quinta-feira, 5 de março de 2009

O CAÇADOR DE PIPAS

(The Kite Runner) EUA, 2007 – Direção: Marc Forster

Você comeria terra por seu amigo? Baseado no romance de Khaled Hosseini, O Caçador de Pipas é um filme formidável. Fala de dois amigos que crescem juntos nas ruas de Cabul nos anos 70, antes da invasão soviética no Afeganistão. Uma amizade desigual e até certo ponto sem reciprocidade entre dois meninos em extremos opostos da sociedade, meninos estes separados pela História, pela religião, pelos costumes e pelas convenções sociais. É uma história humana, de anti-heróis, de pessoas que erram e tentam redimir seus erros.
Uma das características de O Caçador de Pipas são as metáforas. Elas aparecem o tempo todo, mas a metáfora-chave do filme é a cena do estupro. Nela temos um paralelo com a imagem de um país inteiro sendo estuprado, violentado por vários regimes enquanto a comunidade internacional assiste a tudo, impassível, covarde. O gênero humano talvez seja assim na maioria das vezes. Somos capazes de trair, mentir, sermos convenientes aos nossos interesses. Mas sabemos o que estamos fazendo. Não ignoramos nossos fracassos e nossas falhas e nem sempre somos capazes de enfrentar aquilo que nos assombra, pois a covardia tem seu preço e atormenta a mente do covarde. O tempo só piora as coisas.
O filme trata de anti-heróis e por isso é muito interessante. Os heróis são fáceis, presumíveis, chatos. Os anti-heróis são bem mais complexos, com muito mais profundidade psicológica, cheios de medos e de culpas. A jornada para curar essas feridas e superar as culpas é o que nos faz ver nesta história o reconhecimento das nossas falhas, dos nossos erros, vermos que não somos perfeitos. Todos nós fazemos coisas na vida pelas quais temos que nos redimir por não termos sido muito corajosos, ou pelo medo nos ter desviado, pois muito da nossa vida é guiado pelo medo. É a história da remissão dos erros e da tentativa de ser bom de novo, “para você, mil vezes”, pois ainda existe o amor incondicional.
As qualidades técnicas do filme também é um ponto alto. O roteiro de David Benioff respeita a estrutura do romance e manteve o que era essencial na história. Efeitos especiais na medida certa para criar aquele universo de sonho e realidade. O idioma persa/dari foi mantido dando um clima de autenticidade e sendo respeitada assim a cultura afegã. A direção de arte (Carlos Conti) e o figurino recriam muito bem a atmosfera e os personagens de todas as épocas e localizações retratadas no filme (Cabul nos anos 70, quando ainda não havia sido destruída pelos invasores russos e talibãs, o Afeganistão atual, após as invasões, etc.). A música (do compositor espanhol Alberto Iglesias) proporciona um clima perfeito.
Um filme internacional. Uma historia que rompe as fronteiras, pois ela retrata os sentimentos humanos, sentimentos universais. Um épico intimista. Uma história inesquecível.

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