Uma marca da Geração 1968 foi enveredar pela psicanálise, para entender melhor a forma de dominação imposta pelo capitalismo avançado.
Herbert Marcuse, principalmente, colocou a sociedade pós-industrial no divã, daí derivando conclusões utilíssimas para os movimentos revolucionários... que logo as deixariam de lado, voltando celeremente às crenças e posturas antigas, como se quisessem confirmar a crítica disparada por Caetano Veloso contra os energúmenos que vaiavam É Proibido Proibir: "Vocês vão sempre, sempre, matar amanhã o velhote inimigo que morreu ontem!".
O certo é que caiu em desuso falar na lógica perversa do capitalismo, denunciar suas tendências autofágicas e atribuir-lhe (como o filósofo Norman O. Brown fazia) o papel de anjo exterminador da espécie humana.
Mas, a nova crise global do capitalismo veio ao encontro das teses de Marcuse e O. Brown, num aspecto importantíssimo: o comportamento desatinado de cada empresa, tentando salvar-se sozinha e, com isto, contribuindo para o naufrágio geral.
Noutro dia mesmo abordei o comportamento ignóbil dos bancos que, beneficiados por medidas governamentais que lhes proporcionaram recursos para irrigar a economia, preferiram, isto sim, jogar a grana extra em seus próprios fundos de proteção contra os prejuízos que a inadimplência dos clientes lhes causará. Ou seja, aprofundam a recessão para reduzirem suas próprias perdas com a recessão... e que se danem o Brasil e os brasileiros!
A mesma insensatez se constata em três notícias desta semana:
A fusão entre os laboratórios farmacêuticos Merck e Schering-Plough, recém-anunciada, deverá resultar na demissão de 15% do quadro de funcionários (16.620 pessoas) para a formação da nova empresa. Um comunicado conjunto informa que "a prioridade será manter os melhores talentos de ambas" (ai dos demais!). Tanto a Merck como a Schering-Plough vão congelar suas contratações imediatamente.
O grupo petroquímico americano Dow Chemical anunciou que vai completar a aquisição da rival Rohm and Haas. A estimativa é que a compra provocará o corte de mais 3.500 postos de trabalho, a somarem-se aos 6.500 antes anunciados pelos dois grupos.
As montadoras brasileiras, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores, extinguiram 1.786 postos de trabalho em fevereiro/2009, embora a produção tenha aumentado 9,2% em relação ao mês anterior. O incentivo governamental para manter aquecido o mercado automobilístico não afugentou o passaralho. As vagas eliminadas nos últimos quatro meses já somam 7.769.
Conclusão óbvia: as corporações não estão nem aí para os esforços de superação da crise. Querem é posicionar-se para o day after, pretendendo sair melhor da recessão do que estavam ao nela entrarem. E atiram insensivelmente seres humanos na rua da amargura, quando mais difícil será conseguirem nova colocação.
E se a recessão não terminar, mas sim aprofundar-se cada vez mais? De que lhes adiantará essa faina repulsiva para ocupar os melhores camarotes, caso o navio afunde?
Tal comportamento certamente se repetirá quando a humanidade estiver enfrentando o gravíssimo desafio das alterações climáticas e outros que virão por aí.
Daí a minha convicção de que, com o salve-se quem puder! capitalista, ninguém se salvará.
Os seres humanos terão de redescobrir a solidariedade e a comunhão de esforços, no momento mais crítico e da pior maneira possível, se quiserem sobreviver como espécie.
Texto de Celso Lungaretti, postado em NÁUFRAGO DA UTOPIA(veja este blog)
É isso aí meu irmão, boca no trombone! Estamos acompanhando e, a música aqui é de primeira.
ResponderExcluirLuiz Moura
Obrigado Luiz! O blog "Língua de Trapo" também é de primeira!. Parabêns!
ResponderExcluirObrigado Luiz Moura. O blog "Língua de Trapo" também é de primeirissima! Parabêns!
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