezes”, pois ainda existe o amor incondicional.
As qualidades técnicas do filme também é um ponto alto. O roteiro de David Benioff respeita a estrutura do romance e manteve o que era essencial na história. Efeitos especiais na medida certa para criar aquele universo de sonho e realidade. O idioma persa/dari foi mantido dando um clima de autenticidade e sendo respeitada assim a cultura afegã. A direção de arte (Carlos Conti) e o figurino recriam muito bem a atmosfera e os personagens de todas as épocas e localizações retratadas no filme (Cabul nos anos 70, quando ainda não havia sido destruída pelos invasores russos e talibãs, o Afeganistão atual, após as invasões, etc.). A música (do compositor espanhol Alberto Iglesias) proporciona um clima perfeito.
Um filme internacional. Uma historia que rompe as fronteiras, pois ela retrata os sentimentos humanos, sentimentos universais. Um épico intimista. Uma história inesquecível.
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"Deu" no Esporte Espetacular
COMÉDIA DE ERROS ESPETACULAR
Em cada momento o pugilista Erislandy Lara conta uma versão diferente sobre o que ocorreu em agosto/2007, quando tentou desertar durante o Pan e a Polícia Federal o localizou numa pousada de Niterói, juntamente com seu colega Guillermo Ringodeaux, despachando ambos a toque de caixa para Cuba.
O governo errou ao não dar tempo para que a OAB e a Anistia Internacional cumprissem seu papel de orientar os boxeadores, avaliando junto com eles as opções existentes e indicando-lhes a decisão mais adequada a seus interesses.
Se mesmo assim eles fizessem a escolha errada, azar. Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue, costumava dizer o Paulo Francis.
Mas, do jeito como as coisas se passaram, ficará sempre a suspeita de que o governo não fez tudo que deveria para evitar que tomassem uma decisão desastrosa.
O certo é que receberam tratamento de párias ao voltarem para casa. Foram impedidos de exercer sua profissão, tiveram de viver de biscates e fugiram novamente assim que puderam.
Nada disso se modificaria caso, como Lara declarou ao Esporte Espetacular, o refúgio lhe tivesse sido oferecido pelo presidente Lula em pessoa. Não é esse o papel de um presidente da República, exceto em repúblicas das bananas.
O auê virtual com que alguns celebraram a declaração do pugilista foi de uma ingenuidade atroz, somente comparável à do Depto. de Esportes da Rede Globo (que assumiu uma reportagem com evidente cunho político e dela se desincumbiu bem ao estilo dos marinheiros de primeira viagem).
O perspicaz Juca Kfouri manifestou de pronto seu ceticismo quanto à alegada participação de Lula no trato dessas miudezas.
Estava certo: o Planalto acabou mesmo desmentindo a versão de Lara, qualificada de "fantasiosa". Só o Ministério da Justiça e a Polícia Federal estiveram em contato com os pugilistas.
Mas, a evidente desarticulação do boxeador serve, pelo menos, para demonstrar que o governo tem atenuantes no episódio. Três outros esportistas cubanos, que sabiam o que queriam, levaram a bom termo a deserção e obtiveram o refúgio.
Lara e Ringodeaux não foram vítimas apenas das trapalhadas alheias, mas também das próprias.
Em cada momento o pugilista Erislandy Lara conta uma versão diferente sobre o que ocorreu em agosto/2007, quando tentou desertar durante o Pan e a Polícia Federal o localizou numa pousada de Niterói, juntamente com seu colega Guillermo Ringodeaux, despachando ambos a toque de caixa para Cuba.
O governo errou ao não dar tempo para que a OAB e a Anistia Internacional cumprissem seu papel de orientar os boxeadores, avaliando junto com eles as opções existentes e indicando-lhes a decisão mais adequada a seus interesses.
Se mesmo assim eles fizessem a escolha errada, azar. Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue, costumava dizer o Paulo Francis.
Mas, do jeito como as coisas se passaram, ficará sempre a suspeita de que o governo não fez tudo que deveria para evitar que tomassem uma decisão desastrosa.
O certo é que receberam tratamento de párias ao voltarem para casa. Foram impedidos de exercer sua profissão, tiveram de viver de biscates e fugiram novamente assim que puderam.
Nada disso se modificaria caso, como Lara declarou ao Esporte Espetacular, o refúgio lhe tivesse sido oferecido pelo presidente Lula em pessoa. Não é esse o papel de um presidente da República, exceto em repúblicas das bananas.
O auê virtual com que alguns celebraram a declaração do pugilista foi de uma ingenuidade atroz, somente comparável à do Depto. de Esportes da Rede Globo (que assumiu uma reportagem com evidente cunho político e dela se desincumbiu bem ao estilo dos marinheiros de primeira viagem).
O perspicaz Juca Kfouri manifestou de pronto seu ceticismo quanto à alegada participação de Lula no trato dessas miudezas.
Estava certo: o Planalto acabou mesmo desmentindo a versão de Lara, qualificada de "fantasiosa". Só o Ministério da Justiça e a Polícia Federal estiveram em contato com os pugilistas.
Mas, a evidente desarticulação do boxeador serve, pelo menos, para demonstrar que o governo tem atenuantes no episódio. Três outros esportistas cubanos, que sabiam o que queriam, levaram a bom termo a deserção e obtiveram o refúgio.
Lara e Ringodeaux não foram vítimas apenas das trapalhadas alheias, mas também das próprias.
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