COMÉDIA DE ERROS ESPETACULAR
Em cada momento o pugilista Erislandy Lara conta uma versão diferente sobre o que ocorreu em agosto/2007, quando tentou desertar durante o Pan e a Polícia Federal o localizou numa pousada de Niterói, juntamente com seu colega Guillermo Ringodeaux, despachando ambos a toque de caixa para Cuba.
O governo errou ao não dar tempo para que a OAB e a Anistia Internacional cumprissem seu papel de orientar os boxeadores, avaliando junto com eles as opções existentes e indicando-lhes a decisão mais adequada a seus interesses.
Se mesmo assim eles fizessem a escolha errada, azar. Quem é burro, pede a Deus que o mate e ao diabo que o carregue, costumava dizer o Paulo Francis.
Mas, do jeito como as coisas se passaram, ficará sempre a suspeita de que o governo não fez tudo que deveria para evitar que tomassem uma decisão desastrosa.
O certo é que receberam tratamento de párias ao voltarem para casa. Foram impedidos de exercer sua profissão, tiveram de viver de biscates e fugiram novamente assim que puderam.
Nada disso se modificaria caso, como Lara declarou ao Esporte Espetacular, o refúgio lhe tivesse sido oferecido pelo presidente Lula em pessoa. Não é esse o papel de um presidente da República, exceto em repúblicas das bananas.
O auê virtual com que alguns celebraram a declaração do pugilista foi de uma ingenuidade atroz, somente comparável à do Depto. de Esportes da Rede Globo (que assumiu uma reportagem com evidente cunho político e dela se desincumbiu bem ao estilo dos marinheiros de primeira viagem).
O perspicaz Juca Kfouri manifestou de pronto seu ceticismo quanto à alegada participação de Lula no trato dessas miudezas.
Estava certo: o Planalto acabou mesmo desmentindo a versão de Lara, qualificada de "fantasiosa". Só o Ministério da Justiça e a Polícia Federal estiveram em contato com os pugilistas.
Mas, a evidente desarticulação do boxeador serve, pelo menos, para demonstrar que o governo tem atenuantes no episódio. Três outros esportistas cubanos, que sabiam o que queriam, levaram a bom termo a deserção e obtiveram o refúgio.
Lara e Ringodeaux não foram vítimas apenas das trapalhadas alheias, mas também das próprias.
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