(The Dark Knight) EUA, 2008 – Direção: Christopher Nolan
Confesso que relutei bastante em assistir ao último filme do Batman, O Cavaleiro das Trevas. Meus tempos de filme de super-heróis já tinham passado. Lembro-me, nos meus tempos de adolescente, quando ia ao cinema entusiasmadíssimo para ver esses tipos de filme. Porém, ultimamente, heroísmo do tipo americano não me convence. Não fiquei nem um pouco entusiasmado com as três seqüencias do Homem-Aranha, apesar de dirigidos pelo ótimo Sam Rami e de todos os meus amigos afirmarem que eram sensacionais. Assisti e achei que não passava de mero thriller de aventura cheio de efeitos especiais. O mesmo poderia ser dito do último “Batman”. É um thriller de aventura recheado de efeitos especiais e edição frenética.
Li no blog de um amigo (Café Solilóquio) comentários muito interessantes a respeito deste filme. Ele escreveu que quando assistiu ao filme no cinema (eu assisti recentemente em DVD), as peripécias do Coringa eram aplaudidas com entusiasmo pela platéia, principalmente a cena em que o personagem explode o hospital. Para ele a reação do público era uma espécie de catarse perante o patrulhamento do “politicamente correto” que nos aflige. Comentei no blog que tinha reagido assim quando assisti no cinema a Batman II (eu acho que era o “II”) com o mesmo personagem do Coringa (interpretado por Jack Nicholson) quando este invadia um museu e detonava as obras de arte pichando todas. Era uma saudação à anarquia e um chute no bom comportamento.
Mas os tempos são outros e nada é por acaso. Quem precisa de heróis, precisa eleger um inimigo. O inimigo da vez, logicamente, é a China, o maior competidor atual de Tio Sam. Seus produtos são imprestáveis (a pistola do mafioso no tribunal não funcionou e o promotor americano desdenhou dizendo que da próxima vez o bandido usasse um produto made in USA). O território do inimigo pode ser violado tranquilamente para resgatar o bandido. Batman/Tio Sam não titubeia nem um pouco na hora de desrespeitar jurisdições.
Vejamos o personagem do Coringa: Ele realmente rouba as cenas do filme (talvez porque o Batman Christian Bale seja desprovido de carisma), mas não chega perto do Jack Nicholson, apesar de todos os elogios que Heath Ledger tenha recebido (inclusive o Oscar póstumo de melhor ator coadjuvante). O Coringa não tem honra nem escrúpulo. Até aí tudo bem, os vilões geralmente não tem os têm. No entanto, há um detalhe importante: ele não tem ideal. Ele não luta por dinheiro, por vingança ou por ódio, só pretende a anarquia e a destruição da ordem. Pior, é tachado de TERRORISTA em algum momento do filme. Ele é o agente do caos e se alimenta do medo. Nestes tempos pós-11 de setembro a mensagem é clara. Os terroristas não possuem motivação política e não lutam por nenhum ideal revolucionário. Só querem interferir na ordenação do mundo e estabelecer o caos! Alfred, o mordomo (Michael Caine), nos seus tempos de mercenário na África, lidou com um tipo assim. Bruce Wayne pergunta ao seu empregado – “Como vocês conseguiram pegá-lo?”. Alfred responde: - “Queimamos a floresta inteira!” Não foi esta a atitude dos EUA no Iraque?
O Cavaleiro das Trevas, apesar da fotografia luminosa e colorida, aprofunda a morbidez e a escuridão da alma humana. Confirma que os fins justificam os meios e acredita que heróis ainda podem fazer a diferença diante da podridão do mundo. Mas quem precisa de heróis? Eles estão mortos e, no final, são sempre os Coringas que continuam rindo, um riso que não se desfaz...
Análise impressionante de um ponto de vista que eu não considerei, grato pela breve porém inspiradora leitura.
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